Bolor
Calígula
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/10/16 21:58
Gênero(s): Reflexivo
Tags: Humanidade
Avaliação: 9.67
Tempo de Leitura: 1min
Apreciadores: 4
Comentários: 3
Total de Visualizações: 767
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 194
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Baseado em algumas reflexões do personagem Liévin, do romance Anna Karenina, de Liev Tolstói.

Capítulo Único Bolor

Nascemos, crescemos e assim dominamos a face de uma rocha morta, pacífica em sua inanidade de coisa, uma inconsciência letárgica e indolor. Expandimos a sensação, o sentimento e a sabedoria; mais precisamente: afundamos a pedra fria na massa esverdeada da impaciência e do ardor, sufocamos o inanimado com a sujeira da vida — cobrimos a asséptica superfície de um mundo antes sereno, chafurdando em lamacenta existência o que nunca pediu para ser tomado por qualquer vestígio de um existir… Somos um bolor, o primeiro sinal da podridão. Uma coletividade incompressível, indigna de benevolência, condenada à indiferença de qualquer irrealidade. Adormecidos em miragens claras continuamos a expansão de nossa praga, escondemo-nos dessa ideia tão velha quanto nosso próprio espírito rastejante: o parasitismo é a essência que guardamos, alimentamos. Não passamos de uma moléstia nas vísceras da escuridão… Que sofra aquele que acordar, que lamente aquele que provar da veracidade de seu papel coadjuvante, porém irrevogável, no mal absoluto — ervas daninhas não foram concebidas para questionar a própria cátedra. Não há valor; pois destruamos quietos, na ignorância; ou que a demência mais extrema nos permita o regozijo frente ao mais palpável e hediondo conhecimento de nós mesmos…

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Notas de Rodapé

Não culpem ninguém...

Apreciadores (4)
Comentários (3)
Postado 04/10/16 22:56

Sinceramente, não sei se concordo ou não com esse pensamento. Acho que a maioria da podridão vem por ignorância e omissão, não por sermos podres. Acho que focamos nossas forças no que não mereceria nem nossa atenção. Sei lá, é complicado. Se vê tanta coisa boa para dizer que somos a escória desse planeta.

No mais, estimado Pablo, sua obra está excelente. São aulas de português, hehe. Parabéns e obrigado por nos dar a horna dessa leitura!

Postado 18/10/16 14:54

Eu mesmo não concordo, foi só uma elecubração sem propósito -- como basicamente tudo que escrevo ou penso. Achei que seria um bom tema para brincar com as palavras, só isso, haha.

Ah, penso que podridão não existe, é tudo uma ilusão, ou uma maquiagem das coisas em si mesmas (que não sustentam significado algum). Se fosse entrar no campo dos "horrores", etc., estaria mais propenso a pensar que maioria vem juntamente dos esforços por tornar o mundo um lugar "melhor". Caso deitássemos todos e passássemos a comer e dormir, mais nada, talvez essa Terra se tornasse quase um paraíso...

E muito obrigado, outra vez.

Postado 09/10/16 22:58

"Nós somos o bolor, o primeiro sinal da podridão." E... caiu o microfone!

Meus parabéns, isso está fantástico.

Postado 18/10/16 15:01

Pois muito obrigado!

Postado 12/10/16 11:52

Bolor tem sentimento...

Bem, foi o que vi uma vez navegando na internet hahaha. Muito bom, Pablo! Sério, não suma! xD

Postado 18/10/16 15:03

Então espero, de coração, que ele não se sinta ofendido com o texto, haha.