Eu sabia que o magoava e ele sabia que me magoava e nenhum de nós conseguia fazer algo sobre isso. E enquanto as estrelas brilhavam naquela noite sentamo-nos frente a frente. Tentamo-nos arranjar um ao outro como se isso fosse possível. Tentamos remediar o que não dava para remediar, inutilmente gastando tempo e energia que não tínhamos mais. Sobre o olhar curioso do céu estrelado sentamo-nos frente a frente, de olhos bem postos um no outro tentando reconstruir algo que ambos sabíamos que não era possível. Deitamo-nos lado a lado, espreitando as estrelas que rasgavam e caiam do céu azul-escuro. As nossas pernas entrelaçadas como sempre tínhamos feito. Até que ele finalmente disse "Eu amo-te certo? Raios! Deus sabe o quanto eu te amo! Mas isto não está a funcionar, pois não? Estamos a destruir os nossos corações. Chega a parecer que estamos a viver de um tempo que nos foi emprestado". E eu não disse nada. Fiquei ali deitada observando os pontos brancos ou amarelos tentando perceber o seu infinito número. Eu não precisava dizer nada. Porque era verdade e eu sabia-o. Mas não queria dizer que não odiasse aquilo. Ficamos ali numa eternidade efémera. Fiquei ali deitada a odiar como tudo se contradizia. A verdade era que ele estava certo, então porque é que doía tanto?