Cara companheira, hoje eu te confesso que vivenciei um passado tão deprimente e solitário quanto uma tragédia fatídica e desconcertante.
Uma caixa revestida de luzes de Led. Um oxigênio maçante, uma neutralidade inexistente. Lágrimas teimavam em cair, molhar a camiseta, molhar as digitais dos dedos e embaçar as lentes de meus óculos. Assim que eu pisei naquele solo, algo em mim afundou-se tão profundamente em meu peito que até o presente momento não consegui expulsar. O relógio marca 22:17h. A cidade lá fora segue seu percurso e, aqui dentro de mim as memórias bailam acompanhadas da morte.
Sentada naquela poltrona, vendo vidas passar diante de meus olhos, observando comportamentos, pré-disposições, depressão e obscuridade. Todo aquele enredo me emudeceu, me entristeceu, me enraiveceu, me fez desejar a morte.
Inúmeras vidas perdidas, diversos olhares desconcertantes, toda uma existência marcada pela inexistência de si mesmo. O relógio corria tão rápido que parecia que eu tinha vivido mais três vidas em questão de segundos. Nos olhos alheios eu via o caos, a injuria, o medo, a luxuria, a ignorância, a vaidade, a cobiça, a inveja, o desprezo, a morte, a vida, a inteligência, a inocência, a fragilidade... todos os sintomas de uma alma doente lutando para ainda permanecer em vida e, ali me deparei com a inconstância de mim mesma, com os olhares voltados para mim ao mesmo tempo que eu me sentia invisível perante uma alienação desacerbada.
A vida das pessoas em função da vida de outras pessoas, um raciocínio continuado de um roubo de ideias alheias, vidas fingidas e sofridas sem a liberdade de ser você mesmo. Pessoas perambulavam com seus olhos tristes, com suas almas putrefatas, em passos lentos marchando para um declínio suicida. É medonho de se ver, foi tão amedrontador que sentada ali, desejei padecer em vida. Uma sintonia bizarra, milhares de áureas sem cor. Apenas uma definição para a cena de hoje à tarde, uma extensão do córtex ligado numa alienação exploratória. Nada a mais que isso. Nada mais deprimente do que isso. E para mim foi tão penoso, sentada ali, observando corpos rastejarem suas bundas sem significância para um plano de ação falho e repetitivo, toda uma liberdade de si mesmo enclausurada, toda uma esperança já despedaçada pelo tempo.
É estranho, todos os sentimentos do mundo pousaram em meu peito. Todos os pensamentos do universo patinavam em minha cabeça. Toda a solidariedade pelos iguais, esquecida no bolso de uma camisa velha qualquer. Um misto de depressão, raiva, medo e rancor, tomou conta de mim, me dominou tão completamente que tudo o que eu mais desejava era fugir para dentro de mim mesma e me perder na obscuridade plena de minhas memórias. Tudo o que eu avistava era pó e ossos. Pó e ossos. Eu era o pó, as pessoas em voltam era os ossos que tinham se desprendidos de suas próprias peles, e isso foi triste. Isso foi agoniante. Foi assustador. Me senti uma clandestina, caminhando rumo a uma terra prometida, porém, desgarrada e amaldiçoada pela ira de Deus. Eu não conseguia sentir amor, eu desejava reprimir o amor, eu sentia repulsa pelo afeto, eu sentia raiva de sorrisos felizes e abraços apertados, eu apenas desejava uma solidão plena e completamente só.
Não pude te abraçar quando me pediu, não pude te beijar quando me pediu. Eu apenas desejava a solidão e lágrimas. Álcool, muito álcool. Para estocar os sentimentos, para disfarçar as lágrimas, para não parecer fraca, para sumir de vez em mim. Ainda posso sentir a boca seca. Ainda possuo os olhos marejados. Ainda sinto enjoo sem motivos. Ainda sinto meu coração doer por necessidade de solidão eterna.
Não há nada que se possa fazer. Mais nada o que se explicar. Apenas lágrimas que rolam e digitais que servem de absorção para uma angustia sofrida.
Com amor,
Menina sofrida.