— Hey! Vamos logo, Sammy! Não quero me atrasar por sua causa!
As risadas e os passos rápidos de duas crianças enfeitavam as ruas que passavam. Ah, infância. Que época boa de se viver... Ainda mais quando se tem uma amiga-irmã que dizia sempre estar ao seu lado, não importando o que acontecesse. No caso, as únicas preocupações que as duas tinham eram: castigos de suas mães e/ou enfrentar aquele grupinho de garotas metidas que se achavam as melhores.
— Calma, Mary! Eu estou sem fôlego!
A mais alta riu baixo e desacelerou, dando meia volta e caminhando até a menor que respirava profunda e rapidamente.
— Relaxa, tá? Se recomponha. Vamos mais devagar agora e quando chegarmos na aula eu digo para a senhora Elsa que eu quem atrasei.
— Mas...
— Shh. Somos amigas, não somos? Não vou te deixar levar outra advertência.
O sorriso de Mary iluminou os olhos castanhos da menor que também sorriu. A loira era, para Sammy, sua heroína – sempre a salvava e, segundo as palavras dela, sempre a salvaria.
Então, recompondo-se, Sammy segurou a mão de sua irmã e ambas partiram para a escola, conversando sobre tudo e, ao mesmo tempo, sobre nada.
— Mary, me explica uma coisa?
— Pode dizer, Sammy. O que é?
— Por qual motivo nenhum garoto olha pra mim e todos olham para você?
A loira olhou para a menor, suspirando. Estavam, agora, com treze anos. Puberdade. O momento da vida das pessoas que começam os problemas relacionados ao amor e a segurança de ser quem é mesmo indo contra os rótulos da sociedade.
E Mary tinha, agora, um grande problema para lidar. De fato, os garotos só tinham olhos para ela e não para Sammy. A menor era tímida, um pouco gordinha, rotulada como a estranha e esquisitona da escola por causa de seus gostos. Já ela, a loira dos olhos azuis, era a bonequinha extrovertida e tagarela. Aquela que sempre fazia tudo do modo mais perfeito e chamava a atenção dos outros por conta de sua personalidade.
Sammy e Mary eram diferentes. Diferentes ao extremo. E, mesmo assim, parecia que nada abalava a irmandade das duas.
— Ora, Sammy. Quem liga pra esses idiotas?! Olha só pra você, uma garota linda e completamente inteligente. Não se deixe abalar por essas coisas.
Sammy desviou o olhar e deu um sorrisinho amarelo. As lágrimas ameaçaram a escorrer, mas ela segurou. Não iria chorar na frente de Mary. Nunca.
— É... Tem razão.
— Sammy, preciso te dizer uma coisa...
Mary estava olhando para baixo e parecia tremer um pouco. A menor engoliu em seco e esperou, sentindo o vento bagunçar seus cabelos cor de chocolate.
Estavam no quintal da casa de Mary, comendo morangos com chocolate – preparados pela loira, que era excelente, até mesmo, na cozinha.
— O que, Mary...?
— Eu vou me mudar.
— Ora, mas isso não é bom?! Você sempre disse que não gostava de morar nessa casa. Agora terá uma nova!
— Sim, eu sei... Mas... Eu quis dizer que vou mudar de cidade.
Ao ouvir aquilo, Sammy largou o morango que estava em sua mão e ficou encarando Mary. Mal respirava e não sabia o que dizer ou o que fazer. Estava perplexa, sem reações. Sentiu seu corpo começar a tremer e seu coração a bater mais rápido. O desespero instalou-se nela.
— O que...? Como.... Como assim...? Você vai me deixar...? Eu vou perder você? É isso...?
— Não! Sammy, não vou deixar você. Vamos nos falar pelo celular e pelo facebook, eu prometo! Você não vai me perder.
— Mas... E na escola? Com quem vou ficar? Vou... Vou ficar sozinha lá... Completamente sozinha...
— Não vai! A Isabel ficará com você. Ela gosta da gente, esqueceu?
— Ela gosta de você, Mary. Ninguém lá gosta de mim.
A loira abaixou a cabeça e nada mais disse. Aquilo, para a menor, significou o adeus. Então, virando-se, Sammy correu para fora da casa de sua amiga, chorando e com o coração apertado.
Sammy andava lentamente pelas ruas do centro da cidade. Tinha, agora, seus dezenove anos. Estava cursando Direito numa faculdade em sua cidade e namorava um rapaz que a amava verdadeiramente. Era visível tal sentimento só de olhar nos olhos dele. O cabelo da garota estava, agora, com luzes. Loira. Em homenagem a Mary.
Ela parou em frente a uma sorveteria e sorriu tristemente. Lembrou-se de quando ia tomar um milk-shake com a sua amiga-irmã e sentiu as lágrimas escorrerem. Tratou de limpá-las logo, não queria que seu amado a encontrasse assim.
— Quatro anos e meio...
Ela sussurrou para si mesmo o tempo que se passou desde a mudança de Mary. A maior cumpriu sua promessa. Elas conversaram por um bom tempo pelo celular e facebook, porém, aos poucos a distância entre elas fora aumentando. Não fisicamente, mas, sim, sentimentalmente. As irmãs se tornaram colegas e estava no ponto de tornarem-se apenas conhecidas.
Então, ao olhar para frente, seu coração deu um pulo e parou. Lá estava ela. Sua irmã. Sammy sorriu ao vê-la e deu um passo para atravessar a rua e ir correndo até Mary para abraça-la. Era o que mais queria na vida.
Porém, algo a fez recuar. Mary não estava sozinha; ao seu redor encontrava-se um grupinho de cinco pessoas. A loira ria e sorria, divertindo-se com eles. Deveriam estar conversando sobre algo bem engraçado enquanto esperavam por alguma coisa, já que estavam sentados numa mesa do lado de fora da lanchonete.
Sammy sentiu-se vazia. Sentiu-se solitária. O choque da realidade acabara de bater em sua face. Por qual motivo Mary não avisou que voltaria para a cidade? E se ela sequer tivesse saído e inventou uma desculpa para se afastar dela?
Trincando os dentes, a menor tentou engolir o choro mas não conseguiu. A dor em seu peito era tão forte que ela sentia vontade de arrancar seu coração. O sentimento de solidão e tristeza ficavam cada vez mais forte.
Dando uma última olhada para Mary, Sammy percebeu que a loira estava olhando para ela. Por um instante, a menor teve certa esperança. Sua irmã a chamaria ou iria correndo até ela para saber o motivo de estar chorando.
Mary desviou o olhar e voltou a rir e sorrir com seu grupinho.
Sem palavras e completamente machucada, Sammy virou-se e voltou a andar. Dessa vez, cabisbaixa, chorando e praticamente se arrastando até o local de encontro que marcara com seu namorado.
— Nada é para sempre...
Ela sussurrou para si mesma e deixou-se cair sentada no banco da praça. Teria que dar muitas explicações para Marcel. Mas, no momento, ela apenas queria chorar. Chorar até suas lágrimas secarem-se e a dor em seu peito, pelo menos, diminuir.