Neguei o seio da vida; fugi assustado dos rostos corados que me sorriam naquele lugar. Procurei numa sombra um refúgio qualquer, algum buraco em que enterrar meu corpo, aguardar pela morte estando já sepultado, esquecido da luz, escondido num lar onde o verão não me alcançaria, a brisa não poderia me abraçar… Sem gargalhadas ou suspiros, sem transfigurações ou desfiladeiros; ali simplesmente jazi — dopado na solidez de uma aceitação, indiferente, concreto como a cruz de ferro que demarca o heroísmo bravo, forte… inútil.
Não havia sangue em minhas veias. Eu não pertencia mais ao tempo: em meu coração pulsava um líquido imaterial, uma força desfeita, insípida, inofensiva. Minha carne não tinha vontade, era apenas a sequência amestrada de pequenos calafrios, uma lembrança desconexa dos sonhos calorosos de outrora — sussurros nas trevas de minha inconsciência, repetindo que meus músculos de cristal, por mais efêmeros que fossem, não seriam leves ao ponto de me elevar involuntariamente ao paraíso…
Restou-me um ritmo orgânico deturpado, não mais que uma cadeia de abstrações. Em palidez me desfiz, transmutei em pura anemia; e permaneci, a pele de vidro rachando sob o peso da mais fina atmosfera. As mãos diáfanas apertando, mas não rasgando, a terra; os dedinhos transparentes contorcendo em um movimento já sem vida, automático, inexpressivo dentro de sua incapacidade para a demonstração de qualquer êxtase, mera apoteose de impotências, uma representação profunda dos desejos dos cadáveres. E os olhos baixos, finalmente… tudo vendo, voltados para o negro manto da eternidade, fixos no horizonte da decomposição… sem nada captar.