Um ofício
6 de Janeiro
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 04/10/20 08:42
Editado: 07/10/20 12:50
Avaliação: 9.53
Tempo de Leitura: 7min a 10min
Apreciadores: 6
Comentários: 5
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Palavras: 1234
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Não recomendado para menores de dezoito anos

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2020, indicada na categoria Terror ou Horror.
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Notas de Cabeçalho

Olá, olá... Seres humanos, que participam da vida desta minha pequena hospedeira e criadora... Como vão vocês...?

Sentem-se... Não se apressem, vocês me conheceram em um outro conto... Isso mesmo, espero que seus queixos caiam e suas peles empalideçam... Sou o maior trauma da autora que vocês conhecem, consegui até causar agonia em uma acadêmica tão notória e sanguinária quanto a Yvi...

Neste mês, eu desperto.

Venho-lhes apresentar algumas histórinhas que estão há muito presas por uma corda bem grossa no fundo da alma de minha hospedeira... Espero que sintam algo... Medo, pavor, nojo... Se reconheçam...

E me reconheçam...

Nesta temporada de imagens ocultas, apesentarei o pior pesadelo de cada um dos personagens, sabem o motivo...?

Eu sou o Assalto-Pesadelo e vos apresento... Um Ofício.

Capítulo Único Um ofício

Nosso herói chegou cansado depois de uma longa noite, guardou seus materiais, lavou seus braços até a altura dos cotovelos. O cheiro do suor e do trabalho ainda estava impregnado em seu corpo, era como se pudesse sentir em seu corpo partes que nem ao menos suas eram... Pele, gordura, sangue, ossos, veias...

Não há água quente e sabão que tire a sensação de sujeira, não há roupa confortável que cubra o buraco em sua alma, não existe sequer comida que preencha o vazio que ele sente.

A grande mala, a que ele usou para o transporte, ainda guarda o corpo, molhadinho, dentro de si. Ele se sentiu ligeiramente observado, mutou a televisão, olhou para os lados desconfiado... Pensou ter ouvido vozes... Haveria alguém acordado no prédio às 03h da madrugada? O homem se lembrou de ter escolhido aquele condomínio exatamente pelo motivo de só haverem velhotes morando, quase-morrendo, quase-cegos, praticamente zumbis, quase-pessoas que não tem tempo de investigar um barulho de madrugada, uma grande mala pesada sendo carregada pelos corredores, enormes sacos de lixo sendo incinerados...

Mas... Ele tinha certeza de que havia um barulho naquele cômodo em que estava. Esperto que era, sempre guardava entre as almofadas do sofá velho, uma faca ou uma arma. Ligeiramente sacou uma faca bem afiada de dentro de uma almofada fofinha toda bordada de flores, e ficou à postos.

Parecia um barulho molhado, rangendo...

Será?

Ele olhou para a mala e a viu se mecher.

IMPOSSÍVEL!

Por qual razão ele estava com medo? Se borrando em seus pijamas? Afinal, tinha plena convicção que tinha cerrado muito bem cada parte daquele corpo... Era impossível...

Tratou de deixar de ser um cagão e marchou até a mala, abriu o zíper e lá estava o corpo, ainda respirando, olhando para ele.

Sentiu vontade de vomitar.

Geralmente ele não investigava o corpo após chegar em casa, sua casa era para ser um mundo à parte do crime, uma esfera de proteção, aonde ele poderia ser quem quisesse, menos ele mesmo.

"Por qual razão você me matou?" - o corpo proferiu.

O assassino deu um pulo e gritou fino.

"QUE MERDA É ESSA?" - correu para trás do sofá, tremendo.

O corpo em pedaços se balançou até derrubar a mala de lado, a cabeça foi rolando, rolando até o local em que seu algoz estava engraçadamente escondido.

"Mas sabe, assassino, eu e você temos algo em comum..." - a cabeça falante deixou um rastro pela sala.

"Que merda você está falando, cara???" - o homem estava literalmente cagado de medo - "Eu te matei! Merda!" - ele não queria ter de matar aquilo de novo, a visão era amaldiçoada demais.

"Você vai me costurar de volta, não vai?" - aquilo indagou bem convicto.

"Mas nem que me fodam!" - o assassino cuspiu.

A cabeça gargalhou e à medida que gargalhava, tossia e cuspia sangue.

"Achou que escapar de mim fosse uma coisa fácil? Foram burros de contratar um assassino tão barato... Tooooodo esse trabalho de me matar... Para nada? Anda! Me costure de volta ao meu corpo!" - disse com a voz de mil mortes.

O assassino estava apenas incrédulo, não sabia se havia se drogado, ou se era real...

"Vai logo, cara, eu sou a porra de uma cabeça falante, se eu te mando me costurar de volta, você vai fazer essa merda!!!"

Mas o assassino estava em transe observando aquela cabeça conversar com ele, mecanicamente.

"Mas que merda, homem! Eu sou uma cabeça falante! Se você não me costurar eu vou te morder, e aí você vai morrer com todos as doenças que uma cabeça falante pode ter!"

No entanto, o assassino começou a rir, bater com as mãos na cabeça, não podia crer... Com certeza era um sonho... Ahhhh... Essa cabecinha... Pregando peças... Era só acordar... Simples.

"Mano... Eu vou morder o seu pau e vou arrancar ele fora se você não costurar a merda da minha cabeça de volta no corpo, é a última vez que eu falo!" - a cabeça falou seríssimo.

Ainda rindo, achando ser um sonho, o assassino se levantou, deixando a merda escorrer pelas pernas.

"Okay, vou te costurar, já fiz isso antes!"

