A cada passo que eu vejo você dar sinto como se algo dentro de mim morresse. E de fato está morrendo. Todos os planos que construímos juntos durante anos estão se desfazendo em questão de segundos diante de nossos olhos, e tudo que posso fazer é deixar que você vá em busca do seu futuro enquanto o nosso se torna cinzas.
Talvez eu devesse correr atrás de você, mas algo dentro de mim me impede de fazê-lo, e mesmo sem querer eu te deixo partir para que possa tentar ser feliz outra vez, mesmo que isso custe a minha felicidade, mesmo que seja nos braços de outra pessoa que não irá amá-la como a amo. Todavia, é o seu futuro que está em jogo, e por mais que eu almeje não consigo ser demasiado egoísta ao ponto de implorar para que fique.
Ao observá-la uma última vez, sigo um caminho incerto, indeciso e cruel. O que houve entre nós para acabarmos assim? Talvez eu soubesse a resposta, mas preferia ter ouvido dos teus lábios o que tanto te afligia ao ponto de decidirmos seguirmos caminhos separados. Preferia que tivesse gritado, quebrado os seus vasos de porcelana favoritos, ou me expulsado do nosso quarto, qualquer coisa, menos que tivesse ficado em silêncio.
Sem perceber, acabo parando em frente à praça onde nos conhecemos, e consequentemente, a mesma praça onde pedi sua mão em meio a tantos olhares curiosos. Talvez você não se lembre, mas eu estava tremendo dos pés à cabeça, literalmente, com medo do famoso “não” que não houve. E depois disso, tudo começou a mudar.
Eu aprendi a amar alguém com todos seus defeitos e qualidades. Quantas foram às vezes que surtei, descontei minhas frustrações em você, e quis desaparecer como se o mundo girasse ao meu redor?! Pacientemente você se manteve ao meu lado, me ouvindo, me aconselhando, me confortando. Mesmo nas vezes que não havia merecimento você se manteve firme ao meu lado, e ali ficou até eu me recompor e voltar à realidade.
Aprendi a reconhecer os pormenores da vida, a sorrir com as coisas mais simples, a sonhar com um futuro compartilhado. Aprendi a ser feliz novamente, mesmo que tenha durado tão pouco comparado com o desejado.
Quando fecho os meus olhos, consigo ver nitidamente todos os momentos que passamos juntos: das inúmeras conversas descontraídas com a intenção de tirar risadas sinceras, de cada promessa de um amanhã melhor, de cada preocupação por qualquer coisa. Lembro-me de tudo, como se esses momentos tivessem acontecido ontem.
Sei que será difícil esquecer essa dor, ainda mais depois de te ver partir escolhendo ser feliz sozinha, quebrando a nossa principal promessa que era de ficarmos ao lado um do outro independente do que viesse a acontecer. Hoje me arrependo de não ter conseguido te fazer feliz como nos primeiros momentos que vivemos juntos, de várias vezes ter duvidado do seu amor e da sua fidelidade, e de ter te sufocado por tanto tempo.
A verdade é que eu te queria comigo para sempre, e acabei te sufocando por medo de te perder. E perdi.
Todavia, quando penso no que vivemos, fecho os olhos, me perco no tempo. Para mim, ainda não acabou. Eu sei que esse amor continua intacto em nossos corações, e que toda essa mágoa rotineira passará com o passar dos dias. Não irei correr atrás de você, te concederei todo o tempo do mundo para fazê-la esquecer dos nossos momentos ruins.
Mas enquanto esse dia não chegar, a única coisa que posso fazer é agradecer. Por me fazer feliz, por me ensinar a amar, por me dar uma nova vida... Obrigado.