"Paciência requer prática", já li essa frase em alguma obra famosa, mas agora não me recordo o nome. Paciência sempre foi uma virtude que chamou a minha atenção, talvez por isso eu tente coloca-la tanto em minha vida. Em uma aula de Artes no ensino médio aprendi a fazer origamis. Reza a lenda que ao fazer 1000 você pode fazer um pedido e ele será realizado. Eu nunca acreditei muito nesse tipo de coisa, então em horários livre do meu tempo eu estava me dedicando aos origamis com o objetivo de relaxar e esfriar a cabeça. Meu cachorrinho sempre estava comigo.
Era engraçado, ele pedia para brincar nas vezes que eu sentava para começar a dobrar os papéis, e eu, sem raiva ou incômodo, cedia meu tempo para dar atenção a ele. Brincávamos muito, eu jogava bola enquanto ele corria para busca-la. Às vezes eu corria atrás dele enquanto ele tentava fugir, e às vezes deitávamos juntos na minha cama e olhávamos pela janela as estrelas no céu. Pequeno e agitado, durante a noite era quando ele se acalmava. Não é difícil de adivinhar que os meus origamis eram em formato de estrelas.
Quando tentavam se aproximar de mim ele rosnava e se preparava para atacar, mesmo não tendo noção alguma de seu pequeno tamanho – afinal, Yorskshires de porte pequeno têm essa característica. Ele costumava deitar na ponta da minha cama enquanto eu estudava ou lia algum livro. Não se mostrava satisfeito com sua ração e sempre pedia comida quando eu fazia minhas refeições. Gostava de passear de carro, e sempre ficava com a cara para fora da janela. Ele era meu e só meu. Embora gostasse da minha família, ele pertencia a mim.
Dias e mais dias. Origamis e mais origamis.
Oitocentas e sessenta e oito estrelas.
— Mãe, ele não está bem. — o pequeno corpo perdia aos poucos a coordenação no primeiro dia.
Novecentas e vinte e três estrelas.
— Ele foi intoxicado. — foi o que o veterinário disse no segundo dia. — O corpo é muito pequeno para tanto veneno.
Novecentas e sessenta e quatro estrelas.
— Reza a lenda que se você fizer 1000 origamis e um pedido, esse pedido será realizado. — eu disse para um amigo no terceiro dia querendo acreditar no que estava falando.
Novecentas e oitenta e seis estrelas.
— Mãe, pai, esse é o milésimo. — fechei os olhos já com lágrimas rolando no quarto dia.
“Eu quero que o Tritão sobreviva.”
Último dia.
— No fim, era apenas algum tipo de conto de fada. — o corpo estava à minha frente. Minha mão afagava o pêlo gentilmente, esperando alguma resposta ao toque. As lágrimas cobriam meu rosto quase por completo. A respiração estava acelerada. — Um conto de fadas que eu acreditei com todas as minhas forças.
O corpo não respondeu, os latidos nunca mais foram escutados, e eu havia perdido uma parte de mim.
Eu amo você.
Contemplar as estrelas
nunca mais foi a mesma coisa.