Em primeiro lugar, eu desejo a todos um feliz Natal. Agora, eu acordei um pouco de mal humor. Foi só vir para cá, já melhorei. A palavra escrita representa para mim uma presença, uma espécie de outra alma. Com quem conviver. À medida em que vou escrevendo meu ego se desdobra, vira outros egos. E sou obrigado a conviver comigo e com outros, meus personagens, que às vezes sou eu mesmo quando falo de mim. Mas quando crio estórias e dou nomes a meus personagens, só vou saber quem são meus personagens depois deles criados. Claro os personagens que crio têm sua ambiência própria. E o que eu chamo de ambiêcia própria são as circunstâncias em que os personagens estão envolvidos. Isto me ajuda inclusive a interpretar meus próprios textos, e se estiverem falhos dar-lhes mais substância. E eu me compreendo bem. Eu intitulei esta página de Um Dia não Literário Começa, e escrevi. Não sabia ao certo no que ia dar minha escrita. E não foi tão não-lilterária assim.
Estive aqui pensando no que escrever hoje no diário. Vou dar-lhes, aos leitores, um pouco do meu estado de espírito. E começo dizendo que a solidão favorece a escrita. É a ela que eu chamo de solidão criativa. Para não me demorar em explicá-la. Mas usando o método de palavra puxa palavra, aqui vou eu. É muito bom, eu penso, estar sozinho. Posso parar de escrever, pensar e voltar a escrever. Isto não me consome um tempo muito longo, não. Durante o pensar eu vejo minhas possibilidades. E vou falar hoje da coerência. Quando eu era um trabalhador, uma colega vivia me dizendo que era coerente. Certo dia eu lhe perguntei no que ela era coerente. Ela respondeu: na minha insatisfação. Eu pensei e pensei, e vi que ela me criticava, como se eu não fosse coerente. O caso é que ela nem era minha confidente. Ela não sabia se eu era coerente comigo. Eu nem tinha tempo de falar de mim, eu trabalhava muito. Até que um dia eu mandei um texto meu para um concurso, e fui premiado. Baixinho eu pensei: eu também sou coerente. Coerente com o que? Com a minha vontade de ser escritor. E aquilo foi só o começo. E hoje eu considero a todos os que escrevem literariamente, escritores. Não é que esteja dando a mão a palmatória. Nada disso, existe muita gente que deveria ler meus escritos. Não estou me vingando. Só expressando um desejo. Na minha solidão eu crio esta fala por escrito.
Hoje eu estive pensando na Internet como espaço para a Escrita. Mas espaço para a Escrita Literária. Primeiro, vamos ver a Internet. Eu estou especialmente agora num espaço da Internet. Um espaço dela reservado à minha escrita. E, a ilusão pode ser a minha, quando eu estou aqui eu faço o possível para me esmerar escrevendo. Porque quando esperamos que outrem nos leia é necessário que façamos o melhor de nós. E não é porque a censura caiu. Isto aliás até acordaria outras demandas para o escritor. Mas não vem ao caso falar disto. É que surge outra necessidade, a necessidade de sermos autênticos. Assim não abusaríamos do espaço oferecido de graça. E por falar em graça, o literário sempre exigiu bom gosto e graça ao exibir-se. Até mesmo pela Internet. E pela Internet o que muda para mim é o surgimento de uma ou outra idéia nova. Então poderei ser mais criativo. E nesses tempos em que se fala de Escrita Criativa deve-se, eu e você, procurar lermos mais.
Quando um texto se propõe a ser novo em Literatura, tem ele que ter algo de especial. Algo que chame a atenção até dos críticos. Ele sendo novo, os que o estudam vão dizer o que ele traz de novidade. Isto é uma coisa que não se traduz em Literatura por intencional. Ou é? Eu não sei. Leio muito e li ontem um texto, que o autor o chama de crônica. Tratava a tal crônica do autor sem leitura. E dizia que o autor sem leitura chega a um ponto que não vê saída e vai procurar os livros, escritos, digo eu, por mestres. Por mestres que não tinham a intenção de ser mestres. E aí aquele autor sem leitura se torna um autor com leitura. Mas só que depois de ter ido atrás dos livros, começa a inventar seus escritos. Aqui está a invenção, e após a invenção, se o autor for talentoso, virá a novidade. Esperando ter sido compreendido, despeço-me querido diário.
