Mil estrelas
Hêndria Moura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/09/16 19:23
Editado: 05/09/16 19:30
Gênero(s): Drama
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 7
Comentários: 3
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Palavras: 487
Este texto foi escrito para o concurso "Origami" O origami é uma arte tradicional trabalhosa e que muitas vezes vem acompanhada de lendas sobre desejos e etc, então, porque não trabalhar sobre as diversas possibilidades presentes em apenas uma dobradura de papel? Ver mais sobre o concurso!
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Mais informações nas notas de rodapé. Seria interessante escutarem a música Jambi, da banda Tool, ou pelo menos lerem a letra.

Tenham uma boa leitura.

Capítulo Único Mil estrelas

"Paciência requer prática", já li essa frase em alguma obra famosa, mas agora não me recordo o nome. Paciência sempre foi uma virtude que chamou a minha atenção, talvez por isso eu tente coloca-la tanto em minha vida. Em uma aula de Artes no ensino médio aprendi a fazer origamis. Reza a lenda que ao fazer 1000 você pode fazer um pedido e ele será realizado. Eu nunca acreditei muito nesse tipo de coisa, então em horários livre do meu tempo eu estava me dedicando aos origamis com o objetivo de relaxar e esfriar a cabeça. Meu cachorrinho sempre estava comigo.

Era engraçado, ele pedia para brincar nas vezes que eu sentava para começar a dobrar os papéis, e eu, sem raiva ou incômodo, cedia meu tempo para dar atenção a ele. Brincávamos muito, eu jogava bola enquanto ele corria para busca-la. Às vezes eu corria atrás dele enquanto ele tentava fugir, e às vezes deitávamos juntos na minha cama e olhávamos pela janela as estrelas no céu. Pequeno e agitado, durante a noite era quando ele se acalmava. Não é difícil de adivinhar que os meus origamis eram em formato de estrelas.

Quando tentavam se aproximar de mim ele rosnava e se preparava para atacar, mesmo não tendo noção alguma de seu pequeno tamanho – afinal, Yorskshires de porte pequeno têm essa característica. Ele costumava deitar na ponta da minha cama enquanto eu estudava ou lia algum livro. Não se mostrava satisfeito com sua ração e sempre pedia comida quando eu fazia minhas refeições. Gostava de passear de carro, e sempre ficava com a cara para fora da janela. Ele era meu e só meu. Embora gostasse da minha família, ele pertencia a mim.

Dias e mais dias. Origamis e mais origamis.

Oitocentas e sessenta e oito estrelas.

— Mãe, ele não está bem. — o pequeno corpo perdia aos poucos a coordenação no primeiro dia.

Novecentas e vinte e três estrelas.

— Ele foi intoxicado. — foi o que o veterinário disse no segundo dia. — O corpo é muito pequeno para tanto veneno.

Novecentas e sessenta e quatro estrelas.

— Reza a lenda que se você fizer 1000 origamis e um pedido, esse pedido será realizado. — eu disse para um amigo no terceiro dia querendo acreditar no que estava falando.

Novecentas e oitenta e seis estrelas.

— Mãe, pai, esse é o milésimo. — fechei os olhos já com lágrimas rolando no quarto dia.

“Eu quero que o Tritão sobreviva.”

Último dia.

— No fim, era apenas algum tipo de conto de fada. — o corpo estava à minha frente. Minha mão afagava o pêlo gentilmente, esperando alguma resposta ao toque. As lágrimas cobriam meu rosto quase por completo. A respiração estava acelerada. — Um conto de fadas que eu acreditei com todas as minhas forças.

O corpo não respondeu, os latidos nunca mais foram escutados, e eu havia perdido uma parte de mim.

Eu amo você.

Contemplar as estrelas

nunca mais foi a mesma coisa.

❖❖❖
Notas de Rodapé

18 de julho de 2015,

Aproximadamente 14h30 recebi a notícia de que o Tritão havia morrido. Ele foi intoxicado com um remédio aplicado errado, um remédio contra carrapato utilizado para bovinos ou cachorros com mais de 50kgs, e ele não tinha nem 2kgs. No dia 19 de agosto de 2015 ele completaria quatro anos comigo. A contagem dos dias na história é fiel ao que realmente aconteceu.

Fotos do Tritão: http://imgur.com/a/mDBmf

Até hoje ele faz falta.

Obrigada por terem lido. <3

Apreciadores (7)
Comentários (3)
Postado 06/09/16 14:39

Srta Hêndria... esse texto foi para mim algo triste demais... Para você então, deve ter doído demais escrever cada uma dessas palavras.

Eu tive um cachorro, um dálmata, que morreu com 5 anos de idade, com pedras no rim... Minha família demorou muito para perceber que ele não estava mais fazendo xixi... quando percebemos já era tarde demais, a bexiga tinha se rompido e as toxinas do xixi infectaram o sangue...

A foto de capa do seu texto, é o seu braço, né? Vi as fotos do Tritão... muito fofo ele... na terceira foto, deu aquela vontade de abraçar toda aquela fofura <3

A vida é muito má as vezes... muito cruel e injusta... Por um erro idiota ele morreu... um erro que poderia ter sido evitado... e meu Pingo por falta de atenção nossa... se a gente tivesse percebido antes, ele poderia ter sobrevivido... na verdade a gente apenas não ficava olhando pra ele enquanto ele fazia xixi, seilá, pra não deixar ele com ''vergonha''... foi idiotisse da nossa parte...

Ai...

Um abraço, para uma confortar a outra...

Meiling...

Postado 30/11/16 09:54

A realidade desse conto vai muito além da capa, das notas... Se faz real desde a primeira frase...

Postado 17/10/22 23:43 Editado 17/10/22 23:45

Esse texto mexeu demais comigo, pois essa temática de perda de animais é o meu fraco. É uma leitura devastadora... Palavra a palavra, nós torcemos para que o pedido se realize, mas nem sempre isso acontece. Ai, que tristeza.

Obrigada por compartilhar conosco! E sinto muito pela sua perda...

Parabéns, Hêndria