- Vê se não vai errar... – o ladino sussurrou ao ouvido da arqueira.
- Alguma vez me viu errar? – ela respondeu, irritada.
- Eu vi... uma ou duas vezes... – disse o mago.
- E quem pediu sua opinião? – a arqueira voltou-se para o mago, olhando fixamente para ele enquanto soltava a corda de seu arco.
A flecha viajou, zunindo levemente pelo ar. Seu alvo ainda corria, subindo uma colina, quando voltou-se para ver se estava sendo seguido. A flecha o atingiu direto na garganta, fazendo o jovem começar a se engasgar com o próprio sangue enquanto tentava respirar. Caiu de joelhos, com as mãos na garganta, tentando estancar o sangue que jorrava. Começava a perder as forças, quando o guerreiro finalmente o alcançou e, com um único golpe de sua montante já rubra do sangue da batalha, praticamente dividiu-o ao meio, sangue e órgãos se espalhando pelo chão.
- É, acertou, Liandra... – disse o ladino – Mas seria melhor se ele estivesse vivo, como vamos interroga-lo agora?
O outro ladrão, o único ainda vivo, observava tudo escondido na copa de uma árvore. Acreditava que havia escapado, quando uma flecha cravou-se no tronco da árvore. Com a surpresa, desequilibrou-se e acabou indo ao chão.
- Pode interrogar esse aí, Rodrick. – respondeu a arqueira, com um sorriso debochado.
O ladrão, mesmo atordoado pela queda, sabia o que o esperava, e começou a correr em meio às árvores. Esperava impedir assim que a arqueira conseguisse atingí-lo.
- Talmir, acho que pode fazer algo, pra variar, não? – disse o guerreiro, que voltava da colina.
- Eu poderia lembra-lo do que aconteceu naquela caverna do sul, não? Salvei sua bunda reluzente enquanto você se encolhia num canto, tremendo.
- Não fale assim comigo! Eram aranhas. Gigantes! Todos têm medo de aranhas, ainda mais gigantes.
- Claro, claro... que seja então, Andrin. Prisão Verde! – conjurou o mago. Imediatamente trepadeiras brotaram ao redor do ladrão, enroscando-se em suas pernas e ao redor de seus braços e prendendo-o em questão de segundos.
Todos se aproximaram lentamente do ladrão, que, apenas com a cabeça livre da conjuração do mago, começava a entrar em pânico. Cercaram-no, enquanto discutiam como fazê-lo falar.
- Eu acho que você tem uma chance de contar tudo o que sabe, antes que Rodrick decida usar suas facas em você. – falou o guerreiro, apontando para o ladino, que brincava com a lâmina de uma das facas.
- Eu... Eu não sei de nada! Acabei de entrar no bando! O líder era Kaznit!
- Aquele grandalhão que tentou me pegar pelas costas depois de mandar os outros nos atacarem? Se aquele era o líder, não me surpreende que vocês perderam tão feio...
- Eu juro! Kaznit só disse que sabia que um grupo ia passar por aqui e que teria muito ouro pra roubarmos!
- O que você acha, Liandra? Acreditamos nele?
- Hummm... não sei, Andrin... Ele é um ladrão, afinal de contas... Talmir?
- Tem razão... todos sabem como os ladrões são mentirosos... Sem ofensa, Rodrick.
- Nenhuma, faz parte do nosso trabalho. – o ladino responde, com um sorriso – Mas também faz parte do nosso trabalho fazer os outros falarem, de um jeito ou de outro...
Nisso ele aproximou-se do ladrão, passando a faca lentamente pela bochecha do mesmo, fazendo apenas um leve corte que deixou uma tênue linha de sangue.
- N-Não... por favor...
Rodrick começou devagar, fazendo apenas cortes no rosto, braços e peito do ladrão. O sangue começava a manchar a grama, mas ele continuava jurando que não sabia de nada. De sua bolsa, o ladino pegou, então, uma pequena haste de ferro, extremamente pontiaguda, e começou a espetá-la debaixo da unha de seu “interrogado”. O ladrão urrou de dor.
- Não vais falar?
- Eu... não sei... de...
Com um movimento rápido, Rodrick então girou a haste, arrancando a unha e fazendo o sangue do ladrão jorrar, enquanto ele tentava se soltar da prisão do mago. Seus gritos começavam a perder a força, mas ele ainda resistia.
- Nada? Bem, ainda temos 9 unhas, e isso sem contarmos as dos pés... mas estamos com pressa, então acho que vou partir para algo mais.... radical...
Os olhos do ladrão se arregalaram quando ele viu o ladino pegar outra haste, essa bem maior. Sem pestanejar, ele aproximou-se e cravou a mesma na barriga do interrogado, trespassando-o.
- Dizem que ter as tripas perfuradas dói mais que a picada de 100 serpentes... pelo seu rosto, parece ser verdade... mas calma, ainda não terminamos....
Pegando outra haste, Rodrick aproximou-se bem, mostrando-a e comentando, calmamente:
- Ter o pulmão perfurado também é doloroso... a respiração fica difícil por causa do sangramento... mas você é forte, acho que vai suportar bem...
Procurando um ponto entre duas costelas, o ladino olhou para o rosto de sua vítima, que abriu a boca, como que para dizer algo; nesse momento a haste foi cravada, fazendo nada mais que um suspiro emanar do ladrão.
- Droga... errei... acho que atingi uma costela depois de atravessar o pulmão... mas não se preocupe, tenho mais algumas dessas... – disse Rodrick, dando um tapinha no rosto do ladrão.
- P-pare... p-por... favor...
- Desculpe, não ouvi... o que disse?
- E-Eu não sei... quem nos con-contratou... s-só... só sei que... que deveríamos... n-nos encontrar em Ri-Riger... town... d-depois... do t-trabalho feito... p-para recebermos o resto do d-dinheiro...
- Viu, não foi difícil, foi? – sorriu Rodrick, enquanto, com um movimento rápido, cortava a garganta do ladrão e fazia o sangue dele escorrer.
- Nosso amigo vai estar em Rigertown, onde iria pagar aos nossos amigos pelo trabalho de nos matarem.
- Foi rápido dessa vez... – respondeu o guerreiro, enquanto examinava a espada de um dos ladrões.
- Que me lembre, estamos com pressa, não? Acharam algo de valor? – observou seus companheiros procurando nos corpos que mataram há pouco. Eram cerca de vinte, alguns decapitados, outros amputados, alguns mortos com perfurações. Um cenário macabro, com o sangue e corpos espalhados contrastando com o verde do bosque, como se fosse uma pintura de algum artista psicótico.
- Apenas algumas moedas. Kardur deve estar desesperado para mandar um grupo fraco assim nos atacar.
- Ou está apenas nos testando, Liandra.
- Pode ser, Talmir. Mas já passamos por coisa pior e ainda estamos atrás dele. – responde a arqueira.
- De qualquer forma, ainda temos dois dias até Rigertown. E estou com fome.
- Quando você não está com fome? Mas que seja, o sol já está baixando e temos que montar acampamento. – disse o mago, pegando um mapa – Há um córrego a uns dois quilômetros à leste. Pode ser um bom lugar para passarmos a noite.
- Vamos andando, então. Nossa busca ainda está longe de acabar....