Diário de Nayara Cristine

Pézinho

Escrito 17/12/17 10:31

Querido diário,

acredito que perdi o hábito de escrever em diários desde a minha adolescência, mas estou meio tristinha e resolvi tentar. É estranho começar assim, mas eu mantinha sempre esse inicio quando pequena, então manerei. Estou escrevendo direto no navegador e provavelmente não vou voltar a ler, então vou ignorar qualquer erro que por ventura deixe passar.

As notícias são as seguintes: machuquei meu pézinho. Pois é. Pela terceira vez na vida estou imobilizada, presa, quase sem movimento por lerdeza. Não é a primeira vez que machuco o pé, mas desta vez parece mais simples. Quando eu tinha dez anos eu quebrei-o pela primeira vez, e com quinze repeti a doze. Agora foi apenas uma torção (escreve-se assim? Não faço ideia e não estou muito apata a caçar no google agora) o que me deixa mais aliviada, mas um pouco estressada, já que está doendo mais que das outras vezes (engraçado como as fraturas doeram menos que essa torção).

Chega a ser cômico a forma com que eu me machuco, sabe? Da primeira vez foi em uma competiçaõ de bolos de terras com meus primos onde um moreão (não sei se essa palavra existe fora do meu círculo mineiro) foi derrubado em cima do pé direito, amassasou completamente e quebrou o dedão. Da segunda vez eu estava jogando bola (justo eu que nunca fui dos esportes) e acabei me machucando no gol enquanto o time fazia pontos no lado oposto do campo (sim, quebrei meu pé sozinha por pura lerdeza ao tentar pegar a bola de vôlei que caiu no campo, girei no próprio eixo e paf). Recentemente, escorreguei em um brinquedo da rua e cabum, adeus pé saudável. Rodei um morro inteiro com o pé viradinho.

Sim, eu sou lerda.

Mas o que me estranha, o que me deixa injuriada (outra palavra que não sei se existe fora de minas) é que geralmente eu sou uma pessoa calma, sussegadinha (vou manter o mineirês, obrigada) e não sou muito de sair querendo fazer tudo dentro de casa. Mas foi eu ficar impossibilitada de andar que começo a sentir uma necessidade absurda de sair andando? Contraditório, eu sei, mas eu sou em suma.

Percebi que minha vida é um reflexo da minha escrita (ou seria a minha escrita um reflexo da minha vida?) enquanto estive parada sem nada para fazer. Eu não tenho certeza sobre as palavras corretas, assim como não tenho sobre as coisas e a vida em si. Quero correr quando preciso de uma pausa e me dou pausas quando preciso correr, e pasmem, faço isso com vírgulas e pontos.

Talvez seja por que (qual porque eu uso aqui?) eu realmente não faço ideia de onde eu tô' indo, sabe?

Uso talvez em demasia, se quiçá e variáções pois não tenho certeza nenhuma. Acabei de perceber.

Mas a escrita é um reflexo de nós? Deveria ser?

Não faço ideia. Sempre fui mais adepta a ficções, a mundos novos e a ciência. A descobertas e certezas, mas me perco buscando sentindo onde não há e joganfo meus sentimentos em textos que mais são desabafos que qualquer coisa. Me tornei aquilo que mais me irrita, uma personagem sem sal que cai na rua ao escorregar em um brinquedo infantil.

É estranho, entende?

É bizarro o fato das palavras fluírem como água quando escrevo, saírem com aquele sentimentalismo barato que não faz parte da minha vida no geral, mas que está dentro de mim. As palavras, os editores de textos, as canetas, os papéis; quebram a porcaria da barreira que faço questão de manter na minha vida para afastar tudo e todos.

Como eu disse ali em cima: eu corro quando preciso parar e paro quando preciso correr; não faço ideia de onde vou, nem se quero ir e me perco em poréns demais.

E quer saber? Não acho que seja ruim. Não acho que minha falta de gramática seja um grande problema (quem é que tem tudo nos eixos na vida?); não acredito que correr, parar e vírgular demais ou de menos seja um problema também. Nem mesmo os talvezes que não sei por que insisto sejam um problema. Acho que não existe coisa mais íntima que um texto sem revisão, sem qualquer análise ou qualquer coisa, e por isso resolvi escrever direto no navegador.

Diários precisam ser íntimos, certo?

Apenas creio que minhas verdades, que minha vida e que meu eu verdadeiro escapa por entre os dedos de minha mão quando começo a digitar sem saber para onde vou. E me sinto bem, então julgo importante.

Então, fico por aqui. Espero poder voltar a correr logo, apesar de gostar de vírgulas e usá-las sempre (mais do que deveria, sei disso), quero poder andar sem precisar de apoio em breve.

Fico por aqui, com um sentimento de paz e gratidão por poder desabafar.

Nay

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