O dia ficou neutro, eu fiquei nublada. Nada aconteceu. Nenhuma palavra diferente, nenhuma pessoa iluminada, nenhuma inspiração revigorada. O dia é uma grande caixa cheia de nada.
Nenhum passarinho cantou em minha janela, mas acendi uma vela em busca de paz. Ação ineficaz. Deitei na cama, olhei para o nada e nadei na solidão.
O tempo passa num compasso rápido. Pisquei. Dez minutos se foram. Qual é o problema do tempo? Será que não gosta de ser aproveitado? Ou será que sou eu que não o aproveito da maneira certa? Acolho-me nos braços tempo. Batemos um papo. Por um segundo namorei o Tempo e ele disse que já tinha namorado.
Até o Tempo tem companhia, e eu aqui, sozinha, dançando com minha melancolia. Ela é linda, mas não é de falar muito. Gosto de palavras, ela prefere sentimentos. Combinamos isso. E agora, escrevo estas palavras encharcadas com a pureza essencial de meu versar.
— Voa pra longe, menina nublada! Escapa enquanto o tempo ainda bate em teu peito. Diz-me a Melancolia, numa última tentativa de me salvar.
— Não, não vou. Fugir do inevitável é o mesmo que tentar viver sem respirar. O que eu tento fazer todos os dias não é viver. Estou me envenenando com enganações. Já basta! Venha e seja uma boa aliada. Cumpra seu papel na peça da vida, enquanto eu encerro o último ato de meu triste existir.
Afundei dentro da banheira, enquanto a melancolia fazia peso em cima de meu corpo, para que eu não escapasse de meu destino.