Diário de vhladrac

Diário da Ansiedade Generalizada.

Escrito 23/08/20 00:49

IMPORTANTE: essa é a minha experiência! Cada caso é um caso, cada pessoa reage, tem sintomas diferentes. É SEMPRE importante procurar a ajuda de um profissional! Eu não vou falar nomes de medicamentos, formas de tentativas e pensamentos suicidas nem NADA DO TIPO! Se você acha que tem um transtorno, está tendo pensamentos estranhos, seu corpo está estranho... PROCURE UM PROFISSIONAL! O intuito desse texto é simplesmente relatar o que aconteceu comigo e ajudar pessoas que podem estar se sentindo do mesmo jeito com o que me ajudou: A AJUDA DE UM PROFISSIONAL DA SAÚDE.

Bom, minha história com a ansiedade é muito antiga. Eu tenho asma crônica e bronquite alérgica desde criança e, por sempre ser ansiosa, uma coisa sempre desencadeava a outra mas eu nunca pensei que pudesse realmente ser um transtorno psicológico ou algo do tipo. Sempre tive aquela coisa de que comigo esse tipo de coisa nunca iria acontecer. Esse texto é mais explicativo, pra entenderem como tudo aconteceu comigo, eu pretendo trazer mais conteúdo sobre isso tudo.

Acho importante dizer que minha intenção com esse texto é apenas relatar uma experiência, fazer com que vocês conheçam a parte de mim que eu tanto temo e, talvez, ajudar alguém que sofre ou já sofreu, por mais que sempre haja a sensação de vazio, nós nunca estamos sozinhos!

Pensamentos Suicidas

A coisa começou a ficar meio séria em 2017, que foi um dos piores anos pra mim devido à problemas familiares pessoais que eu não vou entrar em detalhes aqui, eu tinha acabado de sair do ensino médio, as amizades estavam todas abaladas, me sentia extremamente sozinha, não tinha um emprego, não sabia o que queria fazer da minha vida e etc. Bom, nesse ano foi quando eu comecei a ter pensamentos suicidas e no final do ano foi quando eu tive a primeira crise (modos não serão citados), mas eu nunca falei sobre isso porque eu tinha vários problemas ao meu redor, problemas que, na minha cabeça, afetavam e eram mais relevantes para minha família do que uma ou outra crise que eu tivesse. Depois desse dia eu prometi pra mim que não iria mais fazer nada do tipo e que iria focar em resolver os problemas familiares e depois tudo ficaria bem. Os pensamentos suicidas ficaram cada vez mais constantes, nisso eu tinha crises de asma que chegavam a durar quinze dias e ficava dopada de remédios, e em 2018 eu tive duas crises mais sérias: uma no início do ano e uma no final; depois da terceira eu resolvi conversar com a minha mãe e mostrar pra ela o que havia acontecido (sempre que eu decidia "tomar uma atitude" eu me trancava no quarto e enfim, no outro dia quando via que não ia dar certo ou desistia no meio do caminho eu usava maquiagem e roupas longas pra disfarçar tudo), houve um choque da parte dela e do pai mas eu sempre com a intenção de acalmar tudo e todos disse que estava tudo bem e que não havia nenhuma necessidade de psicólogos nem nada do tipo.

Eu já estava trabalhando, tinha um salário bacana, acreditava que tudo ia se resolver.

Algumas pessoas me perguntam o que eu sentia no meio das crises e é estranho porque naqueles momentos eu não sentia absolutamente nada. Eu chorava muito e meu coração acelerava, mas eu não conseguia sentir e definir emoções. Eu não sentia tristeza, angústia, eu olhava pro meu quarto que sempre foi cheio de quadros, livros e coisas que eu amava demais e eu não tinha reação.

Transtorno de Ansiedade Generalizado e Incapacidade de Relaxar.

