Nota sete: Não faça tudo sozinho.
A notícia da morte do Coins Douglas, perturbadora e sofrida pelos parentes dele, se espalhou como o bife mais gordo na churrascaria mais requisitada da cidade, a qual o nome não vem ao caso e nem se encaixa no contexto da história, o que também muitos vêm reclamar dele para mim.
De acordo com a fonte mais confiável do bairro: o dono dum site amador que disponibilizava, para quem se encorajasse a entrar em seu site, as fotos de todos os corpos sem vida dos recentes assassinatos; Lorn Ursulo fora a primeira pessoa que viu o corpo sem alma do Coins, e disse à polícia que, durante uma caminhada na praça de manhã cedo, passou do lado de uma vala de esgoto e enxergou Coins Douglas boiando na água suja e amarronzada daquela; este relato indicou a Márcio Galo, que sempre acreditava nas mais maldosas hipóteses, um claro assassinato debaixo da cidade, no esgoto, aonde ninguém, a não serem os ratos e micróbios que rondavam o local do crime, conseguiria presenciar o assassino sufocando Coins por meio de ininterruptos impulsos feitos na cabeça do menino, a qual as águas mais repulsivas da cidade engoliam e não cuspiam mais.
Os policiais relataram aos pais do morto que este passeava pela praça e acabou tropeçando e caindo na vala, e lá, vergonhosamente, se afogou com o lixo e a água nojenta que vinha das variadas descargas simultâneas (nojento) dos outros.
Márcio Galo fora o melhor amigo e quem aconselhava Coins desde a segunda série do ensino fundamental. O garoto, o qual era magro e moreno, sabia muito bem que seu amigo não seria tão tolo assim ao ponto de afogar-se com o esgoto, afinal, todos sabiam que o filho dos Douglas praticava natação e era um exímio nadador, possivelmente se tornando um atleta olímpico anos mais tarde. Márcio tinha certeza que os policias não compreendiam o que tinha acabado de acontecer, e que eles não eram capazes de perceber que o seu amigo tinha sido sufocado pelas mãos de um asqueroso assassino que trabalhava no sujo, mesmo estando tão nítido.
Na manhã seguinte, o filho dos Galo levantou da cama duas horas mais cedo do que o normal e encheu sua mochila de bugigangas inúteis com o intuito de parecer que ele estava se preparando para uma intimidadora aventura em um ambiente perigoso. Escondido da sua mãe, Márcio, ao sair de casa com a sua pesada mochila depois de tomar seu desjejum, não foi em direção ao colégio e tomou a estrada para a vala que o relato mencionava, motivado a resolver sozinho todo aquele misterioso caso que nem os detetives mais famosos chegavam próximo ao fim. Ao pisar a borda da superfície da descida que levava às correntes águas sujas do esgoto, o garoto moveu as suas pupilas ao canto dos olhos e observou o redondo túnel donde o lixo vinha. Ele tirou da bolsa um par de botas e calçou-as, jogando para longe os seus tênis caros e novos.
Lá embaixo, com as suas canelas submersas nas constantes ondas amarronzadas, ele permaneceu parado, atrapalhando algumas latas de refrigerante que vinham, com a corrente, se chocando contra as pernas do garoto e arranhando-as. Márcio não tinha em sua cabeça o que faria quando chegasse lá, e agora, que ali se encontrava, seu plano tinha acabado. No pensamento dele, ele iria aguardar o assassino chegar e quando este chegasse o mataria com os próprios punhos, mas o garoto não praticava nenhuma luta e não tinha trazido consigo uma faca ou qualquer objeto pontiagudo.
Depois de emergir da água e expressar ao céu vários pensamentos ofensivos contra os policiais, Márcio Galo subiu até a grama da praça, pegou a outra estrada e dirigiu-se ao colégio. O caso tinha acabado para ele, se bem que nem devia ter começado.