A face branca
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 19/10/16 14:52
Tags: Halloween
Avaliação: 9
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 9
Comentários: 7
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Palavras: 959
[Texto Divulgado] "Não Pare de Olhar" Uma mulher, isolada em seu apartamento, começa a acreditar que está sendo observada por alguém no prédio em frente. A paranóia começa a crescer levando o limite entre sanidade e loucura se tornar cada vez mais tênue.
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único A face branca

O velho jogo de tabuleiro esteve guardado no fundo de um dos armários do porão por mais de duas décadas e de lá só saiu quando Maria Alice o achou e decidiu se divertir com ele. Ela convidou Margarida e Joana, suas colegas de balé, para brincarem com ele, pois parecia ser infinitamente mais macabro daquilo que estavam acostumadas praticar em suas aulas. Assim, como já era de praxe, se reuniram numa sexta-feira à noite e, em vez de assistirem filme de terror até altas horas, sentaram-se sobre o tapete da sala e preparam-se para jogar. Elas estavam muito empolgadas, pois a caixa do tabuleiro era simples e completamente negra, o que dava um ar tenebroso ao jogo. No interior da caixa, encontraram um tabuleiro cheio de letras dispostas aletoriamente, um pequeno copo de plástico e um pequeno manual, o qual continha um quadrado formado por quatro cruzes invertidas impresso e no seu interior estavam as instruções do jogo.

Joana, um pouco assustada com os desenhos presentes no manual, colocou o tabuleiro entre elas e segurou o copo em sua mão, enquanto Margarida, a mais ansiosa para começar o jogo, lia as instruções em voz alta, as quais eram: colocar o copo no centro do tabuleiro; colocar o dedo indicador da mão direita de todos os participantes sobre o copo; seguir a instrução que for dada. Não havia nada além disso escrito, o que deixou as meninas levemente confusas, mas não o suficiente para não darem continuidade à brincadeira. Maria Alice sorria, Joana tremia e Margarida estava com os olhos arregalados quando colocaram os dedos sobre o copo, o qual começou a se mexer instantaneamente. As meninas reagiram da mesma forma: com um grito assustado e tirando os dedos sobre o copo, o qual parou instantaneamente. Joana não queria dar seguimento àquilo que parecia ser coisa de outro mundo, mas foi convencida a continuar pelas demais. Assim, colocaram os dedos novamente sobre o copo, o qual voltou a se mexer, e acompanharam seu movimento.

Delicadamente, o copo se moveu de letra em letra. As meninas estavam extremamente concentradas e ansiosas para ver quais as instruções seriam passadas. O copo mudou de direção por oito vezes, até parar na letra “A”.

— Sobreviva? Que instrução é essa? — indagou confusa Maria Alice.

Sem dar chances das as amigas comentarem sobre a instrução, uma forte rajada de vento repentina abriu as janelas da sala, as quais bateram com força nos móveis próximos e provocaram uma enxurrada de cacos de vidro. As lâmpadas da sala começaram a zumbir até explodir, o que fez levantar pequenas, mas fétidas labaredas nos suportes; as louças caíram dos armários, aumentando a quantidade de objetos cortantes no recinto; a televisão, até então desligada, ligou-se e os canais passavam sozinhos. As meninas estavam apavoradas com os acontecimentos sobrenaturais que presenciavam; procuraram gritar para pedir ajuda, mas as vozes não ecoavam pelo ambiente; sentiram seus corações palpitarem cada vez mais rápidos e sua pele ficar cada vez mais encharcada por suor. Procuraram reagir, mas paralisaram quando uma gargalhada grossa e continua tomou conta do ambiente.

As três voltaram seus olhos ao espelho sobre a lareira e viram uma face branca, que, conforme a intensidade da gargalhada aumentava, ficava maior. Ela era completamente branca, não havia nenhuma linha de expressão e possuía somente uma grande boca, a qual claramente sorria. O desespero pelo desconhecido foi transformado em desespero por sobrevivência quando a face atingiu o seu tamanho máximo no espelho. O jogo tinha começado! Um forte desejo de morte tomou a alma das meninas. Elas viram que assim, eliminando seus adversários, teriam maiores chances de sobrevivência.

