Agora isso está sendo difícil.
Porque no começo nunca é fácil de entender ou aceitar. Os sentimentos ficam à flor da pele, e nós os misturamos a ponto de não saber o que é o quê e acabamos por nos confundir, como se tudo fosse uma só coisa – e realmente pode ser. Não encontramos explicação para o fim. Nunca. Nem um término, nem uma morte. A diferença é que quando tem a morte envolvida sabemos que não tem como voltar, e um término é uma opção. As coisas sempre dão um jeito de piorar. E o que era amor, se transforma em algo completamente diferente: raiva, ódio, desprezo. E onde vai parar o que era tão bom? Em algum lugar que esteja bem longe do que se passa dentro de nós. O começo de um término – veja que irônico – é a parte mais complicada de lidar. Pior ainda é ter que ir quando o que mais se quer é ficar. Ficar por ficar. Ficar por ser bom. Ficar por ser necessário. Ficar por amar. Mas não se pode ficar em um local onde se tem todos os motivos para ir. Eu já li por aí que quando se tem cem motivos para ir embora e apenas um para ficar, esse um é o que prevalece. Mas e quando só existe a nossa vontade? Acredite, ela não consegue ser forte o suficiente.
Eu aprendi que o amor por si só não se sustenta, e concluí que o amor por si só não é suficiente. Em algumas situações até que pode ser, mas, na maioria das vezes, não é. Ele é lindo, ele cura, ele acaricia e ele traz coisas que você gostaria de ter pelo resto da vida. Mas ele precisa ser recíproco. Talvez nessa situação, ele por ele mesmo possa bastar. Talvez dentro disso, ele seja suficiente para a decisão de ficar. E não falo apenas da reciprocidade como um “eu também te amo”. Eu falo de querer, de lutar, de insistir, e de em momento algum deixar de lado. A reciprocidade tem que ser completa. Ela precisa vir de ambos os lados, e ambos têm que querer o mesmo, além de sentir. É por isso que um término sempre traz dor. Porque um dos lados quer ir, e o outro quer ficar. É difícil encontrar um casal que termine por decisão conjunta – eu, por exemplo, nunca encontrei, e mesmo assim deve existir dor, nem que seja só uma pitada. A morte, porém, ultrapassa o amor e a reciprocidade, até mesmo quando elas existem juntas. A partir do momento que sabemos que não mais vai voltar, machuca cada vez que isso é lembrado.
E não importa o quanto a gente queira ou o quê estamos dispostos a dar para que tenhamos de novo, simplesmente não voltará. E nunca nos conformamos com isso, por isso nunca estamos preparados para lidar com a morte – a não ser que ela não esteja vinculada a nós de forma alguma. Quando você rompe um relacionamento, seja ele amoroso, amigável ou familiar, o começo é sempre difícil. Porque você se parte e parte alguém. E superar isso demora, exige calma e dedicação – sim, dedicação porque você precisa se dispor a encarar. E você vai se lembrando de risadas, de cheiros, de abraços, de brincadeiras, de beijos e tudo o que puder te trazer alguma sensação, sendo ela boa ou ruim. E isso vai te corroendo lentamente, como se fosse divertido, e não, não é.
Mas, apesar de difícil, não é impossível.
Nada é.