Nascemos, crescemos e assim dominamos a face de uma rocha morta, pacífica em sua inanidade de coisa, uma inconsciência letárgica e indolor. Expandimos a sensação, o sentimento e a sabedoria; mais precisamente: afundamos a pedra fria na massa esverdeada da impaciência e do ardor, sufocamos o inanimado com a sujeira da vida — cobrimos a asséptica superfície de um mundo antes sereno, chafurdando em lamacenta existência o que nunca pediu para ser tomado por qualquer vestígio de um existir… Somos um bolor, o primeiro sinal da podridão. Uma coletividade incompressível, indigna de benevolência, condenada à indiferença de qualquer irrealidade. Adormecidos em miragens claras continuamos a expansão de nossa praga, escondemo-nos dessa ideia tão velha quanto nosso próprio espírito rastejante: o parasitismo é a essência que guardamos, alimentamos. Não passamos de uma moléstia nas vísceras da escuridão… Que sofra aquele que acordar, que lamente aquele que provar da veracidade de seu papel coadjuvante, porém irrevogável, no mal absoluto — ervas daninhas não foram concebidas para questionar a própria cátedra. Não há valor; pois destruamos quietos, na ignorância; ou que a demência mais extrema nos permita o regozijo frente ao mais palpável e hediondo conhecimento de nós mesmos…