Ombro Amigo
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 12/08/16 16:59
Editado: 04/12/22 15:30
Avaliação: 9.73
Tempo de Leitura: 4min a 5min
Apreciadores: 7
Comentários: 5
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Palavras: 670
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Música para acompanhar a leitura: Quando Bate Aquela Saudade do Rubel.

Baseado em afetos reais...

Capítulo Único Ombro Amigo

Saio de casa em silêncio. São seis e quarenta e cinco da manhã. A brisa gelada bate em meu peito protegido por duas blusas. Caminho pelas ruas desertas imaginando o que as pessoas dentro daquelas casas estão fazendo. Ruas são amontoados de almas buscando descanso. Talvez elas só estejam dormindo, enquanto sonham com coisas que nunca vão ter, penso.

Coloco os fones de ouvido e sou tomada por uma surpresa: está tocando aquela música... Aquela música que faz bater uma saudade de você. Ouvir Rubel tornou-se uma forma bonita de reviver lembranças sobre nós.

Mesmo assim, ainda estou sangrando por dentro. Não por você, mas pelas coisas ruins que vem se acomodando em meu peito. As coisas em casa não vão bem. Ontem, após chegar do curso, fui bombardeada por informações que faleceram minha alma. Por isso minhas palavras estão distantes. Por isso escondi com maquiagem meus olhos inchados. Tento não sucumbir ao desejo de sumir. Sempre estou apoiando todos, porém, quando estou caindo, quem esticará os braços e salvará o que resta de mim?

Estou na porta da escola. Te avisto ao longe como faço todos os dias, porém estou tão afogada nas mágoas que só quero correr para qualquer lugar vazio. Vejo-me no meio da multidão, transbordando solidão. Subo as escadas.

Não quero encontrar você.

Não quero olhar para você.

Não quero que você veja minha tristeza com tanta clareza.

Querer não concedido.

Termino de subir o segundo lote de escadas e dou de cara com você, sentado na nossa escada.

Te cumprimento sem olhar em seus olhos, porque tenho medo de me perder neles mais uma vez.

Silêncio.

Apenas nos resta ouvir o eco das vozes no pátio.

Silêncio.

Nos contentamos em ouvir o barulho do vento, soprando para longe as folhas das árvores.

Silê...

— Está brava, B.?

Sou surpreendida pela pergunta, porém, ao mesmo tempo, sinto um palpitar mais forte em meu peito que vai aumentando e aumentando, até a dor subir aos meus olhos, que começam a lacrimejar. Minha resposta é apenas um balançar de cabeça representando um tímido "não".

— Então está triste?

Droga, agora você me fita rigidamente com esses olhos grandes e castanhos. Balanço a cabeça positivamente e coloco as mãos em meu rosto. Sinto que vou desmanchar. Sinto que você sabia o tempo todo que havia algo de errado comigo.

E então, silêncio.

Resta-nos somente olhar o céu nublado pelas janelas da escola.

Silêncio.

Pode-se esperar a catástrofe de meu peito se concretizar junto com a tempestade que se aproxima.

Silênc...

— Quer um chocolate? — Você pergunta.

— N-não, mas obrig...

— Tem certeza? Você vai se sentir melhor. É uma tartaruga!

— Sim, R., mas obrigada, de verdade — Respondo, sorrindo.

Você me lança um sorriso em resposta e se aproxima um pouco. Arrependo-me amargamente de não ter aceitado teu chocolate, mas você jamais saberá disso, eu acho.

Começo a ver borrões por todo lado: são minhas lágrimas distorcendo a realidade. Entretanto, me aconchego em teu ombro e a dor se ameniza. O toque de ombro com cabeça é quase o mesmo que o toque de amor com coração. O palpitar começa a diminuir e a dor vai para ti, pois agora estamos ligados por esse sentimento ruim que nos leva a ter momentos bons. Nem toda dor vem para partir, porque, às vezes, ela vem para reconstruir os pedaços de uma história que ainda não acabou.

— A porta da sala está aberta? — Pergunto para desviar um pouco a tensão do momento.

— Vou ver.

Você se levanta e da uma espiada pelo corredor. Céus, sinto vontade de sorrir só por sentir seu perfume consumir o seu andar tão descontraído.

— Sim, está aberta. Vamos entrar?

— Sim, vamos.

Pegamos nossas mochilas e partimos em direção a sala.

