– O que estão prestes a ver é a descrição do primeiro assassinato de um psicopata que hoje se encontra detido e aguardando julgamento. Prestem bastante atenção nas palavras dele, pois eu quero que façam um trabalho sobre isso para entregar na próxima aula.
“
Não lembro o nome dele, mas acho que era Paulo ou algo que começava com P. Para mim o nome era o de menos. O que me chamou atenção mesmo foram os olhos, eles eram claros como uma manhã de primavera. Eu queria possuir aqueles olhos, mas não era possível de maneiras convencionais, então decidi que os teria de formas menos nobres, sabe?
Lembro que eu o segui por uma rua menos movimentada e o apunhalei pelas costas. Ele era tão leve, parecia um anjo adormecido em meus braços. No começo eu só tinha interesse pelos olhos, mas depois que ele estava ali, totalmente amarrado; submisso, não me contive e quis brincar um pouco.
Primeiro eu usei a faca. A forma como eu a manuseava chegava a ser obsena e os gemidos, abafados pela fita adesiva, que saiam da boca dele só tornavam as coisas mais interessantes e divertidas para mim. Tudo era tão belo. Os cortes eram deveras profundos e o sangue que escorria deles encharcava a cadeira na qual estava amarrado. O sangue chegava a escorrer para o chão também. Tudo estava sendo tingido da minha cor favorita: vermelho.
Alguns cortes a mais e então decidi bater em sua cabeça até que ele perdesse a consciência mais uma vez. Tirei-o da cadeira e joguei na cama velha que tinha ali perto. Amarrei suas pernas e braços. Enquanto esperava ele acordar, fui buscar o alicate que estava perto da cadeira onde ele estava amarrado antes. Em outros tempos eu teria transado com ele até o amanhecer, mas eu era novo nesse negocio e foquei apenas nas coisas que eu nunca tinha feito.
Assim que ele acordou, tirei a fita de sua boca e acariciei aqueles lábios carnudos. A música suave que tocava no rádio contrastava com os gritos agonizantes dele enquanto eu arrancava seus dentes brancos. Alguns saiam perfeitamente inteiros, já outros quebravam rapidamente.
Todo aquele sangue enchia minha vista de felicidade, mas a julgar pelo seu estado, ele poderia morrer a qualquer momento. Estava pálido, praticamente sem sangue. Esse fato me deixou muito triste. Eu estava me divertindo tanto que não queria que acabasse daquela forma.
Eu era novo naquilo tudo e, por causa disso, a brincadeira não durou muito, mas eu fui me aperfeiçoando com o tempo. Lembro-me de um cara, o Carlos, ele me deu a melhor noite da minha vida. Nós fizemos sexo antes e depois dele morrer. Aquele sim foi o meu ápice.
Mas voltando para o... Pedro? Não, acho que não... Enfim, eu tentei conversar com ele. Acho que eu disse algo do tipo: “Não desista agora, seja forte” e “Você ainda pode achar um jeito de sobreviver.” Não consigo lembrar se foram essas palavras exatas, mas sei que tentei dar uma força pro cara, já ele tava precisando, sabe? Eu queria que ele lutasse para viver um pouco mais; para me fazer feliz.
Quando eu vi que era inútil ter esperanças, fiquei tão frustrado que pensei até em deixar ele lá, morrendo lentamente; engasgado com o próprio sangue, mas pensei melhor e decidi acabar com tudo de uma vez.
Eu era o autor daquela obra e não poderia deixar que o destino ou o tempo finalizassem o meu primeiro manuscrito.
Busquei a faca que havia jogado no chão e, sem aviso prévio, cortei sua garganta. Acabou que não foi um final digno de prêmios, mas pelo menos eu fiquei com uma lembrancinha: Seus belos olhos azuis.
Depois que ele morreu veio uma parte menos divertida. Cortei-o em vários pedaços, coloquei alguns no formol e outros na caixa que mandei para a polícia pelo correio.
A morte em si pode até não ter sido louvável, mas a ideia de mandar para aqueles policiais idiotas uma amostra do meu magnífico trabalho foi extremamente brilhante. Seria mais um mistério para eles; mais uma incógnita.
Acabou sendo, não é mesmo? Esses inúteis só acharam-me por um descuido... Ou será que foi por que eu deixei que me achassem?
Vocês deveriam ser bons pra mim, pois nunca se sabe do que sou capaz.
”
– Assustados? – Perguntava a professora ao termino do vídeo, visto que as pessoas ali presentes não se mexiam. – Não fiquem. Existem coisas bem piores por aí. – E, rindo de modo assustador, a mulher dispensou a turma e foi para sua próxima sala.