A neve derreteu calmamente com o passar dos nossos dias. As canecas que antes vinham ferventes em chá, café e tantas outras coisas quentes para se tomar.
O campo uma vez branco lentamente se tornava verde, com migalhas de marrom surgindo pelos cantos. Eu me sentei na varanda, sentindo o vento que uma vez era tão violento, acariciar calmamente meus cabelos. Do meu lado, a cadeira de balanço ocupada rangia. Eu sabia que devíamos tê-la guardada no sotão.
O paraíso que outrora eu conhecia, passou a ser desconhecido. Com todas as mudanças da estação, eu nada podia fazer além de olhar aquele vasto e límpido novo local. Na verdade, não era novo, mas a primavera deveria se chamar novavera por suas atrações e mudanças nos lugares.
A cidade pelo qual passeavamos estava um pouco escorregadia pela água que antes era gelo, fui segurada pelo anjo que me acompanha, o vento balançou minha saia. Eu sorri para o nada. Logo você chegaria.
Sentei a beira da janela, como em toda primavera, você iria vir naquele grande desfile, eu iria te ver de longe, bem de longe, já que nunca poderia chegar sequer aos seus pés. Você, com sua bela cavalaria, eu com meu pequeno campo de pobreza.
Minha vida era boa. A sua era infinitamente melhor, mas a primavera vinha todos os anos para eu ter seu vislumbre e o local adquirir uma nova magia. Opa, você olhou para mim por alguns segundos.
- Belas flores. - Você sorriu.
Não sei que flores, já que elas nem brotaram ainda. Talvez fosse o meu sorriso sem sentido para o seu lado? Só sei que teria que voltar ao trabalho agora, minha vida não é ganha apenas por minha existência, mas a sua [existência] traz sentido a mim.