Na correria da emergência
Apenas o detalhista
Consegue enxergar
O vermelho das veias
O sangue escorrendo
Pelas vestes
Pelas veias
Pelos dedos
- Batimentos cardíacos desacelerando gradualmente, doutor.
- Mantenham a paciente acordada.
Médicos por toda parte
Indo e vindo
Entrando e saindo
O que acontece na sala vermelha?
Enquanto atendem a menina
Eles repetem
Insistentemente
Salvem a menina
Salvem a menina
Pera-lá... Por que salvar a menina?
Foi nesse momento que olharam a menina:
O corpo todo cheio de marcas: estrias, espinhas, poros, cicatrizes, veias dilatadas, os olhos esbugalhados tremendo.
Se fosse possível, sentiriam suas dores diárias de enxaqueca, suas tremedeiras e náuseas.
Se fosse possível, saberiam de suas crises de choro, pensamentos depressivos e recaídas.
Seu corpo desistiu faz tempo.
Ela desistiu faz tempo.
Por que salvar a menina?
Foi nesse momento que todos se perguntaram:
O que acontece na sala vermelha?
Fico em meu canto, buscando acalento em pequenos contos. Fico feliz em saber que sua vida prosseguiu, foi em direções bonitas. Você fez grandes feitos e aparenta estar bem. Uma parte minha ainda dói pelo que não foi, pelo que não passamos juntos. Faz tanto tempo que todo o nosso momento parece apenas um pequeno sonho. Não sei mais distinguir o real do ideal. Mas, como uma fagulha de insanidade, uma parte minha ainda espera ter esperança do que ainda não foi. Como se tivéssemos chances de viver algo, como se você quisesse viver algo. Afinal, não faria sentido você permanecer depois de tantos anos, não é mesmo?
Otária sou...
Enfim, permaneço com minhas insanidades...
Esperando você responder minha mensagem...
Poderia diretamente lhe dizer,
mas tenho vergonha no fazer de lhe perguntar se seus lábios também estão trêmulos, sedentos em busca do meu
Poderia olhar nos seus olhos, dar um impulso e puxar lhe os cabelos, talvez te enlouquecer
Poderia responder sua mensagem com tamanha verocidade que no final você iria se enaltecer
Mas, em vez disso prefiro escrever
Eu não quero correr
Eu não quero te assustar
Eu quero a eternidade dos dias com a sensação de te amar
O doce gosto de rotina apaixonar
E no final, ao leito de alegria descansar.
Diziam que era gritos, mas eu só ouvia sussurros
Será que estava eu surdo?
Abria a boca para responder, mas só saia murmúrios
Será que estava eu mudo?
Todos estavam ao meu redor, traziam fotos nossas
Sim, eram lindas memórias, mas eu só conseguia ver borrões
Será que estava eu cego?
Minhas forças acabaram, diziam que a luta tinha terminado,
Mas eu não conseguia sentir mais nada
Será que estava eu vivo?
Todos os abraços, risos, choros
Todos levados ao vento
Todos levados ao túmulo
Será eu o causador disso tudo?
Se sua mão tocasse na minha
Me trouxesse de volta a vida, por meros segundos até que o Sol caísse
Seria o último adeus?