Tu
True Diablair
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 27/08/16 10:37
Editado: 27/08/16 15:27
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 6
Comentários: 5
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Palavras: 845
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Sim, anuncei Hiatus e ele prossegue/prosseguirá. Todavia, eu precisava postar esta obra antes de baixar as cortinas, apagar a luz e sair do recinto.

Baseado em fatos/experiências reais.

Não me perguntem nada.

Por favor.

Capítulo Único Tu

Já era o finalzinho do plantão extendido de Marlene, uma jovem atendente da central da Policia Militar que vinha se destacando no setor pela competência e comprometimento para com seu trabalho. Ela realmente amava o que fazia, pois seu desejo de ajudar as pessoas era genuíno e intenso. Por vezes ela fazia horas extras mesmo nos dias de folga, sem nunca reclamar do valor relativamente baixo pago ou o stress que sua função impunha. Não era o emprego dos seus sonhos, mas foi através dele que descobriu como fazer a diferença.

Uma nova chamada. A última do turno. Depois, seria obrigada a parar e ir para casa. Atendeu.

Alô? Por favor, por favor, me ajuda tia... — era uma voz feminina e chorosa de uma infante a sussurrar nitidamente apavorada do outro lado da linha. — Ele tá procurando a gente...

— Calma, meu anjo. Por favor, tente ficar calma. A tia vai te ajudar. Calma. — respondeu de imediato a atendente, com uma sensação horrível arranhando seu estômago. — Qual é o seu nome? O que está acontecendo?

Sou a Monique... Mamãe mandou eu pegar o Gui e me esconder. O papai... — a garota fez um esforço colossal para suprimir o choro naquele momento. — E-Ele machucou ela com o revólver. Eu fiz o que me ensinaram e liguei pra você, tia... Me ajuda! Por favor!

Aquelas palavras rasgaram o coração de Marlene em um milhão de tiras. Por mais que fosse treinada para lidar com pessoas em situações de tensão, nenhuma simulação a prepararia para algo daquele nível. Se controlando ao máximo para passar segurança à menina, Marlene pediu com o máximo de jeito e urgência possível que Monique lhe fornecesse o endereço ou alguma referência que pudesse usar para encontrar sua casa.

Eu não sei o nome da rua, tia... Mas sei os números. É dois, um, sete e zero. — explicou a infante meio soluçando e em um tom de voz angustiantemente baixo. — Fica do lado da padaria com uma rosquinha gigante.

— Tudo bem, a tia sabe onde é. Por favor, não desliga, tá bom? — respondeu Marlene com certo alívio, enviando as informações digitadas velozmente no computador para o despachador do batalhão da PM responsável por aquela região. O código 121 foi igualmente informado. — Monique, continue quieta e escondida. A ajuda já...

O som de pancadas em uma porta cessou a frase e a pulsação mais tranquilizada de Marlene. Com os estrondos advindo da violência dos baques, seguiu-se um choro agudo e altíssimo bem como os pedidos desesperados de Monique para o irmãozinho ficar quieto ou o pai deles iria achá-los.

— TIA MARLENE, MEU PAI TÁ AQUI! — exclamou a menina sem mais conseguir se controlar, pranteando alto junto com o bebê em seu colo já que não podia calar o bebê. — ELE VAI MACHUCAR A GENTE COM A ARMA!

Marlene, que havia ativado o modo Viva Voz sem querer no calor do momento, gritou para a menina pegar o irmão e sair dali. Monique disse que não dava e pediu socorro de novo para aatendente, destruindo muito do rigoroso condicionamento mental da atendente e fazendo com que a mesma se sentisse uma incompetente e inútil. Logo, pode-se discernir claramente que uma porta havia sido arrombada e passos vagarosos de alguém usando botas se misturando com crianças chorando em uma cacofonia de deixar o próprio Diabo orgulhoso.Todos na central puderam ouvir nitidamente Monique implorar aos gritos por clemência ao pai e, um instante antes de ter seus apelos negados/ignorados, clamou "não machuca o Gui, pai! Não machuca o..."

Três tiros encerram o pedido e a vida da menina.

— NÃO! NÃO! PÁRA, SEU FILHO DA PUTA! PÁRA! — gritou Marlene à plenos pulmões e em total desespero ao levantar-se da cadeira, enquanto o chocante áudio parecia ecoar no recinto. — PELO AMOR DE DEUS! AINDA NÃO RASTREARAM ESSA PORRA?! — vociferou a atendente policial em um misto de pranto mal-contido e autoridade.

Os gritos de Monique cessaram, enquanto o choro de Gui prosseguia de forma contínua e potente. Marlene esmurrou a mesa, incapaz de conter as lágrimas e a fúria, bem como o sentimento de impotência com o escabroso ocorrido. Em seguida, alguém de voz masculina, baixa e rouca falou "alô" no celular.

— SEU FILHO DA PUTA! SEU MONSTRO! — vociferou Marlene, chegando a salivar enquanto falava com o olhar marejado e injetado. — NÓS VAMOS ACABAR COM A SUA RAÇA, SEU DESGRAÇADO DO CARALHO!

