A boneca
Sorelly
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 16/10/16 01:00
Gênero(s): Drama Mistério Suspense
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 4min a 5min
Apreciadores: 8
Comentários: 6
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Palavras: 681
Livre para todos os públicos
Capítulo Único A boneca

- Segurem a paciente, ela está tentando fugir! Rápido, tragam a maca e as cordas, temos que sedá-la e amarrá-la imediatamente!

- Não, vocês não podem... Não entendem? Clarice precisa de mim, a minha filha...

- Sua filha morreu há dois meses!

- Não, ela está viva, está ali... CLARICE!

Isabel tentava ao máximo se soltar das mãos grossas e grandes dos enfermeiros. Esperneava, mordia, se debatia, mas de nada adiantava. Por que agiam daquela maneira, como se estivesse louca? Por que não a deixavam ver a própria filha? Por quê? A garota ficava se interpelando, enquanto tentava inutilmente se desvencilhar dos quatros homens à sua volta. Ela estava confusa, a única coisa que almejava era estar ao lado da filha novamente, então por que estava sendo repreendida?!

- Isabel, por favor, me escute! Há dois meses você sofreu um acidente juntamente com a sua filha, o caso foi tão grave que você ficou em coma até semana passada. Entretanto, sua filha faleceu, ela não aguentou os ferimentos... Eu sinto muito.

- Não! Não é verdade, por que insistem em mentir para mim?!

Em uma fração de segundos Isabel conseguiu escapar, acertando um chute na região íntima do enfermeiro que a segurava. Ela correu, correu como se sua vida dependesse disso. Resfolegando, ela para ante a uma sala, onde havia apenas uma coisa em meio ao lugar esbranquiçado.

- Não chore, Clarice, mamãe chegou, mamãe está aqui agora... Para sempre.

Isabel se senta no sofá, suspirando, com um sorriso jovial no rosto, pegando o que parecia ser um bebê com cachinhos dourados, presos com um laço prateado dentro de um vestido branco com detalhes da mesma cor que os laços, e calçando sapatilhas de cristal.

- Desculpa a mamãe, meu anjinho, prometo que ninguém mais vai nos afastar. – sussurrou Isabel, acariciando levemente os cachos.

A ação que se prosseguiu foi rápida demais para se processar: em um segundo Isabel estava com sua filha no colo, no instante seguinte, ela estava de pé sendo imobilizada por trás, com uma expressão perplexa que logo cedeu lugar a um feitio de ódio. Haviam tirado Clarice de seus braços protetores.

- Malditos! Seu filho da puta, devolva minha filha, AGORA!

Gritando, a mão foi como um leão para cima daquele que segurava seu tesouro. Não iam roubar-lhe a filha, não novamente. Todavia, antes que pudesse se defender, um dos enfermeiros acertou-lhe um soco na cara, tendo como reação a perda de equilíbrio. Caída, ela sentia suas mãos amarradas nas costas.

- Levem essa coisa para outro lugar antes que nos traga problemas demasiados.

Vendo sua filha sendo levada para um lugar desconhecido, Isabel suplica para que lhe deem a menina, mas ninguém lhe deu ouvidos.

- Acabou, Isabel...

Sedada, Isabel esperneava no chão, chorando e gritando, até que sua visão escureceu totalmente. No fim do corredor dois homens assistiam em silêncio o desespero de Isabel.

- Quem era aquela mulher?

- O nome dela é Isabel. Ela é uma das nossas pacientes mais jovens, tanto em idade quanto na hospedagem daqui. E pensar que uma mulher tão linda e jovem já sofre com problemas psiquiátricos. A mesma apenas têm vinte e três anos. Vinte e três, acredita?!

- Mas o que houve com ela?

- Ela não aceita a morte da filha que tinha cinco meses, e desde que acordou, por razões desconhecidas, ela pensa que aquela boneca é a filha dela, Clarice. E o pior de tudo: Isabel alega ouvir o choro e as tentativas de fala da criança. É lastimável, mas temos esperança que, com os tratamentos intensificados, ela melhore consideravelmente.

- Tomara, seria um desperdício uma moça tão jovem e linda perder a vida desta maneira.

