Há algum tempo, no nosso imenso universo azul profundo, onde pessoas de todas as idades gostam de perder-se diante das luzes e cores distintas, uma pequena estrela surgiu. Deu-se após um colapso de uma nuvem de material, sua mãe, com traços de elementos mais pesados, o pai. Seu tamanho era mínimo; não chegava nem perto do luminoso Sol, mesmo que ele não fosse tão grande assim! Então, imagine que a miúda não tinha posto naquele lugar expansivo, muito menos importância. Era só qualquer uma, feita para ser vista pelos outros através de telescópios e até mesmo rebaixada ao comparada com o amor de alguém da nossa verdinha Terra.
Com o tempo, foi amadurecendo, ganhando forma e preparando-se para um dia ter seu próprio brilho. Às vezes, até mesmo podia ser fitada de outros planetas quando não acabava sendo ofuscada perante os maiores. Porém, isso causava uma sensação de cansaço e desamparo. Se havia vindo tão somente para ficar sem propósito e ainda por cima servir para outros se sentirem melhores e amados, se fosse qualquer o fenômeno responsável por sua criação, por que seria chamada de importante por perto, e ao mesmo sumir, estaria achando graça de si?
E foi assim que começou a se sentir em seu leito de morte, fora do corpo plasmático que possuía. Todos temos mortes diferentes. Mas se algum dia acordasse e o seu impulsor tivesse chegado ao fim, não conseguisse aguentar o o peso do mundo, sentimentos, camadas e esse tipo de coisa que estrelas fazem antes de morrer, não sentiria nenhum pouco de surpresa. Aliás, se acabasse por realmente acontecer, teria algum destaque nos assuntos discutidos pelos cientistas. "Estrela morre antes mesmo de brilhar e pesquisadores não sabem o porquê", seria a notícia que teriam em todos os jornais e TVs.
Então, a pequena deitou-se no meio do nada, pensando nos bilhares de anos que passaria flutuando, sendo mantida pela gravidade e pressão de radiação que a cercava. Aquilo era o que mantinha-a viva, e abraçava com toda força. Enquanto isso, ao mesmo tempo, alguém deitava no gramado seco de seu quintal, observando o céu limpo que era proporcionado. A única coisa que o mantinha vivo era o que todos tinham: pelo menos um único apoio para viverem, junto de sua própria radioatividade, inimigos. Ambos tinham algo em comum: Não se sentiam como se tivessem vindo ao mundo no corpo certo. Dia, lugar certo. Era como se algo impedisse e rótulos tomassem conta do seu eu verdadeiro, lentamente se dissipando.
Desde seu nascimento, teve que viver com o que lhe foi imposto. Porém, era aquilo que menos desejava. Tanto que sentia uma disforia intensa toda vez que podia se ver. Foi dali que seu núcleo revirou, embrulhou, contorceu. Uma guerra estava acontecendo dentro de si devido à uma fusão nuclear. Hidrogênio. Um elemento que era responsável por liberar toda energia que atravessa o próprio interior e irradiava para todo espaço sideral, finalmente chegando ao seu estupor, ápice de glória. Um brilho que vários consideram como única salvação e esperança do amanhã. Havia nascido como ele, não se tornado. E se aquele rapaz que um dia deitou-se consigo e esqueceu o mundo pudesse vê-lo, sabia que estaria orgulhoso dos dois. Porque agora estavam mais juntos e semelhantes do que nunca.
Sua alegria durou pouco, se fundindo ao doloroso hélio da maturidade e envelhecimento, causando uma reação que causava instabilidade e mudanças irreversíveis. Nunca voltaria a ser o mesmo de antes. E mesmo que não sentisse as camadas próprias desabando sobre seu pequeno e denso centro, muito menos virasse uma nebulosa planetária, poderia morrer em paz. Evaporou para o mundo e tornou-se uma anã marrom, e como o esqueleto de um ser humano, não poderia mais viver a flor da pele, eternamente tendo sua baixa luminosidade como única companheira, tendo por fim..
Sua vida completa como desejava.