Na noite de 31 de Outubro, em uma velha cabana no meio da floresta, podia-se ouvir o choro de alguém. Não era um choro alegre e muito menos triste, era um choro de dor.
— Se acalme, pequena, vai passar logo. Que tal eu te contar uma história? Tenho certeza de que assim você irá se sentir melhor.
“Era uma vez... Uma linda menina, conhecida por todos como Chapeuzinho Vermelho. A garotinha ficou conhecida por tal nome devido a sua capa vermelha com capuz que ganhou de sua querida avó em um de seus aniversários.
Em um dia qualquer, a mãe da Chapeuzinho pediu para que ela fosse à casa de sua avó, levar uma cesta repleta de doces para a velha senhora. Antes que a menina sumisse de vista, a mãe avisou, mais uma vez, para não entrar no bosque, pois havia um lobo muito feroz por aquelas bandas.
E lá se foi Chapéu, saltitando alegremente enquanto cantarolava uma música linda e harmoniosa:
— Pela estrada afora, eu vou bem sozinha, levar esses doces para a vovozinha. A estrada é longa, o caminho é deserto e o Lobo Mau passeia aqui por perto...
Ó, pelos céus, a menina nunca foi de desobedecer a sua mãe, mas daquela vez seria diferente – se não a história seria muito chata de se contar -. Arrumou sua capa e agarrou com mais força a cesta de doces, para logo em seguida adentrar no bosque...”
O narrador foi bruscamente interrompido por mais um grito alto da mulher que estava deitada na cama.
— Tenha calma, minha pequena, não dói tanto assim. Por favor, não faça tanto drama, querida. Agora, onde eu estava? Oh, sim...
“A do capuz entrou na floresta mesmo sabendo que sua mãe a disse para não o fazer. Estava claro e a menina não via problema algum em ir pelo caminho mais curto. O lobo não iria aparecer ali, foi o que pensou a pobre garotinha. Mal sabia que, assim que pusera os pés naquele lugar, o senhor Lobo Mau já estava observando-a, pronto para dar o bote.”
Mais um grito ecoou e mais uma vez a história foi interrompida.
— Meu Deus, mulher, o que são meros objetos pontiagudos? Pare com isso! Que coisa mais ridícula. Controle-se! Minha parte favorita está chegando. Não ouse atrapalhar novamente!
“A menina não teve tempo de correr, o lobo estava prendendo-a no chão com suas enormes e sujas patas. O lenhador, que deveria aparecer nessa hora para salvar a vermelha, havia tornado-se o almoço daquele animal magnífico. Agora, a garotinha debatendo-se inutilmente ali no chão, seria o jantar.
Em apenas uma mordida, o bicho separou a cabeça da menina do corpo. O vermelho, que antes pertencia apenas a capa, espalhou-se por toda parte. O lobo conseguiu seu jantar e estava muito feliz. A menina irritante nunca mais iria cantar e todos morreram, menos o senhor Lobo Mau, é claro.
Fim.”
— E então, o que achou? É realmente uma linda história, certo? – Ria descontroladamente, tirando a fita da boca da mulher que estava amarrada na cama.
— Você é loco! Doente! Pare já com isso! – Mesmo amedrontada, amarrada e sangrando muito, tentou manter-se firme e calma.
— Sabe, decidi fazer de você a minha Chapeuzinho Vermelho da vez. – Disse calmamente, amolando sua faca favorita. — Achei a sua capa mais bonita que a das outras e por isso te escolhi. Isso é genial.
A mulher não sabia como havia chegado ali. Tudo que lembrava era de estar em uma festa a fantasia com suas amigas, precisamente na fila para um concurso de fantasias. A música era alta e alguém lhe ofereceu uma bebida. Sabia que não deveria, mas estava com muita sede e não podia simplesmente abandonar seu lugar na fila. Depois disso, a escuridão veio e quando acordou estava amarrada naquela maldita cama, com um louco psicótico lhe cortando e contando histórias sem nexo algum.
— Senhorita Chapéu, está na hora do Lobo Mau aqui te comer. – Primeiro arrancou um pedaço de carne do braço esquerdo da mulher e o colocou na boca, saboreando-o vagarosamente. — Estou tão feliz! Você é tão deliciosa quanto eu havia imaginado.
— Por favor, pare. Pare com isso e me deixe ir. – Em um último ato de desespero, implorou por sua vida.
— Eu tenho fome, senhorita. Você será o meu jantar! Não posso deixar o meu jantar fugir. Não posso! – Gritava doentiamente, enquanto levava sua faca para o pescoço da jovem. — Sou um lobo grande e não posso ficar sem comer. Preciso do meu jantar. Você será o meu jantar! – Estava transtornado, o sabor da carne de seu jantar havia despertado ainda mais o seu lado animalesco. Precisava comê-la. Ansiava loucamente. Necessitava urgentemente.
A enorme faca percorreu toda a extensão do pescoço daquela pobre e infeliz mulher, que estava no lugar errado e na hora errada. A Chapeuzinho Vermelho da vez havia perdido sua cabeça, igual na história que o Lobo Mau havia contado mais cedo.
As partes dela foram meticulosamente cortadas e limpas. Alguns pedaços de carne, dedos, olhos e língua foram para uma panela, e o resto foi parar em um enorme freezer. Enquanto preparava sua deliciosa sopa, refletia sobre sua preferência por mulheres. Segundo ele, o sabor era melhor e a carne era muito mais macia que a dos lenhadores.
E, sentando-se na poltrona favorita de sua falecida avó, o lobinho degustou sua sopa, pensando sobre sua próxima refeição e cantarolando, vez ou outra, uma música bem conhecida por si:
— Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau. Eu pego as criancinhas pra fazer mingau! Hoje estou contente, vai haver festança!
Tenho um bom petisco para encher a minha pança.