“Havia uma lenda romântica e triste sobre a morte. Um romance vivido pela distância onde as demonstrações de afeto eram lentas, porém eternas. O casal em questão, morte e vida, estavam fadados a viver seu amor dessa forma. Da primeira surgia a vida e ela entregava a si própria para a morte afim de ficarem juntos para sempre. Quem lhes fadou a viver desta forma? Ninguém sabe e, provavelmente, nunca saberá. O que sabemos é que vida e morte sempre ficaram e sempre ficarão juntos. Sempre viverão essa linda e dramática história de amor”.
— Merda. É a definição exata de alguém que tenha pensado alguma vez assim. — O homem fechou o livro abruptamente e o lançou na cômoda.
Inspirou lenta e pesarosamente com os dedos entre os cabelos fracos. Sua coluna encurvada demonstrando cansaço, suas olheiras aparentes denunciando a insônia e sua carteira vazia. Sinal de que tudo que podia fazer já foi feito.
Soltou o ar e se levantou da poltrona envelhecida. Caminhou até o leito onde o amor de sua vida agonizava e aplicou a injeção letal, cumprindo o seu último pedido.
— Na morte não existe arte. Não existe beleza. E é por isso que morte é “nada”.