Em 2019 foi quando eu vi que realmente precisava de ajuda. Meus pais se divorciaram depois de vinte anos de uma relação que já não era mais legal, meu pai saiu de casa e isso pra mim foi um choque muito grande; eu acreditava que estava pronta para aquilo mas no fim vi que estava totalmente enganada. Outra coisa que me abalou foi o fato de que um dos meus maiores sonhos era ir para os Estados Unidos então eu fiz os corres todos sozinha, só meus pais sabiam, me perdi no centro da cidade quando fui tirar meu passaporte, passei uns perrengues doidos, gastei uma nota e no final meu visto foi negado, daí veio aquele sentimento de frustração imenso. Meu pai saiu de casa em um sábado, meu visto foi negado na terça-feira e eu perdi meu avô (que era, com certeza, uma das pessoas mais próximas que eu tinha e que eu amava e ainda amo com todo meu coração) no sábado da semana seguinte, foi uma coisa atrás da outra, literalmente. Meu avô faleceu e eu me lembro que eu não conseguia chorar por nada. No dia do enterro, eu acordei com o coração extremamente acelerado (o que pra mim era normal) e acabei passando mal (ainda sem saber que eu estava tendo uma crise de ansiedade), tive que ir pro hospital, lá eu fui sedada pela primeira vez e, cara, como eu odiei aquilo. Na segunda feira eu acordei do mesmo jeito e precisei voltar pro hospital, me deram um remédio para diminuir a frequência cardíaca porque eu pedi pra não usarem o sedativo de novo e eu precisei fazer exames diversos, resultado: crise de ansiedade.

Um tempo depois eu continuei tendo crises (de asma e de ansiedade) e voltei pro hospital, nesse dia foi quando eu peguei a primeira receita azul da minha vida e eu achei aquilo tudo muito estranho, a médica que sempre me acompanhava durante as crises me receitou um ansiolítico que eu teria que tomar todos os dias e me deu um encaminhamento para um psicólogo e um psiquiatra (finalmente Jesus!). Uma coisa que me chocou muito foi ver que o meu corpo tinha começado a reclamar. Eu notei que eu não chorava mais, desde o falecimento do meu avô, eu sentia a tristeza e todas as outras coisas mas eu não conseguia chorar e depois de um tempo eu passei a não sentir mais quando estava com arritmia, eu comia muito pouco, cheguei a ter problemas nos nervos das costas por causa da tensão, tinha muitas dores de cabeça, o meu humor era impossível de lidar, eu ficava extremamente mau humorada DO NADA, eu tive paralisias do sono, tudo pra mim era extremamente preocupante e eu cheguei a ter problemas com refluxo. Foram cerca de sete meses assim, já era um caso de TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada), mas só fui descobrir isso bem depois, quando comecei a passar com uma psicóloga. A minha experiência com o ansiolítico no começo não era muito boa, eu não gostava da sensação, tinha medo de ficar viciada, tinha que dirigir todos os dias então era perigoso mas a rebelde sem causa aqui não ligava. Eu decidi parar em segredo, confessei pra psicóloga, levei uma bronca e voltei a tomar. No meio do tratamento o ansiolítico for cortado para que eu começasse um tratamento com um antidepressivo, eu só tomaria o sedativo caso eu estivesse em meio de uma crise. Para a minha surpresa, eu comecei a sentir muita falta do sedativo, ficava nervosa se não tomasse, queria tomar todos os dias e pensava muito em aumentar a dose porque sentia que o que eu estava tomando não estava mais fazendo efeito. Nesse meio tempo eu tive algumas crises que foram mais agressivas onde minha asma atacou junto e precisei tomar um remédio na veia para abrir as vias aéreas e o sedativo (isso aconteceu umas cinco vezes).

Como eu entendi tudo o que estava acontecendo?

As consultas com a psicóloga foram cruciais. Ela me ajudou a entender que a tensão nos músculos das costas, as crises em si, o fato de que eu não conseguia ficar um minuto parada nas consultas, deitar no divã era um desafio, eu ficava o tempo todo olhando pra trás, batia o pé, mexia na roupa, no cabelo e etc, eram porque eu tenho uma imensa incapacidade de relaxar. Eu sempre fui extremamente fechada, tanto que sempre usei da arte para me expressar, até hoje eu não consigo demonstrar tudo 100%, na verdade não acho que esteja nem nos 50%. Ela me ajudou a entender que tudo isso foi uma junção de coisas que aconteceram desde a minha infância, eu sempre fiz de tudo para não demonstrar nada, no final isso virou um costume e fez com que meu corpo começasse a me dar sinais de que não dava mais para continuar desse jeito. Eu não lidei bem com tudo isso de primeira, não gostava de tomar os remédios, não queria falar sobre isso com ninguém, fiquei limitada por um tempo, não podia dirigir e nem beber; foi um processo de aceitação meio difícil. Mas que no final deu certo.

