"Saiba que os poetas como os cegos
Podem ver na escuridão"
E depois, outrora,
Como não há em cantos e cantarolas,
Não mas veem ao teu mesmo coração
Como antes vinham,
Como antes amavam com emoção.
Saiba que tal escuro,
Tal penumbra, tão oculto,
Se instala em quem a vê,
Quem a sente e por repente,
Quem foi amado e deixado
Com coração e boca atados
Para um fim sem perdão.
Em cruel estado e sem estatura,
Sem vergonha e a formosura
Da que antes tinha em seu viver
E agora não mais errante,
Não mais amado, não mais amante,
Há de sofrer como sofrem as luas,
Toda noite tendo-te por vista
E tendo de ver tua beleza perecer
Como perecem as flores,
Que nos inícios de amores
São arrancadas por orgulho
Para representar em sua forma,
Um símbolo, uma virtude,
Que já não mais há de viver.