"Eu conheço você!", foi o que ele disse, enquanto olhava para mim. "Sei que não seria capaz de uma crueldade dessas.", continuou, com os olhos cheios de lágrimas. Eu apenas observava a cena de forma indiferente, fria. "Você não fez isso, não é mesmo?", incrível o que alguns instantes de silêncio fazem com uma pessoa. Ele, que tinha tanta certeza, começava a duvidar. Sua voz era trêmula, na verdade, seu corpo todo tremia. "Pai, responde! O que aconteceu aqui?", ele perguntou, mas eu sabia que não queria uma resposta.
Sei perfeitamente como é traumático encontrar a mãe morta e o pai todo sujo de sangue, segurando o que aparenta ser a arma do crime. Só que no meu caso foi um pouco diferente: Minha mãe é que matou aquele velho porco que se dizia meu pai. Achei mais que merecido o que ela fez. Quando cheguei em casa, encontrei o velhote costurado no sofá com uma lata de cerveja na mão, só que no lugar da bebida tinha sangue; muito sangue. Minha mãe o matou com veneno, achei pouco... O velho deveria ter sofrido mais antes de partir dessa para a pior.
Enfim, voltando ao assunto principal. "E se disser que sim; que fui eu que fiz. O que vai fazer?", perguntei, enquanto apontava a faca para ele. Meu filho sempre foi o queridinho da mãe, às vezes ela preferia ficar com ele a ficar comigo. Vai ver o desgraçado comia ela quando eu não estava em casa. Nunca confiei naquela puta mesmo.
"Eu vou te matar.", tive uma vontade enorme de rir. Um magricela feio me ameaçando de morte. Realmente foi engraçado. Ele pegou a coisa mais perto que tinha - uma garrafa de vidro - e veio para cima de mim.
Foi legítima defesa, Doutor.
Ele queria me matar, eu tive que me defender.
Tirei a garrafa da mão do moleque com um movimento rápido e coloquei a faca no pescoço dele. "Eu poderia matar você, como fiz com aquela vadia ali, mas vou ser bonzinho e te deixar ir.", eu realmente estava disposto a deixar o pivete sair dali, mas o filho da puta aproveitou meu momento de caridade e jogou um vaso de porcelana nas minhas costas, aquilo me deixou puto. Já não bastava a vadia da mãe dele não ter aberto as pernas, agora o moleque queria me foder?
Foi realmente por legítima defesa, Doutor.
Me virei em sua direção e, sem pensar duas vezes, meti a faca no pescoço dele. Ela quase atravessou de um lado para o outro. Você deveria ter visto, foi um momento muito bonito e emocionante. Se fosse filmado, tenho certeza que passaria em câmera lenta, só para todo mundo poder apreciar a beleza daquele ato.
Meu filho ainda teve tempo de olhar para a mãe antes de morrer. Ele chorou e disse alguma coisa que não ouvi. Era um bichinha mesmo, chorando por causa de uma facada no pescoço. A mãe dele devia ser o macho da relação, porque nunca vi um bicho tão difícil de matar como aquela mulher, enquanto isso, o filho desistiu com uma facadinha. Vai entender.
Depois que ele morreu, eu arrumei a casa e fugi antes que a polícia chegasse. Só achei uma pena eu não ter tido tempo de dar um trato naquela vizinha gostosa da frente. Se a boca dela for tão boa para um boquete quanto é para falar da vida do povo, eu poderia até ter trazido ela comigo.
Agora chegou a minha hora de ir. Darei lembranças ao meu filho por você. Sim, falarei para a mãe dele que sente falta dela, mas se for por isso, o corpo da desgraçada está na garagem da casa, é só ir lá. Bom, é isso. Adeus.