Vazia
Vitória Turbiani
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/08/16 09:39
Gênero(s): Drabble Drama Reflexivo
Avaliação: 8.77
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 13
Comentários: 8
Total de Visualizações: 1371
Usuários que Visualizaram: 22
Palavras: 397
Não recomendado para menores de doze anos
Notas de Cabeçalho

Depois de trocentos anos, apareço com um novo texto. Sei que poucos vão ler, mas isso não me importa (não mais). Apenas escrevo e posto por prazer próprio. Mas, caso haja usuários que lerem e comentarem essa obra, ficarei absurdamente feliz.

Eu postaria esse texto para o Torneio Mórbido, contudo ao dar uma revisada fiquei com uma pulga atrás da orelha no quesito "estou fujindo do tema". Então, pra não perder a chance de publicar um texto meu depois de muito tempo sem escrever algo (e já vou pedindo desculpas pela péssima qualidade dele, pessoal. Já não escrevia bem, sem prática então...), postarei esse conto e farei outro para o Torneio.

Caso goste de uma leitura com uma música instrumental ao fundo, deixarei aqui o link da melodia que ouvi ao escrever: https://www.youtube.com/watch?v=oN2Xs-MvxLw

Boa leitura a todos. <3

Capítulo Único Vazia

Seus olhos estavam sem foco e observavam o nada enquanto várias coisas ocorriam a sua volta e a neve caía em seus cabelos cor de fogo. Antes repletos de brilho e vida, seus orbes eram, agora, de um verde musgo completamente esmaecido, insosso – diferentemente de algumas semanas atrás, que pareciam duas esmeraldas tão reluzentes quanto a luz do sol.

Vazia.

Era como ela se sentia após o acontecimento que marcou o fim de sua existência, dois dias atrás. Perdera seus pais, seu irmão e o amor de sua vida. Maldito seja aquele motociclista embriagado que fizera seu pai perder o controle do carro e ir morro abaixo.

E maldita seja ela mesma, por ter sido a única a sobreviver, mesmo que tal fato esteja para mudar. Afinal, a morte era, nessa situação, acolhedora e heroica já que traria sua paz e, possivelmente, sua felicidade. Ela iria vê-los novamente, não iria?

Ouviu-se, então, o barulho de sirenes. O que poderia ser isso? Engolindo em seco, a garota deu meia volta e passou a caminhar lenta e dolorosamente. A camisola branca estava a ficar ensopada de sangue na região de seu abdômen e seus pés descalços já estavam arroxeados por conta do frio que ela ignorava.

Estava vazia. Nada mais importava.

Todos diziam para ela, no hospital, que tudo ficaria bem e que ela teria uma vida boa. Iria morar com seus tios, na França. Faria a tão sonhada faculdade de moda e se tornaria uma modelo belíssima – afinal, seus lindos cabelos ruivos seriam sua marca, sua assinatura.

Anastácia Von’Duff, a modelo extremamente bonita e bem sucedida do mundo.

Ela sorriu tristemente com tais pensamentos e deixou-se cair no chão; a queda fora amortecida pela neve macia e gélida que beijou-lhe o rosto e o corpo inteiro. Logo, o branco tornara-se escarlate. A ferida causada pelo acidente abrira-se novamente, mas aquilo não importava.

Anastácia apenas queria abraçar seus pais novamente. Irritar seu irmão mais novo. Beijar seu amado e dizer o quanto o amava. Apenas isso. Mais nada. Era pedir muito?

Os olhos esverdeados foram se fechando aos poucos, a pele clara tornava-se arroxeada, assim como seus pés. O corpo tremia violentamente e seu sangue não parava de escorrer.

Um último suspiro. Uma última lágrima.

E então, a escuridão instalou-se, para sempre, nela.

Vazia. Solitária. Triste. Eis o fim da chama que chamamos de vida.

Maldito seja aquele motociclista...

❖❖❖
Apreciadores (13)
Comentários (8)
Postado 04/08/16 11:54

Legal, o conto. Para mim, tá dentro do propósito do desafio, inclusive, hehe. E é incrivel como solidão e tristeza tendem levar a morte, ainda mais algo como tu retrataste.

Parabéns!

E permita-me fazer uma pequena correção. Esse texto não éum drabble pois não tem exatas 100 palavras.

Postado 06/08/16 23:05

Me sinto sádica de ter que colocar carinhas com corações para indicar o quão bom achei o texto, mesmo que ele tenha me deixa triste, apesar de ser muito bem feito. :(

Postado 11/08/16 16:08

Faço meu o comentário da Juh kkkk

Senti exatamente a mesma coisa hehehe

Muito boa narração, Vic :)

Acho que está dentro do tema tbm. De qualquer forma, o outro está tão fantástico quanto esse. Boa sorte! <3

Postado 19/08/16 02:07

Como um apreciador de textos intensos, não recebi nada mais nada menos do que esperava. Novamente criaste um texto que consegue fazer o leitor ficar imerso ao decorrer do texto e simpatizar com os personagens (Anástacia melhor nome <3), se identificar ao menos um pouco e trazer questionamentos interessantes e importantes sobre como podemos estar no auge da vida e simplesmente perdermos tudo num instante. Ou até mesmo na valorização daquilo que nos traz alegria ou algo mais intenso, como a felicidade.

O português, como sempre, quase impecável, com um uso de fácil acesso, mas que demonstra certa "nobreza" e classe ao utilizar. Estou aqui como apreciador de seus textos, estava com saudades de lê-los :')

Você arrasou, moça!

Postado 22/08/16 22:01

Quanta dor, quanta intensidade, é maravilhoso ver a riqueza de vocabulário misturada com um mar de sensações, lindo! (E tristíssimo).

Postado 19/11/16 13:41

Um texto profundo e intenso. Adoro a intensidade e tristeza mesclada com ricas palavras. Muito bom este texto. Obriga por compartilhar conosco, Vitória!

Postado 18/09/18 13:07

Um ótimo texto, sem dúvida, srta Vitória. Retratou muito bem como nos sentimos ao perder quem amamos e o que isso pode levar..

Muitas vezes nem a melhor perspectiva é consolo para nossa dor e você retrotou perfeitamente isso.

Receba os parabéns de um velho mestre

Postado 22/12/23 13:25

Que coisa interessante, é a segunda coisa que vejo hoje, aleatoriamente, relacionada a acidente de trânsito com vítimas fatais... Será um aviso?! Custa nada se cuidar um tiquinho...

Quanto ao texto, achei excelente, a narrativa prende o leitor e quebra seu coração no final...

Parabéns!