Em suas paredes pálidas exibe-se angústia em acúmulo, sofrida por todos aqueles que ali habitaram e hoje jazem em túmulo. Almas penadas de lembranças passadas, que por acaso ou destino se foram e extraíram de lá o bem-estar, o amar e o pouco que ia restar.
Desprovido de esperança, liberdade ou sequer medo, o local parece ainda maior de tão vazio, tão escuro, tão moribundo. Em seus muitos quartos, dormem apenas fantasmas mal resolvidos que foram prontamente intimados a depositarem em si sua culpa e remorso.
De tempos em tempos, transeuntes e aventureiros se arriscam a explorá-lo, duvidando do risco indicado pelos sinais de “mantenha-se distante”. Mas eles sempre se decepcionam, se arrependem, e acabam juntando-se às demais assombrações que vivem ali.
Eles não entendem. Não creem que ali não cabe vida, não cabe luz, não cabe vontade, não cabe paixão. Cabem apenas as fotografias no velho álbum, as cartas escritas a mão, as flores mortas, o pequeno enxoval rosa, o sofrimento, o pesar e as memórias do futuro de uma família que nunca conheci.
No parto partiram e levaram consigo meu coração. Em seu lugar, restou apenas uma mansão assombrada.