Eu senti a gélida brisa em meu rosto, e de alguma forma era reconfortante. Enquanto caminhava pela rua deserta me peguei pensando em você. E pensar que alguém que costumava odiar se tornaria o centro da minha vida.
Quando entrei na família, a única coisa que senti foi ódio. Não queria ter alguém me chamando de filha ou irmã quando não havia nenhum laço sanguíneo nos ligando, tampouco queria ser uma intrusa.
Eu queria aquilo que antes era a minha família. Apesar de ter sido constantemente espancada pelo meu pai bêbado e, consecutivamente, pela minha mãe que prezava pelo meu silêncio, eu os amava. Ingênua e incondicionalmente.
Então quando entrei pela primeira vez na minha nova casa, você desceu as escadas correndo e parando na minha frente sorrindo; um sorriso jovial e despreocupado que me causou uma inveja dos infernos. Por que eu não conseguia sorrir desse jeito?, foi a única coisa que consegui pensar. Todavia, não foi o sorriso que mais me surpreendeu, foi a sua preocupação. Você estendeu sua mão e interpelou se eu queria algo, se oferecendo para ajudar com os curativos para os meus demasiados – mas superficiais – machucados.
Eu não era nada. Não nos conhecíamos antes, ao contrário, nem ao menos tinha consciência do seu nome. Mas mesmo assim você ficou com a mão estendida, paciente, me olhando preocupada. Ninguém nunca se preocupou comigo, então por que você se preocuparia? Eu a odiei naquela instante, por me fazer parecer mais frágil do que já era.
Mas o tempo foi passando e minha raiva se esvaindo junto. E quando percebi você já havia se tornado tudo para mim.
Aquela menina que tinha medo de se relacionar com as pessoas, de expor seus sentimentos, já não existia mais. Eu sabia que se me machucasse você me abraçaria e faria a dor passar; se a insônia me denominasse ouviria você cantar suavemente algum cover do Alex Goot ou Fall Out Boy enquanto seguraria a minha mão. Tinha certeza que quando meu mundo desmoronasse novamente você sorriria e diria o que mais precisava ouvir: que não importa as dificuldades, o amanhã sempre vai chegar para tentarmos novamente. Mesmo que fosse mentira, eu acreditava, porque você realmente me fazia bem.
E ainda consegue.
Hoje, mesmo sendo uma estrela distante, quando fecho meus olhos ainda consigo vê-la sorrir, e isso é tudo que me motiva a não desistir. E apesar de saber que não posso mais voltar ao passado, sorrio, porque agora acredito que uma nova manhã surgirá tanto para mim quanto para você.
Em meio às lágrimas, olho para o céu uma última vez nesta noite e sei que estará fazendo o mesmo, pensando em mim, como prometemos. E quando fecho meus olhos, relembro da última carta que enviei junto de um pote colorido com uma pequena constelação dentro.
Porque nesse instante, você já não possui uma constelação dentro de si, como sempre brincávamos.
Você se tornou uma.
– Eu te agradeço por ter me encontrado, mesmo eu sendo uma constelação tão pequena... Obrigada.
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Não é qualquer um que acredita,
Eu sei bem.
Mas, irmã, você pode acreditar?
Reza a lenda que se mil estrelas, sozinha,
Você dobrar e guardá-las em um pote,
Um pedido irá se realizar.
Olhe para o céu, a esperança vem de lá.
Feche os olhos;
Consegue enxergar?
Meu desejo ainda não foi atendido
Mas em breve estará.
Juntei papéis coloridos e brancos
Em todas as tardes e noites;
Dobrei uma, duas... Novecentas... Mil.
Transformei das minhas mãos calejadas
Um esboço perfeito;
E desta pequena dor que restou
Na paz que Sadako, sem saber, alcançou.
Mas permaneci fiel as minhas promessas.
Continuei levando em cada pedaço de papel
O significado do meu amor por ela.
Entretanto, enquanto dobrava a última estrela
Percebi que meu desejo há tempos havia se concretizado:
Eu já tinha ganhado uma inspiração pela qual viver,
Um destino novo para percorrer junto;
Ganhei a minha própria constelação.
Mas se tivesse que fazer
Um único pedido às estrelas,
Apenas desejo uma coisa:
Minhas doces estrelinhas de papel
(pedaços de sentimentos dobrados)
Faça com que ela permaneça para sempre no meu céu.