Toda chuva fede a morte
e na mortalidade dos pequenos órfãos me felicito
e na inanidade de seus choros me excito
e na desgraça dos mais desgraçados penso, sozinho e sorrindo:
“ao menos não sou eu o mais infeliz de todos.”
E toda neblina relembra nossas derrotas
e na incapacidade de meus amigos me encho de tremores
e na solidariedade de todos os cânceres implodo com amores
e sob a fumaça de todo incêndio reflito, sozinho e sorrindo:
“ao menos não sou eu o mais aniquilado de todos.”
E todas as águas são cor de afogamento
e na realidade de minhas ideias me desiludo com constância
e na enfermidade de meus abismos reconheço minha arrogância
e entre a trapaça de estar vivo decido, sozinho e perdido:
“ao menos já não sou eu o mais iludido de todos”
e morro.