- Segurem a paciente, ela está tentando fugir! Rápido, tragam a maca e as cordas, temos que sedá-la e amarrá-la imediatamente!
- Não, vocês não podem... Não entendem? Clarice precisa de mim, a minha filha...
- Sua filha morreu há dois meses!
- Não, ela está viva, está ali... CLARICE!
Isabel tentava ao máximo se soltar das mãos grossas e grandes dos enfermeiros. Esperneava, mordia, se debatia, mas de nada adiantava. Por que agiam daquela maneira, como se estivesse louca? Por que não a deixavam ver a própria filha? Por quê? A garota ficava se interpelando, enquanto tentava inutilmente se desvencilhar dos quatros homens à sua volta. Ela estava confusa, a única coisa que almejava era estar ao lado da filha novamente, então por que estava sendo repreendida?!
- Isabel, por favor, me escute! Há dois meses você sofreu um acidente juntamente com a sua filha, o caso foi tão grave que você ficou em coma até semana passada. Entretanto, sua filha faleceu, ela não aguentou os ferimentos... Eu sinto muito.
- Não! Não é verdade, por que insistem em mentir para mim?!
Em uma fração de segundos Isabel conseguiu escapar, acertando um chute na região íntima do enfermeiro que a segurava. Ela correu, correu como se sua vida dependesse disso. Resfolegando, ela para ante a uma sala, onde havia apenas uma coisa em meio ao lugar esbranquiçado.
- Não chore, Clarice, mamãe chegou, mamãe está aqui agora... Para sempre.
Isabel se senta no sofá, suspirando, com um sorriso jovial no rosto, pegando o que parecia ser um bebê com cachinhos dourados, presos com um laço prateado dentro de um vestido branco com detalhes da mesma cor que os laços, e calçando sapatilhas de cristal.
- Desculpa a mamãe, meu anjinho, prometo que ninguém mais vai nos afastar. – sussurrou Isabel, acariciando levemente os cachos.
A ação que se prosseguiu foi rápida demais para se processar: em um segundo Isabel estava com sua filha no colo, no instante seguinte, ela estava de pé sendo imobilizada por trás, com uma expressão perplexa que logo cedeu lugar a um feitio de ódio. Haviam tirado Clarice de seus braços protetores.
- Malditos! Seu filho da puta, devolva minha filha, AGORA!
Gritando, a mão foi como um leão para cima daquele que segurava seu tesouro. Não iam roubar-lhe a filha, não novamente. Todavia, antes que pudesse se defender, um dos enfermeiros acertou-lhe um soco na cara, tendo como reação a perda de equilíbrio. Caída, ela sentia suas mãos amarradas nas costas.
- Levem essa coisa para outro lugar antes que nos traga problemas demasiados.
Vendo sua filha sendo levada para um lugar desconhecido, Isabel suplica para que lhe deem a menina, mas ninguém lhe deu ouvidos.
- Acabou, Isabel...
Sedada, Isabel esperneava no chão, chorando e gritando, até que sua visão escureceu totalmente. No fim do corredor dois homens assistiam em silêncio o desespero de Isabel.
- Quem era aquela mulher?
- O nome dela é Isabel. Ela é uma das nossas pacientes mais jovens, tanto em idade quanto na hospedagem daqui. E pensar que uma mulher tão linda e jovem já sofre com problemas psiquiátricos. A mesma apenas têm vinte e três anos. Vinte e três, acredita?!
- Mas o que houve com ela?
- Ela não aceita a morte da filha que tinha cinco meses, e desde que acordou, por razões desconhecidas, ela pensa que aquela boneca é a filha dela, Clarice. E o pior de tudo: Isabel alega ouvir o choro e as tentativas de fala da criança. É lastimável, mas temos esperança que, com os tratamentos intensificados, ela melhore consideravelmente.
- Tomara, seria um desperdício uma moça tão jovem e linda perder a vida desta maneira.
Os dois homens dão uma última olhada para a sala, onde Isabel, já inconsciente, encontrava-se deitada em uma maca com os pulsos amarrados em cada lateral do equipamento. Ao longe, a boneca era jogada no lixo na esperança que Isabel não mais a encontrasse, mal sabendo que em sonhos e na mente perturbada da mesma, a imagem daquele brinquedo estaria vivo por mais tempo que se possa imaginar, assombrando a pobre mulher, iludindo-a com a esperança de segurar novamente a pequena filha.