Certa vez, ouvi um ressoar estridente de uma voz fina. Fui averiguar quem era a dona deste som irritante e deparei-me com uma garota alta, magra, branca, usando uma blusa decotada e um shortinho parecendo uma calcinha. Nem precisei me aproximar para escutar melhor o que ela estava falando, pois suas reclamações eram tão altas que se dava para ouvir do outro lado do mundo.
− Como assim não posso usar shortinho?! Roupa não dignifica alguém e, muito menos, impede-me de estudar! – ponderava ela, enquanto batia os pés no chão de cimento, cruzava os braços e emburrava o rosto.
Todos ao redor da adolescente a olhavam com descrença, inclusive eu.
− Desculpe-me, Rosana, mas a escola é um lugar em que se faz necessário vestir-se adequadamente, e não com roupa informal. –Respondeu a diretora, suspirando – Temos um uniforme escolar. Caso o calor lhe pegue como problema, temos uma vestimenta específica para este tipo de incômodo. E esta não é um shortinho.
− Nada disso! Não querem deixar porque sou mulher! – Esperneou, arregalando os olhos.
Sério, essa garota cansa.
A diretora esfregou a têmpora, tomou fôlego e disse de uma vez:
− Rosana, pare de ser chata! Como não deixamos garotos usarem bermudas, também não deixamos garotas usarem short! É tão difícil entender isto?
Rosana ficou estática e saiu com raiva; entrementes, os outros alunos riam dela.
É minha, querida, gente exagerada tem razão em nada.