Como é conviver com tudo isso?

Estranho e me da medo, basicamente. Eu vivo apreensiva, com medo de não estar demonstrando as coisas o suficiente, medo de falar coisas desnecessárias que podem machucar as pessoas, medo de não conseguir ter relações saudáveis e manter amizades. Apesar de tudo isso o meu maior medo é relacionado ao meu corpo, às vezes não sinto quando estou com arritmia, meu peito dói por causa das crises de asma… tenho medo de ter um piripaque a qualquer hora. Não é como se eu não sentisse as coisas, eu sinto até demais, minha dificuldade é demonstrar e tem sido um processo muito difícil, um processo que, por enquanto, eu não consigo aceitar. A arte é o que mais me ajuda, eu escrevo desde os treze anos então para mim escrever é muito importante, eu escrevo mais do que falo. A pintura tem me ajudado bastante, a poesia, a leitura... eu busco formas de estar sempre conectada comigo para entender a emoção que estou sentindo e usar algo para colocar ela para fora. O esoterismo e o xamanismo me ajudaram MUITO também, talvez seja um assunto para outro texto. Entendo que o caminho para sair dessas situações é através da ajuda de um profissional mas para mim encontrar esse caminho no misticismo foi muito importante. Eu ainda tomo um antidepressivo diariamente, o tempo estimado do meu tratamento é de dois anos.

Uso o ansiolítico quando tenho crises e quando estou com muita dificuldade para dormir, tento tomar uns chás naturais pra acalmar ao invés de ficar tomando remédio a toda hora. Durmo tensionada, às vezes acordo com muita dor no tronco ou com as mãos machucadas por ficar apertando, inclusive quebrei um pedaço do meu aparelho dental pela terceira vez uns três dias atrás. Não tenho crises suicidas há um bom tempo (tive uma alguns dias depois que escrevi esse texto). Conviver com essas coisas é bem difícil, tem dias que você acorda querendo conquistar o mundo e tem dias que você quer que o mundo acabe. Tem um sentimento de vazio constante, um medo inexplicável do futuro, uma busca eterna por maneiras de sair desses pensamentos e ocupar sua cabeça com coisas que, pelo ou menos naquele momento, te farão bem. É muito difícil expor tudo isso aqui, até porque muitas pessoas que talvez irão ler não faziam ideia de que nada disso havia acontecido. Eu ainda não gosto de falar sobre, eu não gosto de ser perguntada sobre mas eu acho importante estar disposta a tentar.

O que eu acho importante à ser dito para pessoas que têm esse tipo de transtorno ou algum tipo de transtorno é que eu sei que falar que vai dar tudo certo não adianta, eu sei o quão difícil é tomar a iniciativa para procurar ajuda mas a importância de pedir ajuda, por os sentimentos para fora, conversar com alguém que esteja pronto para te entender; é extremamente importante. E para quem não tem nada disso é bacana pedir compreensão.

Quem sofre com esses tipos de transtorno não sofre por opção e muitas vezes o sentimento de saber que você tem para onde correr ou se sentir acolhido, conforta; e conforto é uma coisa extremamente rara para os que sofrem com esses males.

Muito obrigada por ter lido, obrigada para quem votou na enquete que eu fiz no twitter! Espero que eu tenha conseguido explicar, em forma de desabafo, pelo ou menos um pouquinho do que foi e do que é a minha experiência com toda essa situação. Pretendo trazer um pouco maias sobre mim aqui, mas não prometo textos frequentes! Gratidão!

Tags: ansiedade, diário, cotidiano, ajuda, auto ajuda, tag, transtorno de ansiedade generalizada

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