Minha alma seca.
Pouco a pouco.
Gota por gota.
Enquanto choro e lamento a pessoa que você espera que eu seja.
Dize-me que tenho uma pedra no peito, mas é ela que aperta dia após dia vendo teu olhar de total desprezo.
Por que fazes isso?
O que espera de mim?
Machuca-me com tuas palavras, com tuas ações e a falta dela, dizes-me que o amor molda, comporta, mas creio que machuca, pouco a pouco, ele destrói-nos.
Até quando terei que brincar de ser perfeito?
Até quando você vai brincar com as cordas que prendem-me a vida?
Faze-me marionete, ignora-me, ilude-me enquanto apenas seco a alma pouco a pouco deixando as lágrimas caírem.
O gosto salino é tão comum, nem dói mais dentro de mim, as lágrimas secam em minha face, apenas lamento o dia que tentei de fato adequar-me a tudo.
Saiba que estou cansado, mas ainda mantenho-me da mesma forma, pois é mais simples não fazer nada.
Julgue-me mais uma vez.
Estou à espera disso, pois é tudo que sabes fazer com total perfeição, é tudo que tem para mim: teu julgamento.
Julgue-me por me acomodar as tuas imposições.
Julgue-me por deixar-me ser manipulado.
Ainda não creio em nada.
Dize-me que tenho que ter fé, mas essa perde quando a tua boca a pronuncia.
As lágrimas ainda descem, são infinitas, mas ainda sinto a minha alma secar.
Acabaram-se os sonhos, os desejos e a vontade de seguir em frente.
Até mesmo a vontade de acabar com tudo acabou.
Sou apenas um boneco.
Perdi a vida quando deixei a sociedade me manipular.
Gota por gota as lágrimas secaram a alma e ficou apenas a minha carcaça.
Ainda quer que eu tenha fé?
Quero apenas a liberdade que tirou-me quando me prendeu, quando colocou essas cordas em mim.
Passo a passo...
Sorrio por que exigem e por que a alma secou, não tenho mais lágrimas.
Exige tanto de mim e nada fazes, enlouquece-me aos poucos quando submete-me às tuas concepções equivocadas.
Não consegue ver as lágrimas que secaram em minha face por que tornas-te cego a tudo a todos, vês apenas a si próprio.
Tão egoísta que mal consegue entender o que se passa à tua volta.
Diga mais uma vez que ama-me, enquanto tenta controlar tudo o que faço e o que desejo fazer.
Tu és-me um monstro e eu nem tenho forças para chamar-te assim, já que fizeste questão de secar minha alma e transformar meu coração em um bloco gelado.
Ainda tem coragem de chamar-me de frio, ainda grita comigo dizendo que o monstro sou eu e que já fez tudo por mim, diz que tudo que sou é por tua causa.
E juro-te que não vejo vantagem em tal coisa, pois já não reconheço a pessoa que fui um dia no espelho.
Talvez sejam os hematomas do teu amor.
Talvez sejam as lágrimas secas em meio aos roxos que deixaste.
Talvez seja a falta da alma.
Você deve estar certo, querido.
Como sempre faz questão de dizer: o monstro sou eu, pois enquanto perfuro teu peito com a faca da cozinha eu vejo meu reflexo em teus olhos e meus lábios sorriem em uma imagem manchada de vermelho escarlate.
Gota por gota.
A liberdade custou caro.