É obrigação de um autor ter muita leitura. Isto não garante que ele seja um excelente autor. Mas permite a ele ter uma noção dos caminhos por onde andará. E quiçá o tornará um perspicaz autor quando ele se manifestar como escritor. Foi pensando nisso que eu hoje estive pensando em algumas das minhas leituras. E me lembrei de depoimentos de escritores que eu admirava, que andei lendo. E uma dessas falas era a que respondia à pergunta: Qual é o mais difícil de escrever? O conto ou o poema? E o autor disse: Depende da hora em que estou escrevendo. Muitas vezes vi a mesma pergunta ser feita a outros autores. E, claro, as respostas eram diferentes. E cheguei à conclusão de que todas as respostas só me ajudariam se eu medisse através das minhas leituras a experiência do autor. Aquele autor com mais textos escritos por ele, teria mais autoridade para dizer qual era o mais difícil.
Muito me satisfaz ser chamado de APRENDIZ. E por que? Há aquela velho dito que diz de alguém que tem o mérito nas letras: É um Aprendiz de Feiticeiro. Por isso venho aqui agradecer. Recebi só o nome de APRENDIZ. E é muito para quem começa. Eu entendo que para tal tenho que ser habilidoso no contar algum episódio. Não sei se estou certo. Mas foi depois que escrevi REZANDO PELA PAZ que me deram o nome de APRENDIZ. Muito me engrandece tal fato. Eu estava aqui pensando no que escrever nos Diários. E agora só me vem este agradecimento. Muito obrigado! Agora, depois de agradecer, e de ter-me confessado que começo, começo aqui na ACADEMIA DE CONTOS. Pois fiz aproximadamente 20 anos de atividades literárias. Sem tolas vaidades, me despeço. Até mais.
Há alguns anos atrás Carlos Herculano Lopes lançou uma estória escrita e esclareceu: É uma estória inventada. E por isso fez o maior sucesso. Não sei se seus leitores eram gente esclarecida, para quem estória inventada é ficção, ou não. Mas desconfio que a maior parte dos leitores de ficção estavam cansados de livros que tentavam aproximar seus conteúdos da realidade. Ora a nossa realidade é de gente sofrida. Gente sofrida que quando lê um livro de ficção procura alívio para suas dores. Portanto quando vê nas vitrines das livrarias algo novo e destinado ao prazer de ler, ávida o consome. Parabéns Carlos Herculano Lopes, mesmo que com atraso de anos. Aqui deixo registrado que o jornalista Herculano Lopes acertou em cheio. Ficção se inventa.
Faltanto uma quinzena do mês de dezembro para encerrar o ano, estou ainda comemorando 20 anos de vida literária. Digo simplesmente que neste tempo experimentei o grande prazer de escrever. Remeti também para bibliotecas volumes com textos meus. Na minha vida, conheci um texto, que ganhei de presente de uma namorada, que era dedicado ao leitor desconhecido. Só não dediquei meus textos aos leitores desconhecidos, porque é óbvio que ao publicá-los estamos nos dando ao desconhecido. Só nos cabe escrever no capricho, para que os leitores se deliciem. O que me cabe enquanto escritor é esperar que eu tenha 50, 10 ou 5 leitores. Aqui dizendo isto estou imitanto o bruxo do Cosme Velho, só que sem a genialidade de Machado de Assis, a quem admiro até hoje. Mas procuro dar um pouco de mim aos meus textos. E confesso que me foi difícil publicar meus textos em papel e tinta. E há pouco tempo estou aqui, na ACADEMIA DE CONTOS. Que Deus me proteja. Porque o mundo da Internet me é novidade.
Hoje, quando se encerra a 1a. quinzena de dezembro de 2024, eu li um pouco. Li algumas páginas de FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA OCIDENTAL. Nestas páginas me detive mais em Filosofia da Vida, e deixei a Filosofia da Existência para outro dia. Li também Escrita CRIATIVA. Deixei muitos livros para folhear depois, em busca de alguma novidade. E escolhi estas páginas para registrar uma queixa minha. Meu temperamento não se adapta a este modo de vida competitivo em que vivemos. E por que? Simplesmente porque ao invés de convivermos com nossos semelhantes, nos limitamos a saber dar respostas e fazer perguntas rápidas demais a eles. De modo que não os conhecemos depois que eles vão embora. Mas este não os conhecemos, para mim tem muito a ver com o supérfluo. Como se todos nós soubessemos que a morte pode nos visitar a qualquer momento e a eternidade não existisse. Então eu pergunto: Como é que eu tenho nas minhas estantes a obra completa de MACHADO DE ASSIS? Lembrem-se todos que vivemos num grande país que tem sua História registrada nos anais de História. E que nós mesmos temos nossa história pessoal. Preservando estes valores podemos viver em paz com a idéia de que construimos também, com nosso pouco, a História e tudo mais.