Menina travessa, agora irá aprender a respeitar!
Carolina corria assustada. Como viera parar ali? Era este a única pergunta que rondava sua mente naquele momento. A garota apenas se lembrava que naquela manhã, horas atrás – ou seriam dias? –, seu grupo havia se reunido para beber e sacanear com quem estivesse passando. Hora errada, lugar certo; era este o lema idiota que usavam. Havia um menino de aparência frágil que sempre era o motivo preferencial da gozação geral: Leonardo, o anjinho dos cachos negros. Desde o dia que ele respondeu que ninguém planejava minuciosamente um assassinato em voz alta, quando a professora perguntou o porquê do mesmo estar muito quieto, é que ninguém mais lhe deu sossego. Principalmente eles. Principalmente ela.
Agora, aquele anjinho frágil de dezessete anos tornou-se o demônio do pior pesadelo de Carolina e seus amigos.
Corra, Carolina. Você pode correr, mas não pode fugir!
Há quanto tempo estava correndo? Se a voz estivesse certa, há mais de quatro horas, faltando pouco tempo para completar cinco horas, para saber de que maneira morreria se não conseguisse sair dali. Quatro horas... Seus quatro amigos mortos, um de cada vez, um a cada hora. Não havia como esquecer, não tinha como tirar da mente as cenas de seus amigos serem mortos, dilacerados, os gritos roucos que clamavam por socorro, por uma chance de viver.
Dez...
Não, não agora, ainda não!, pensava Carolina, a última sobrevivente. A contagem se reiniciara sem que a mesma pudesse ter a oportunidade de encontrar a saída. Como em um impulso desesperado, Carolina começa a correr novamente por entre as portas infinitas e iguais manchados de sangue. Ela precisava sair dali, ela precisava viver!
Nove...
Desde que havia acordado nesse lugar desconhecido ela vagava sem rumo ao lado de seus amigos, sem saber o que acontecia e há quanto tempo estava inconsciente. Tudo começou quando todos ouviram o grito atônito de Michelle que, por estar machucada, ficara para trás. Carolina e seus três amigos andaram procurando desesperadamente por Michelle, mas já era tarde demais. A mesma se encontrava com os olhos esbugalhados coberta pelo próprio sangue, tendo sua cabeça separada de seu corpo e os demais membros dilacerados e espalhados pelo chão.
Oito...
Sôfregos, todos tentaram fugir procurando uma saída por uma hora sem obter sucesso, até que ouviram novamente a contagem. Fernando havia sumido! Desesperados, procuraram incansavelmente pelo garoto, mas quem o achou foi a própria Carolina. O corpo de Fernando, ou pelo menos o que restara dele, estava no chão como se estivesse sentado. O sangue fluía intensamente e em suas mãos estavam os próprios olhos, retirados a frio pelo assassino.
Sete...
Nada podia fazer a não ser correr como uma verdadeira covarde. Era isto que causava a raiva em Carolina, era isto que ela temia. Mais uma hora havia se passado e apenas sobrara ela, Caio e... Onde estava Bianca? Um grito ao longe havia sido ouvido, despertando Carolina e Caio de seus devaneios. Não, não podia acontecer novamente. Não de novo, não com Bianca, a única inocente do grupo. Todavia, quando ambos chegaram à uma sala escura, lá estava a menina, jazida em uma cama com o coração arrancado de seu peito, pairando sobre seu corpo preso em uma linha que se encontrava no teto.
Seis...
Tudo estava perdido. Três pessoas haviam morrido de maneira misteriosa e desumana. Por quê? Por que ele estava fazendo isso? Por que não os deixavam em paz? Haviam errado com Leonardo, em humilhá-lo das piores formas possíveis por longos três anos, mas não era justo o modo como ele estava se vingando. Não era justo fazer justiça com as próprias mãos. Não era justo arrancar-lhes a vida.
Cinco...
Depois da morte horrível de Bianca só restara Carolina e Caio. Ambos em estado de choque sem saberem o que fazer, perdidos naquele pesadelo sem fim. Eles temiam a morte, temiam o próprio futuro, mas ainda nutriam a esperança de sair daquele lugar. Em momento algum pararam de correr, mas era como se os corredores não tivessem fim, como se todas as portas não os levassem a lugar nenhum. Estavam presos em um labirinto.
O labirinto do demônio.
Quatro...
Mais uma hora havia se passado e a contagem se reiniciara. Desesperados, Carolina e Caio corriam juntos com medo de serem os próximos a morrer. Entretanto, por causa da cegueira que o medo lhe causara, a garota não percebeu quando seu amigo caíra e fora pego pelo anjo dos cachos negros, só se deu conta desse fato quando o mesmo deu um último grito de adeus. Caio havia morrido, tendo todos seus órgãos dilacerados e expostos como troféus.
Três...
Seus amigos estavam todos mortos! Não restara mais nada para Carolina além da esperança de sair daquele lugar horrível. Há uma hora ela procurava incansavelmente a saída, sem êxito. E com a contagem novamente reiniciada, a garota corria mais com todas as suas forças mesmo cansada física e psicologicamente.
Dois...
Uma luz estava diante dela. Um sorriso triunfante: a saída! Ela finalmente havia encontrado a saída. Carolina estava livre, ela seria uma sobrevivente. Ela viveria. Em seu âmago ela encontrava alívio e esperança.
Um...
Corra, Carolina, sua chance está aí, ante aos seus olhos, gritava sua mente. Todavia, a demasiada felicidade a impediu de ver uma pedra em seu caminho, fazendo-a ir de cara com o chão, impedindo-a de chegar perto da porta. Não, não, não, não... Não, por favor, suplicava a garota.
Zero!
A porta fora fechada diante do olhar desesperado de Carolina. Era assim que tudo terminaria? Ali, parado na porta, estava ele: Leonardo, com um sorriso assustador no rosto, trajando sua roupa preta agora totalmente coberta de sangue – o sangue dos amigos de Carolina –, segurando um facão nas mãos.
Corra, Carolina. Você pode correr, mas jamais esconder. Menina travessa, agora irá aprender a respeitar!
Um grito, o último grito foi proferido, o último suspiro... O último sobrevivente.