Em um movimento rápido, Joana pulou sobre Maria Alice com a clara intenção de arrancar sua garganta com uma mordida. Margarida pegou o maior caco de vidro que tinha no chão e partiu determinada em perfurar as adversárias até a morte. As três se agrediam de forma violenta e irracional, completamente possuídas pelo desejo de morte. Golpes foram capazes de cortá-las profundamente, o que tornou o local vermelho de sangue. Enquanto a crueldade dos golpes aumentava, a gargalha da face branca se tornava mais intensa. O fim do jogo se aproximou, quando Margarida acertou com um caco de vidro a barriga de Joana, o que causou profundo corte e permitiu que as vísceras saíssem. Maria Alice, se aproximou de Joana por trás e com um chute a arremessou para a lareira, onde ela teve seu corpo consumido pelas chamas até a morte.

Com a morte das amigas, a racionalidade de Maria Alice voltou, o que fez ela entrar em forte estado de choque. Ela olhava os corpos mutilado e incinerado daquelas que convidou para se divertir, o que fazia seu coração se retorcer de dor. Ela estava caída, com a barriga para cima e inundada de sangue a lágrimas. No entanto, ela ainda conseguiu reagir com desespero, quando notou que a face branca estava sobre ela. Aquele ser monstruoso saíra do espelho e agora pairava, mudo e sorridente sobre sua cabeça. Maria Alice tentou acerta-la com um soco, mas viu seu braço atravessar o ser fantasmagórico. Seu corpo tremia completamente, repleto de dor e medo, quando a face parou de sorrir para dizer:

— Você seguiu a instrução do jogo e por isso venceu. Eis aqui seu prêmio.

Assim a face branca voltou a abrir a boca, mas dessa vez não para sorrir. Com uma mordida rápida e certeira, ela arrancara olhos, orelhas, nariz e metade da face da Maria Alice. A face branca, ao ver outra criatura com face igual a dela, voltou a gargalhar intensamente, enquanto rumava ao interior do espelho. Nesse mesmo momento, o tabuleiro e os demais componentes voltaram para o interior da caixa, o que indicou que o jogo, enfim, estava finalizado.

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Apreciadores (9)
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Postado 23/10/16 11:57

Santa Nossa Senhora da Penha! E eu na inocência sem verificar os gêneros por achar que seria um texto descontraído ;-;

A pessoa além de saber fazer quebras de expectativa muitíssimo bem, ainda faz um conto de terror de fazer arrepios subirem pela coluna. Céus, coitada de Maria Alice, só estava cansada das rotinas de música clássica e exercícios repetitivos e quis se divertir um pouco (embora sua diversão foi bastante não-recomendada pelos universitários q).

Texto maravilhoso, Chico, não consegui desprender os olhos da estória por mais insana que ela se tornava :33

Postado 31/10/16 10:12

Ah, que santo comentário.

Pois é, a Maria Alice queria somente fazer algo diferente e deu no que deu, infelizmente.

Obrigado pelo comentário, Thái. Muito ele me alegra =D

Postado 19/10/16 15:41

Hey!

Lendo esse conto, retornei para minha infância quando eu, com medo, ficava escondido enquanto assistia minhas primas a jogarem o tão temido jogo do copo. Quem derá o jogo delas tivesse tido um andamento tão medonho como o descrito na presente obra.

Muito bom. Parabéns!

Postado 19/10/16 15:43

De fato. Essa brincadeira do copo aí já teve muita gente que brincou e acho que todos sairam vivos, hhehe (salvo a guria do Exorcista). E cara, acho que não seria lá tão bom assim um andamento tal como o desse conto, heheh.

Muito obrigado pelo comentário! Fico muito feliz com ele =D

Postado 19/10/16 15:47

É que eu nunca gostei muito das minhas primas haha

Abraço.

Postado 19/10/16 15:56

Hahahaha. Que barbaridade. Esse mês na AC tá fazendo todo mundo se revelar!

Postado 19/10/16 17:31

Caraaa, que história é essa... Fantástica e muito bem escrita. Meus parabéns Lecrivain

Postado 19/10/16 17:52

Tá boa mesmo? O que mais lhe chamou a atenção?