— Ei, ei... Calma. Vai ficar... Tudo bem agora. — exclamou o desconhecido com uma apatia palpável e assustadora. — Não se preocupe. Ainda tenho duas balas... Pra duas pessoas. — era possível ouvir o som das sirenes não tão distantes ao fundo junto com o prantear do pequeno Gui.

Marlene sentiu como se o coração gelasse e parasse naquele segundo que pareceu infinito. E no outro... Um estampido ressou na sala de atendimento, fazendo com que o choro infantil cessasse abruptamente. Em seguida, outro disparo se seguiu e o último som que todos ouviram conforme Marlene desabava na cadeira em absoluto estado de choque foi o de algo caindo e se esfacelando.

tu - tu - tu - tu -tu - tu - tu - tu - tu - tu - tu...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Academia Carnificina prevalece.

Agora... Me sinto bem melhor.

Obrigado, Satã.

Autor em Hiatus

Apreciadores (6)
Comentários (5)
Comentário Favorito
Postado 28/08/16 15:40

CARALHO O QUE FOI ISSO? Nossa, estou completamente sem reação aqui.

Conforme fui mergulhando na leitura, comecei a entrar em agonia, pois, de uma forma ou de outra, acabamos nos colocando no lugar de Marlene. De fato, isso realmente não é algo ruim, pois sentimos o peso da narrativa.

Apesar da leitura ser um pouco pesada, não dá para parar de ler. Como sempre, você consegue envolver o leitor com a narrativa. Digo, praticamente tu nos pega com uma pinça e joga nossas almas mortais dentro de uma história, e isso é fantástico.

Os detalhes foram simplesmente perfeitos. Li e consegui visualizar todo o contexto. Sem falar que isso facilitou ainda mais o entender da história. Ou seja, os detalhes se fundiram com a atmosfera da escrita e POW, tornaram o texto genial e incrível.

Parabéns pela obra e pela capacidade de nos surpreender sempre, Diab.

Postado 29/08/16 04:28

Srta Sabrina... Seu feedback é tão surpreendente e admirável para mim quanto quem gentilmente o teceu e postou... Emudecido me define muito bem agora...

Muitíssimo obrigado, de todo o meu desesperado e agonizante coração!

Postado 27/08/16 10:48

Cliquei para ler porque achei que o título vazia referência ao "Tu" aqui do RS. Não me decepcionei nem um pouco com tal obra, Diablerie!

Postado 27/08/16 15:17

Pois então esta é minha maior e melhor recompensa, Srta Julih!

Muitíssimo obrigado, de todo o meu maldito e enegrecido coração!

Postado 27/08/16 12:41

Eu estou surpresa

Com TUDO!

Tudo mesmo!

Parabéns!!

Seu texto está incrível!

Postado 27/08/16 15:18

Me encabula e engrandece com a mesma facilidade, Srta Gabi... nem sei mais como lhe agradecer por tanto carinho e apoio...

Muitíssimo obrigado, de todo o meu perfurado e sangrento coração!

Postado 29/08/16 09:49

Mais um texto maravilhoso do meu autor preferido!

Postado 30/08/16 18:18

Mais um comentário gentil e deveras enaltecedor de minha psicopata favorita que tanto me apoia e atura!

Gratíssimo, Srta Flávia! Gratíssimo!

Postado 29/08/16 10:27

Já lhe disse o quão maravilhoso você é em suas narrativas, Diab? Não? Acho que sim. E várias e várias vezes.

Trate de me dizer qual método você utiliza para descrever situações assim, Manu. É simplesmente fantástico o modo que você consegue prender completamente a atenção do leitor, fazendo-o ficar louco com sua narração, desejando por mais, afim de descobrir o desfecho dos acontecimentos.

Além disso, você consegue penetrar na alma de quem está lendo, fazendo um misto de emoções borbulharem por dentro, causando agonia, raiva, aflição... Afinal de contas, quem é que leria um relato desses com a mais completa calma do mundo, sem sequer sentir-se angustiado com o desespero das crianças e da Marlene? E, claro, ódio do ser humano que era pai deles e que não tinha um pingo de humanidade em seu coração? Ninguém, creio eu. Por isso, você é meu autor favorito do site. O número um.

Tuas obras são magníficas, sem dúvida alguma. Impecáveis, praticamente.

Parabéns pela obra e obrigada por ter me proporcionado uma leitura deliciosamente macabra, pertubadora e emocionante.

Postado 30/08/16 18:27

Eu... Realmente não sei o que dizer para agradecer um feedback desse porte... Ler um comentário desses faz qualquer autor ficar exultante e deveras orgulhoso de si mesmo! Muitíssimo obrigado por tamanho carinho, apoio e entusiasmo, que de longe é a maior recompensa que eu poderia ter!

Eu não uso nenhum modelo, por assim dizer... Somente sigo uma dica que nem me lembro onde vi/ouvi: "conte uma história tal qual você gostaria de ler" e uso do meu considerável grau de empatia para me colocar no lugar dos personagens, sejam eles a Marlene, a Monique, o "pai" ou o próprio Gui.

A mente doentia faz o resto...

Muitíssimo obrigado, de todo o meu maldito e enegrecido coração!

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