Sentou-se no sofá de sua casa. Estava esgotado de mais um dia a fazer nada e a tentar um grande milagre com aquele boygroup que realmente não sabia cantar.
Desapertou a gravata antes de desabotoar o primeiro botão da sua camisa lacoste azul escura. Tirou o relógio caro do pulso atirando-o para cima do cabedal negro do sofá ao lado da sua pasta de trabalho. Massajou fortemente as têmporas, tentando relaxar a grande dor de cabeça que aí vinha.
Aos vinte e nove anos de idade, Woo Bin sentia-se um velho de oitenta e poucos anos. Não tinha forças para quase nada, e realmente nem se lembrava mais qual a razão para se levantar cedo pela manhã e continuar a trabalhar com pessoas que não lhe davam prazer ou inspiração para continuar. Deitou-se com a barriga virada para cima apreciando o tecto recentemente pintado de branco, com um grande candeeiro feito de cristais. A vida não era fácil, mas ele não tinha qualquer razão para se queixar, porém isso não o impedia de tentar resmungar sobre a sua vida. Até porque ficava tudo nos seus pensamentos, de todas as maneiras.
Abriu o Ipad e foi ver da sua agenda pessoal. Tinha gravações durante a semana toda, mas para amanhã não tinha rigorosamente nada. Talvez a sua assistente se tivesse descuidado e não marcado tudo como deveria ser. Caso fosse esse o caso, iria despedi-la. Enviou-lhe um SMS a perguntar se era realmente verdade, que tinha um dia livre mesmo no meio da semana. A assistente foi rápida a responder um generoso "Sim" e sobre o dia ter sido dedicado ao pai que o vinha visitar.
Suspirou profundamente, qual tinha sido mesmo a última vez que ele tinha falado com o pai? Supôs que fosse pelo menos mais duas vezes depois do funeral da sua mãe. O coração falhou um batimento e depois aumentou a velocidade, como podia ter-se esquecido? Amanhã era o aniversário dela.
O telefone tocou. Contrariado levantou-se para o atender. Arrastou os pés cansados até ao hall de entrada onde abriu o bolso do casaco e retirou o seu Iphone 6. Arrastou o ícone verde para o lado.
- Sim? - Inquiriu com o tom mais monótono que sabia fazer.
- Yah, Woo Bin é assim que se trata um velho amigo? - Park Soo Jung riu do outro lado. - Abre-me a porta. Estou aqui fora faz séculos! - O jovem abriu a porta ainda com o aparelho na mão. - Nem sabes o quão complicado foi arrancar a tua morada à tua assistente. Relativamente fácil. - Piscou o olho. - Acho que a devias despedir. - Soo Jung não se descalçou e apenas foi de encontro ao sofá. Sentou-se sem pedir autorização e depois analisou a casa com um aceno de aprovação. - Nem parecem mais os velhos tempos! - Comentou batendo palmas.
- Posso perguntar o por quê de estares aqui? - Não implicou com as maneiras rudes do melhor amigo. Conheciam-se há mais de vinte anos. Tinham sido vizinhos até Soo Jung se mudar para os estados unidos com a família. E voltaram-se a reencontrar quando Woo Bin frequentou a universidade em LA.
- Yah, li o teu guião! - Comentou surpreso pelo amigo não se lembrar.
- Guião? Soo Jung estás a dizer-me que apenas o leste agora!?
- Querias que o lesse quando, exactamente?
- Talvez há três anos atrás, penso eu. - Encolheu os ombros sentando-se no outro sofá com as pernas cruzadas.
- Bem, mais vale tarde que nunca. - Estalou a língua. - Encontrei alguém que quer patrocinar o teu guião. E vamos gravar o teu filme, amigo!
- O quê!?
- É isso mesmo, Kim Woo Bin, vais voltar ao ramo do cinema! E agora só acho mais que justo que festejemos. O velho pessoal está por estas bandas e não há melhor maneira que mostrar o quão mais sucedido que eles estás. Claro, sempre um passo atrás de mim. – Acrescentou com uma grande gargalhada. – E, por favor, nada dessas ridículas gravatas. Deve ter sido a número três a oferecê-las. - Woo Bin demorou mais tempo que o necessário para perceber ao que o seu amigo se referia: a uma das suas ex-namoradas. - Aliás nunca vi algo tão original. Até poderia ter sido algo feito por mim.
- E o melhor é que não foi. - Sorriu desfazendo de uma só vez o nó da gravata com um dedo. Deixou-a cair pelo chão e pegou no seu casaco. - Vamos lá então, celebrar a minha finalmente saída do mundo da música. - Um enorme alivio.
- Ao fim da música. - Gritou o melhor amigo.
- Não toda a música. Comentou com um sorriso maroto.
- Ah, sim. Não existe sinfonia mais bela que os gemidos de uma bela mulher. - Fechou a porta atrás de sim.
***
Já passava das quatro e meia da manhã quando finalmente chegou a casa, bêbado, mas não tão bêbado para não perceber onde estava. Exausto, mas não o suficiente para se descalçar e tirar a camisa do corpo. Sóbrio, mas não o suficiente para enviar uma SMS a cada uma das suas ex-namoradas. Ao longo dos anos Woo Bin contara pelo dedos os seus verdadeiros amores, ou, pelo menos, aqueles que tinham inspirado o seu futuro sucesso. Clicou no botão de enviar a mensagem e depois adormeceu no sofá.
***
Eram quase nove horas quando acordou com o som da campainha do outro lado. A dor de cabeça seguiu-se em segundos, assim como a vontade de vomitar.
Pegou no iphone para ver que horas eram, mas congelou quando o ecrã de protecção se evaporou, dando lugar às mensagens de ontem à noite. Engoliu em seco esperando desfazer a enorme bola de preocupação que se formava agora na garganta.
Leu cada linha como se tivesse sido a primeira vez que tinha escrito aquela mensagem, bem, tecnicamente era a primeira vez que as estava a ler. Quem é que realmente se lembra de tudo o que escreve quando está bêbado? Decidiu ler mais uma vez para ver se estava realmente certo:
"Quero avisar-vos que graças a vocês ficarei ainda mais rico. Obrigada por serem a inspiração do meu próximo filme. Espero ver-vos na estreia ao lado das vossas representações. Daqui um ex-namorado muito bêbado".
A campainha soou mais uma vez. E a seguir um homem de meia idade entrou. Vestia um casaco castanho demasiado velho e sujo. Colocou as suas chaves de volta ao bolso e avançou meio confiante para dentro da sala de estar.
- Francamente filho, o que achas que estás a fazer assim vestido? - Inquiriu preocupado o pai de Woo Bin.
- Pai acho que fiz asneira.
- Engravidaste alguém?
- Pior. - Comentou. - Convidei todas as minhas ex-namoradas de volta à minha vida.
- Filho, acho que está na hora de parares de beber.