Queria partir contigo para qualquer lugar, com portas abertas ou fechadas.

Será que você sabe o quão bem me faz?

Será que você sabe que ainda o amo em segredo?

Prometi que não iria voltar atrás nessa história antiga de te amar.

Mas você sabe que não sou boa com promessas.

❖❖❖
Apreciadores (7)
Comentários (5)
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Postado 12/08/16 19:42

"E estou com uma saudade danada de ir dormir bem cansado só pra acordar do teu lado pra te dizer..."

Que eu amei essa história. Que eu amei-a demais.

la laia laia lalaia la la~~

Olhe bem, moça Sabrina, você escreve essas histórias tão cheias de carinho e completamente relacionáveis... tirando, é claro, o fato de estar amando a pessoa mais próxima e que a deixa tão livre das preocupações.

Mas os sentimentos, a narração, tudo, tudo foi incrível. Os momentos de silêncio quebrados por quem se importa, quem não consegue ver um amigo parecer para baixo e faz de tudo para levantar seu estima, mesmo que suas ações acabem substituindo a preocupação universal por outra, mais pessoal e íntima, aquela que você guarda apenas para si mesmo. O segredo deteriorante que às vezes é escondido da própria mente.

E os pensamentos da Brina no início, exercendo filosofia enquanto anda até a escola, tentando distrair a mente, céus, estou torcendo por essa menina, espero que tudo se resolva.

Hmm, no final, posso inferir que ela já foi sincera com o amigo uma vez, e ele disse algo nas linhas de "você está só confusa, porque somos muito próximos"? Mais um ponto identificável que faz o coração se retorcer? Confere.

Texto maravilhoso, Sabrina, parabéns *---*

Postado 13/08/16 16:02

Daí você lê o comentário da pessoa e simplesmente não sabe como responder! Tu e essa mania de me deixar sem palavras rs.

Só posso te agradecer por ter realmente entendido cada palavra. E sim, houve sinceridade (de ambas as partes, na verdade), mas por um erro idiota, uma história de amor tão bonita deixou de acontecer :c Porém, nunca se sabe o dia de amanhã. Esperar é somente o que eu posso fazer u.u

Agradeço por suas palavras, Tháiza <3333 e me desculpe por não conseguir responder algo à altura de teu comentário tão maravilhoso.

Postado 12/08/16 19:41

Cute.

Sinto-me velha a ler estas histórias. O amor é tão interessante na forma como as idades lhe reagem, quando somos pequeninos é algo nojento e asqueroso, crescemos e na pre-adolescencia é toda aquela "uh tenho um namorado vamos brincar de imaginar filhos" e depois chega a adolescência cheia de amores estranhos, que doiem, que nos fazem feliz e depois triste em segundos. O tipo de paixonetas que nos arrasam completamente. O tempo de jovem-adulto parece até mais simples quando olho para trás.

Espero que tenhas um final felizes, fofinha.

Postado 13/08/16 15:51

Essa sua reflexão sobre amor é a mais realista que eu já li. O amor é como a Lua, possui fases para completar um ciclo.

Agradeço pelo comentário, Aléxia! <3

E espero ter um final feliz também,rs.

Postado 13/08/16 13:14

Muito cute. Sério. Adorei as frases de amor no texto. Seus contos parecem quando se toca na pétala de uma flor e delicadamente a acaria. É tão sutil e calmo... Sei lá xD

Meio que me embriaguei de qualquer coisa boa ao ler isso.

Parabéns! <3

Postado 13/08/16 16:04

Fico feliz que tenha gostado, Joy! Enche-me de alegria saber que essas palavras trouxeram algum tipo de sentimento bom para ti c:

Obrigada, flor <333

Postado 15/08/16 00:00

Olha só que belíssimo texto conseguiste fazer aqui...

É incrível como mesmo quando o sentimento não é favorável, tristonho e devastador você consegue dar sutileza, veracidade e, absolutamente sempre, autenciade aos teus textos, parbéns, bolinho. c:

Postado 17/08/16 20:52

Ah, poxa, obrigada, Gio! c:

Postado 03/08/20 18:34

Lendo seu texto tão fofinho fez eu lembrar de uns amores deixados pra tras, é bom lembrar, as vezes dói, mas é bom, e muito bom também é o seu texto, que eu adorei *_*

Postado 03/08/20 18:48

Fico muito feliz, Vilma.

Obrigada ♥

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