Atualmente viajo,
por ambientes inóspitos e mares agitados.
Viajo pelos sentimentos conflitantes,
pelas marolas do destino,
por estradas desertas,
e por engarrafamentos demorados.
Antigamente viajava,
da rua da minha casa até a sua.
Viajava pela cozinha e pela sala
até chegar na escada imensa que levava ao seu quarto,
e nele eu me jogava na sua cama
esperando você chegar da escola.
Eu tenho um coração palpitante
que viaja, devaneia entre amor fraterno e apaixonante.
Alegra-se quando você aparece
esfria quando você me manda embora
“Está tarde, Cenourinha, precisa ir para casa.”
Não quero ir para casa, amiga, quero dormir aqui.
Você tem um coração de leão
brava, valente, corajosa, e outros sinônimos destemidos.
Levava-me para a praia, para as montanhas, para os rios
abraçava-me de noite, cantava com sua voz suave,
fazia-me pensar no futuro, no nosso futuro.
Como se fosse possível um leão se apaixonar por um coelho.
Éramos uma dupla e tanto, eu e você.
Eu chegava com ideias mirabolantes e você ria de mim.
Todavia, você sempre me ajudava a concretizá-las,
como daquela vez que pegamos o carro do seu irmão
e dirigimos pela estrada principal até o sul do estado,
e estacionamos perto da praia.
As estrelas estavam bonitas naquela noite,
mas eu achava que você era muito mais bonita.
Você olhou para mim,
e meu coração de coelho saltitou loucamente.
Você sorriu para mim,
e eu abri meus olhos.
Eu passo mais tempo viajando do que realmente parada em algum lugar.