Ar quente, meio-dia, sol escaldante.
Há horas andava nessas condições, cansada, com fome, com sede.
Pernas doíam, músculos ardiam, a garganta queimava.
Sentir o asfalto ferver seus pés descalços, era como sentir a mão do Demônio em sua pele.
O Demônio: seu primo, que a estuprara naquela manhã.
Avistou uma academia de Ballet.
Esperançosa de receber ajuda, bateu à porta.
Foi recebida e ajudada por uma moça, que dançava solitária.
Grandes olhos azuis, cabelo amarelo palha encaracolado, boquinha com brilho avermelhado, voz doce como mel.
-“És a visão de um oásis! Sinto borboletas na barriga... Tremores... Suor frio! Me apaixonei...”
Sophia foi muito bem cuidada, comeu, bebeu.
Não conseguia tirar os olhos de Daphnie, observando cada detalhe, encantada com a beleza e doçura da bailarina.
Observou a maquiagem muito bem feita, porém borrada por lágrimas já secas.
As delicadas curvas formadas pelos seios e pelo quadril.
As pernas, sapatilhas rosas sujas acinzentadas, braços, e uma peculiar fitinha de cetim escarlate amarrada no pulso esquerdo.
Conversaram durante horas. Sophia falante. Daphnie lacônica.
-Agradeço-te por tudo... Poderemos nos ver novamente?
-Se for de seu desejo...
Pensou:
-“Minha doce Daphnie... é de meu desejo, é de meu interesse e é de meu amor...”