Saio de casa em silêncio. São seis e quarenta e cinco da manhã. A brisa gelada bate em meu peito protegido por duas blusas. Caminho pelas ruas desertas imaginando o que as pessoas dentro daquelas casas estão fazendo. Ruas são amontoados de almas buscando descanso. Talvez elas só estejam dormindo, enquanto sonham com coisas que nunca vão ter, penso.
Coloco os fones de ouvido e sou tomada por uma surpresa: está tocando aquela música... Aquela música que faz bater uma saudade de você. Ouvir Rubel tornou-se uma forma bonita de reviver lembranças sobre nós.
Mesmo assim, ainda estou sangrando por dentro. Não por você, mas pelas coisas ruins que vem se acomodando em meu peito. As coisas em casa não vão bem. Ontem, após chegar do curso, fui bombardeada por informações que faleceram minha alma. Por isso minhas palavras estão distantes. Por isso escondi com maquiagem meus olhos inchados. Tento não sucumbir ao desejo de sumir. Sempre estou apoiando todos, porém, quando estou caindo, quem esticará os braços e salvará o que resta de mim?
Estou na porta da escola. Te avisto ao longe como faço todos os dias, porém estou tão afogada nas mágoas que só quero correr para qualquer lugar vazio. Vejo-me no meio da multidão, transbordando solidão. Subo as escadas.
Não quero encontrar você.
Não quero olhar para você.
Não quero que você veja minha tristeza com tanta clareza.
Querer não concedido.
Termino de subir o segundo lote de escadas e dou de cara com você, sentado na nossa escada.
Te cumprimento sem olhar em seus olhos, porque tenho medo de me perder neles mais uma vez.
Silêncio.
Apenas nos resta ouvir o eco das vozes no pátio.
Silêncio.
Nos contentamos em ouvir o barulho do vento, soprando para longe as folhas das árvores.
Silê...
— Está brava, B.?
Sou surpreendida pela pergunta, porém, ao mesmo tempo, sinto um palpitar mais forte em meu peito que vai aumentando e aumentando, até a dor subir aos meus olhos, que começam a lacrimejar. Minha resposta é apenas um balançar de cabeça representando um tímido "não".
— Então está triste?
Droga, agora você me fita rigidamente com esses olhos grandes e castanhos. Balanço a cabeça positivamente e coloco as mãos em meu rosto. Sinto que vou desmanchar. Sinto que você sabia o tempo todo que havia algo de errado comigo.
E então, silêncio.
Resta-nos somente olhar o céu nublado pelas janelas da escola.
Silêncio.
Pode-se esperar a catástrofe de meu peito se concretizar junto com a tempestade que se aproxima.
Silênc...
— Quer um chocolate? — Você pergunta.
— N-não, mas obrig...
— Tem certeza? Você vai se sentir melhor. É uma tartaruga!
— Sim, R., mas obrigada, de verdade — Respondo, sorrindo.
Você me lança um sorriso em resposta e se aproxima um pouco. Arrependo-me amargamente de não ter aceitado teu chocolate, mas você jamais saberá disso, eu acho.
Começo a ver borrões por todo lado: são minhas lágrimas distorcendo a realidade. Entretanto, me aconchego em teu ombro e a dor se ameniza. O toque de ombro com cabeça é quase o mesmo que o toque de amor com coração. O palpitar começa a diminuir e a dor vai para ti, pois agora estamos ligados por esse sentimento ruim que nos leva a ter momentos bons. Nem toda dor vem para partir, porque, às vezes, ela vem para reconstruir os pedaços de uma história que ainda não acabou.
— A porta da sala está aberta? — Pergunto para desviar um pouco a tensão do momento.
— Vou ver.
Você se levanta e da uma espiada pelo corredor. Céus, sinto vontade de sorrir só por sentir seu perfume consumir o seu andar tão descontraído.
— Sim, está aberta. Vamos entrar?
— Sim, vamos.
Pegamos nossas mochilas e partimos em direção a sala.
Queria partir contigo para qualquer lugar, com portas abertas ou fechadas.
Será que você sabe o quão bem me faz?
Será que você sabe que ainda o amo em segredo?
Prometi que não iria voltar atrás nessa história antiga de te amar.
Mas você sabe que não sou boa com promessas.