Lembro-me de pensar comigo mesmo
– Como pode ela ser tão bela –
Recordo-me do modo como ela punha a mão sobre o rosto quando ria,
Lembro-me de rir todas as vezes que isso ocorria,
Enquanto tentava obrigá-la a mostrar aquele riso,
Que de tão fino, me derretia a alma,
Inundando meu sangue de cérebro de toxinas,
Fazia-me insuportavelmente bobo,
Daquele que vê nas nuvens todo tipo de tranqueira,
Daqueles apaixonados de forma derradeira.
(*)
Recordo-me vividamente do céu,
Ah, recordo-me das nuvens passearem e cobrirem-no feito um véu,
Ainda posso ver as crianças, berrando em segundo plano,
Acomodando-se no balanço preso àquela laranjeira.
(**)
Ainda hoje penso naqueles teus olhos que me fitavam,
E que, de meu ponto de vista, brilhavam ainda mais contra o Sol,
Já me foi dito que sem Sol não haveria vida,
Mas juro, naquele específico dia, eram teus olhos que me alimentavam.
O Sol, apesar de clarear o horizonte de forma esplendorosa,
Não competia com o encantar de teu vestido.
O verde da folhagem mesclava-se com detalhes de teu vestido,
A cor rósea, apesar de inibida, introduzia-se nas flores
E foi ao ver uma em tuas mãos, levando-a a teu delicado nariz
Que em um calafrio estridente, senti o coração parar,
E naquele momento infinitesimal, senti que não me pertencia,
Senti que meu corpo já não mais me obedecia,
Senti, senti com todo o coração,
Que para qualquer razão que me possa inaugurar o sentimento,
O pensar, sufocado em desconhecimento e agonia,
Reproduzia-se em meus ouvidos as escandalosas batidas do coração,
Até que não mais que de repente, o coração rendeu-se
E em sua rendição, passou de batidas para afagos,
Passou de sonhos para paixão,
Empoderou-se de toda reserva de energia que transformar-se-ia em calor
E modificou-a para um único sentimento enaltecer, o amor.