Rubens havia ingressado na Polícia há relativamente pouco tempo, mas sua carreira na Homicídios estava em franca ascensão. Todavia, era a primeira vez que se deparava com uma cena de crime tão impactante quanto a que estava diante dele: havia uma quantidade significativa de sangue manchando cada parede do recinto e nem mesmo o teto ficou sem o bizarro tingimento escarlate. Isso sem contar os inúmeros pedaços de carne, pele, fezes, massa encefálica e sabe mais Deus o quê espalhados para todos os lados.

E aquele odor nauseabundo e onipresente de carne humana apodrecendo, merda e a desgraça toda? A ânsia de vômito veio forte, mas ele era um agente durão e suportou firme. Por pouco, mas suportou.

Um segundo policial, o Sr Braga, estava parado um pouco atrás da faixa de isolamento amarela, como que perdido em pensamentos. Mal notou a aproximação de Rubens, que saudou o colega de maior patebnte com dois leves tapas no ombro esquerdo.

- Este caso foi de uma monstruosidade sem tamanho... - disse Braga ao encarar o rapaz bem mais novo que se colocara ao seu lado. - E também o mais... - o oficial de cabelos já um pouco grisalhos parecia não saber qual palavra utilizar.

- Grotesco? - arriscou Rubens, fitando toda aquela devastação humana.

- Sim, também. Mas, o que eu realmente quero dizer é a coisa toda é absolutamente sem sentido.

Rubens ficou quieto, esperando que o companheiro explicasse melhor, posto que ele leu os arquivos preliminares do caso por alto já que iria ter de falar com seu superior na cena do crime de qualquer modo.

Braga respirou fundo e então começou a falar:

- A vítima se chamava Anônimo(a) e morava aqui mesmo na cidade, a pouco mais de 10 km do local do crime. Depois da imobilização por intermédio de cordas e o amordaçamento, sofreu inicialmente um escalpelamento total. Depois suas orelhas foram decepadas com um estilhete, os olhos perfurados com garfos plásticos, o nariz e os dentes quebrados à marretadas, a língua queimada com gotas de soda cáustica, seus braços e pernas pulverizados com ácido sulfúrico, dedos das mãos e dos pés esmigalhados com uma chave de grifo, palma das mãos e planta dos pés esfoladas com uma lixadeira, mamilos carbonizados e cerca de oitenta porcento do corpo perfurado com tachinhas. Por fim, seu rosto inteiro foi cuidadosamente arrancado e então foi espalhado C4 em seu corpo, que foi explodido em dezenas de milhares de pedaços.

- Realmente, foi um crime hedio... - Rubens deixou a frase morrer e olhou para o outro policial com o semblante um pouco inquieto. - Espere, Sr Braga. Se quem torturou e executou Anônimo(a) destruiu o corpo mediante o uso explosivos de modo a fragmentá-lo, como o senhor pôde detalhar tão bem o modus operandi da tortura e subsequente assassinato?

- Foi tudo gravado e o vídeo foi postado em um site de vídeos Gore e, logo em seguida, um link para o video foi mandado para o fórum de um famoso site de contos originais. - explicou o policial, sem desviar o olhar da cena do crime. - os responsáveis pelo site reconheceram a vítima como uma das pessoas que mais fazia uso do local e imediatamente nos acionou.

- Compreendo... E já temos alguma pista de quem upou o vídeo e fez a postagem no site? - indagou Rubens, ainda sem entender o que havia de tão sem sentido no caso.

- Na verdade, já sabemos exatamente quem fez tudo isso. - exclamou Braga de imediato, surpreendendo o jovem oficial.

- Excelente! E quem foi o autor ou autora de tamanha atrocidade? Ainda dá tempo de eu participar da captura? - o entusiasmo de Rubens denunciava toda a sua paixão pelo trabalho; ele era um policial devotado e nada o deixava mais feliz do que fazer justiça.

- A pessoa que anteriormente aparecia encapuzada e mascarada cometendo os atos de tortura em Anônimo(a) e, pouco tempo depois de arrancar-lhe a face e sair de cena, regressou totalmente despida para então colocar o C4 na vítima é... Anônimo(a).

- O... Quê?! Mas como assim?! - o espanto de Rubens é tão genuíno que sua voz chega a se elevar um pouco na medida em que ele franze o cenho e encara seu superior com total incredulidade.

- Sim, foi exatamente o que eu disse. Segundo as filmagens, foi Anônimo(a) quem fez tudo aquilo e pouco tempo depois "subiu" o vídeo e postou o link no site em sua própria moradia. As checagens preliminares de digitais nos instrumentos de tortura, bem como as imagens de câmeras de segurança das redondezas atestam a veracidade desta loucura. - testificou Braga, passando uma das mãos vagarosamente sobre o cavanhaque enquanto fitava Rubens nos olhos ao continuar falando. - Pouco depois da postagem, há imagens de Anônimo(a) saindo de sua residência e rumando para um local próximo. Seguiu para um beco e desapareceu. Suas roupas e documentos foram encontrados lá.

- Mas... Mas isso não faz o menor sentido! - afirmou o jovem policial, tentando em vão colocar ordem em seus pensamentos enquanto o ambiente ao seu redor subitamente pareceu ficar ainda mais aterrador.

- Pois é. Como eu havia dito... Absolutamente sem sentido. - concordou Braga, retribuindo os dois tapas no ombro que recebera antes da conversa ser iniciada enquanto saía do local e deixava seu subalterno abismado para trás. - E fica ainda pior quando se assiste a filmagem...