Nota oito: Ser mais original
Aproximava-se cada vez mais perto do montinho, que dividia as duas estradas com diferentes destinos, um garoto de madeira com um chapéu de miolo de pão. Este não vinha cantando nenhuma canção ou poesia, e nem pulando as pedrinhas no meio do caminho, levadas da beira do rio até ali pelo forte vento da noite passada.
Encima do montinho, ficava um tosco espantalho com uma grande cabeça de corvo, quem o fizera tinha em mente que aquele boneco de palha espantaria os que cruzassem com ele, causando que as vitimas nunca retornassem à frente dele; o que infelizmente não acontecia, não sempre. O garoto, que neste texto o nome não é e nem será citado, parou na frente do espantalho e moveu sua cabeça em direção aos dois caminhos, observando cada um com muito calma e atenção. As estradas eram negras e sombrias, possivelmente realizadas assim para confundir quem desejasse escolher o caminho mais feliz e mais seguro. Um bom fato é que nem o espantalho sabia quais caminhos levariam ao bem e ao mal, se é que era assim mesmo que funcionava.
- O que está esperando? – disse o espantalho direcionando a sua cabeça de corvo ao menino – Escolha qualquer caminho, ambos levarão você ao mesmo destino mesmo, aliás, o destino que você certamente não quer para a sua vida.
- Achas que me apavora? Devo lhe informar que você está muito errado, todos sabem que você é bobo e tosco. – retrucou o garoto que não estava para conversa – E me deixe pensar, não quero sem querer escolher o caminho para o inferno. – O espantalho olhou para o menino com os seus olhos de corvo saltados e disse:
- Eu já te falei, os dois caminhos te levarão a um lugar bem pior que o inferno, e neste vivem ursos, raposas mancas, gatos cegos, lobos malvados, ladrões de crianças e...
- Não acredito em bonecos traiçoeiros de palha! – gritou o garoto mal educado interrompendo a fala do outro, e em seguida deu alguns passos à estrada que tinha escolhido.
Assistindo a marionete caminhar pela estrada mais escura, onde no fim encontraria uma pequena casa de mármore, o espantalho pensou no porquê de continuar tentando avisar as crianças, que chegavam até ele pela incompetência dos pais que deixavam seus filhos livres nos campos litorâneos à floresta, dos males que havia depois do fim dos dois caminhos, afinal, quaisquer que fossem as suas palavras elas nunca o davam ouvido.
Não foi diferente com a Chapeuzinho, com a Cachinhos, e nem com os três porcos gordos, não seria com o garoto de madeira.