Bah, você nem imagina como fico feliz em ver uma reação tão enérgica quanto a sua! Muito obrigado!

Postado 20/10/16 19:01

Todo o envoltório do mistério com relação ao jogo e a descrição contida na história, tudo muito bem formulado. Gostei muito disso. Parabéns.

Postado 20/10/16 20:41

Ah! Que legal! Muito bom. Eu estava receoso mesmo que consegueria criar mistério e tampouco descrever os acontecimentos.

Obrigado novamente pelo comentário!

Postado 21/10/16 18:53

Que loucura, Chico! Hahaha

Achei bem legal, talvez isso desse um romance, uma continuação até que a "maldição" do jogo fosse quebrada, não sei, fiquei curioso para saber como/se isso poderia acontecer.

Muito bom o texto, Chico.

Postado 31/10/16 10:09

Opa, obrigado, Red. Fico feliz que tenha lido e gostado.

E sobre virar um romance, não, não vai acontecer, hehehe.

Postado 30/10/16 12:59

uhUUUHHUUHUH

Quero continuação desse, hein.

Postado 31/10/16 10:12

Hehehe, quero tanta coisa também....

Obrigado pelo comentário, Julih!

Postado 31/10/16 00:44

TABULEIRO OUIJA. CHICO, SEU MEDONHO, VAI ASSUSTAR A SUA DIGNÍSSIMA NAMORADA ASSIM E NÃO OS SEUS FIÉIS LEITORES! Sério, eu tô perturbada até agora de pouco. Coincidência ou não, estava vendo o filme do Ouija, e se eu já estava quase infartando de medo, esse texto foi o cúmulo (ainda mais porque eu estava lendo no escuro e minha mãe resolveu sair do quarto vestida de branco. Coincidência? Claro que não, tô sabendo a conspiração para me matar).

Juro que quando li o título tive a mesma impressão que a Thái: um texto descontraído. Bom, de fato foi, mas não para o lado que estávamos esperando. Simplesmente adorei o enredo e o modo como você conduziu a obra. Tá aí porque várias pessoas dizem para não brincar com o sobrenatural, mas obviamente sempre existe pessoas que não se importam e são céticas o suficiente para duvidar das forças malíginas.

A morte é a única prova disso. Lenta e torturosa. Lenta e inconsciente.

E concordo com os demais comentários: este texto mereceria virar um romance! Sério, estou curiosa quanto a Maria Alice. Seria ela a nova face branca, ou as pessoas a encontrariam sem o rosto? Como se seguiria? Tantas dúvidas... Mas é exatamente isso que é a magia envolta desse texto. Você despertou nossa curiosidade, agora arque com ela!

O que falar? Simplesmente maravilhoso! Essa única orientação do jogo, juntamente com esse ser sobrenatural que as induziram a ter uma sede de morte e matar para sobreviver foi fantástico. E quando esse ser da face brance saiu do espelho? Senhor. Desculpa, mas eu ri com a descrição dele parado e olhando para a Maria.

Parabéns, Chico. ♡

Postado 31/10/16 10:17

Hehehe, até tua mãe quer se livrar de ti? Bah, tua moral tá baixa, hein, Pam? Putz, tá na hora de ser mais gentil e prestativa, hehehe :p

É... brincar com o que não se conhece pode dar merda, tal como aconteceu aqui. Maria Alice e suas amigas se lascaram com isso.

Ah, que bom que o texto despertou uma grande curiosidade e tal, mas não terá continuação não, hehehe. Podem imaginar o que quiserem como desfecho dessa triste história, hehe.

Hehehehe, ah, pode rir. Eu também sempre rio quando escrevo, hehehe. E que bom que gostaste de como texto se desenvolveu, de como foi descrito as cenas e os personagens. Saber disso, muito me alegra.

Muito obrigado, Pam!

Postado 06/11/22 06:32

Que obra maravilhosa, muito bem escrita, assombrosamente perfeita em termos de descrição, também pude retornar à infância, me lembrando de jogos e medos infantis hahaha

Sangue, suor, gritaria, confusão e muita maldição, tudo que um amante do terror precisa pra ser feliz, num texto só!

Parabéns pela sua obra!