Os dois homens dão uma última olhada para a sala, onde Isabel, já inconsciente, encontrava-se deitada em uma maca com os pulsos amarrados em cada lateral do equipamento. Ao longe, a boneca era jogada no lixo na esperança que Isabel não mais a encontrasse, mal sabendo que em sonhos e na mente perturbada da mesma, a imagem daquele brinquedo estaria vivo por mais tempo que se possa imaginar, assombrando a pobre mulher, iludindo-a com a esperança de segurar novamente a pequena filha.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Quanto tempo, não, sweetbunnies? Espero que tenham gostado do texto. Respeitem os diferentes, não julguem os outros antes de conhecê-los, amem o próximo e sejam o sorriso de alguém.

Tia Pão adora vocês, cupcakes de baunilha ♡

Apreciadores (8)
Comentários (6)
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Postado 16/10/16 18:00

Problemas psiquíatricos são meio mal vistos por mim, não por não achar que existem pessoas que não sofram com isso, mas sim por achar que pessoas usam isso para tentar dizer que o outro está errado.

No caso do texto, parece sim que a mulher esteja louca, mas não há porque tirar a boneca dela. Deixem-na ficar a boneca e viver em paz. Querer forçar a melhora assim, ou que se mude de pensamento por pura imposição é muito, mas muito nocivo, visto que só camufla o problema, parecendo que ele foi resolvido, mas na verdade não foi.

Pão, afortunadamente, estou tendo a honra de ler textos seus tão bons e profundos. Esse é mais um exemplo disso, em que você abusou da boa narrativa e da palavras fáceis para passar a mensagem desse belo enredo. Estás de parabéns!

Até o próximo!

Postado 16/10/16 01:51

Ao término do texto, somente um questionamento meio que ecoava em minha mente: o quão injusto e devastador pode ser a remoção da esperança de uma pessoa. E senti algo amargo se insinuar e instalar no meu peito por um momento.

É muito poderoso o tipo de terror/horror utilizado nesta obra: o calçado na nossa realidade, tão verossímel e possível que qualquer um de nós pode ser vitimado por ele. E com um texto primoroso, de narrativa fluida, intensa e repleta de emoções, a autora nos lança sem piedade em uma situação dramática e desgraçadamente trágica, onde o "Mal" vence e o pesadelo, além de não acabar, piora.

Como de praxe, senhorita Pam nos brinda com um conto belíssimo, robusto, envolvente e, ouso dizer, reflexivo (em alguns aspectos mais pesados/profundos aqui abordados). Simplesmente magnífico! Parabéns!

Atenciosamente,

Um see que também alucina com o que jamais será recuperado, Diablair.

Postado 16/10/16 08:41

Oiii!

Adorei o texto, ficou muito bom! :D Confesso que quando a Isabel dizia que estava a ver filha, imaginei um fantasma, nem me lembrei do título, hehehehe. Acho que é culpa do espírito de Halloween aqui da Academia. :D Também pensei por um momento que ela se fosse matar, para estar junto à filha. o_o Mas isso agora fica na imaginação mesmo. o/

Inteh!

Postado 17/10/16 12:22

Minha mente doente pensou em coisas pavorosas com relação a essa boneca e tals... Melhor deixar isso quieto. Pami, gostei muito do que você fez aqui! Parabéns.

Postado 17/10/16 22:14

Ainda estou esperando a boneca ter algo monstruoso, mas acho que não acontecerá (pelo menos agora)

Que pancada no estômago. Mas ela foi fantastica, de nada.

Postado 04/01/18 00:45

Caraca, que intenso!

A grande maioria dos transtornos é mal vista por muitas pessoas, o que é péssimo, tendo em vista que metade da população mundial possui algum em pequena ou grande escala. Choques emocionais podem mudar drasticamente a vida de alguém. Eu mesma passei por uma situação ruim ano passado e estou tendo que lidar, novamente, com a ansiedade. Imagina para ela que perdeu seu bem mais precioso?!

É muito desagradável ver como o julgo alheio é uma praga que consome todos os seres humanos. O mais irônico é que ele afeta sempre quem mais precisa de apoio e carinho.

Pensei que a boneca ia dar uma de Annabelle, mas me surpreendi com o que li. Meus parabéns, Pão ❤