"Bem-Aventurado seja você, seu desgraçado! Me matou e agora vai costurar minha cabeça de volta, sabe... Eu posso até te perdoar depois de tudo isso..." - a cabeça suspirou, aliviada.

O assassino passou o resto da madrugada ligando tendões, juntando a pele, os ossos, amarrando aqui, costurando ali, conforme as ordens da cabeça-falante.

"Ótimo, meu corpinho tá pronto, agora me costura de volta, seu cretino, vamos acabar com isso e você nunca mais vai voltar a me ver!" - a cabeça esbanjou um sorriso largo.

Após ser costurá-la junto ao pescoço, o assassino, agora cirurgião, admirou aquela obra macabra que acabara de criar.

"Nossa... Me sinto novo em folha, você me ajudou pra caralho! Muito obrigado, cara! Não faço a mínima ideia da razão pela qual você me matou, mas te agradeço por essa experiência, fazia um tempão que eu não dormia! E ser carregado dentro de uma mala, é uma sensação ruim demais da conta!"

"Eu que agradeço por essa experiência, senhor..."

"Lawrence... Você deveria saber meu nome, já que me matou!"

"Eu nunca me atenho a estes detalhes, senhor Lawrence... E então... Como vai ser? Eu te mato de novo... Você vai embora...?" - o homem arqueou os ombros, em dúvida profunda.

"Não... Cara, antes de eu dar tchau, preciso te contar um segredo, um segredo destes que você nunca irá se esquecer..." - o senhor Lawrence o chamou para mais perto, com seus dedos costurados.

Pouco a pouco, o homem se aproximou da mesa, foi aproximando os ouvidos daquele corpo que antes, estava em pedaços.

Foi bem inocente, por assim se dizer, não percebeu que o senhor Lawrence guardava a mesma faca do assassinato, ainda em sua costela, foi quando sem que percebesse, o Frankiestein de araque arrancou de si a faca e a cravou bem nos ouvidos do assassino que urrou de dor.

Desengonçadamente, o senhor Lawrence se levantou, atacou seu assassino, com trinta, quarenta, oitenta mil facadas, até o corpo virar macarronada no tapete, até parecer que um assassino jamais houvesse existido naquela sala, apenas um vingador.

O senhor Lawrence sentiu algo vibrar em suas calças, levou então a mão aos bolsos e pegou seu celular.

"Alô...? Oh, sim... Seu Belzebu, que prazer nos falarmos de novo... Sim... Está feito! Agradeço por me dar estes poderes! Sim... Eu matei quem estava te devendo... Aonde já se viu, né? Te dever essas almas e nunca as entregar? E ainda orar pelas pessoas ao invés de te devolver o que fora combinado... Não... O senhor tem toda a razão! Comigo o senhor nunca vai ter esse problema, acabo de amaldiçoar essa alma, do jeito que foi combinado... Ahhhh, para...O senhor vai me deixar sem jeito...!" - senhor Lawrence trocava gracejos com seu mandante vindo dos infernos.

"Mas... Eu deixo essa sopa de bosta aqui mesmo, ou... Ah, pode deixar, vou abrir um portal! Sem problemas... S-sim... Sei como faz! Por nada, Seu Belzebu... Tenha um maldito dia! Tchau, tchau!" - ele desligou a chamada.

O homem-costurado admirou a marmita que estava no chão, suspirou todo orgulhoso. Com o sangue do morto, escreveu as palavras malditas nas paredes e quando o portal se abriu, ele simplesmente adentrou-o, levando seu ex-assassino consigo, dentro de uma lata de feijão. Prato do dia no mármore do inferno.

O cardápio de hoje... Vai ser de cair o queixo!

❖❖❖
Notas de Rodapé

Eu, o Assalto-Pesadelo, apresentei para vocês, o pior pesadelo do assassino, ser morto por sua própria vítima... Parece o inferno, não?

Tenham um excelente dia... Quem sabe, eu não os visito? Huhuhu!

Apreciadores (6)
Comentários (5)
Postado 04/10/20 10:23

Menina do hell, más que obra prima temos aqui???

E eu achando que o texto ia mostrar o dia a dia do assassino kkkkkkkk

Por Belzebu!! Que história magnífica!! Eu amei esse "zumbi" fazendo o assassino cagar nas calças hahahaha

Mas olha, eu não imaginava que iria acabar daquele jeito! Eu achei que o corpinho sarado recém reconstruído iria apenas em bora... Inocente eu, igual o assassino kkkkkk

Todos os parabéns do universo não seriam capazes de expressar o quanto eu amei isso aqui <3

Um grande abraço para essa menina pesadelo <3

Postado 04/10/20 16:42

Menina, que texto fantástico!

Rachei de rir... Pior foi o zumbi virando com os elogios do Belzebu...

Sensacional!!! Kkkkk

Postado 05/10/20 10:33

E MAIS UMA VEZ VOCÊ ME SURPREENDE, ri, achei bem escrito, eu leria de novo e de novo, adorei mesmo!

a parte do zumbi me quebrou kkk

arrasou!

abraços!

Postado 05/10/20 16:31

EITAAAAAA!

A coisa já começou sinistra desde as notas de cabeçalho. Ana do Hell, seu lugar na AD - Academia Doente-, se não estava marcado, agora foi grafado na pele de alguém. Socorro!! kkkkkkkkkkkkk

Um verdadeiro show! Parabéns!

Postado 07/10/20 01:24

PARA TUDO! ESSE TEXTO ME DERRUBOU!

Amiga, você se superou demais nessa história! Que incrível. Tudo é surpreendente e bem construído. Não vou mentir, ri em alguns momentos kkk, mas a obra é de deixar os olhos saltados para fora das órbitas.

Amei essa sua alcunha para o mês!

Obrigada por compartilhar essa obra conosco.

Parabéns, 6 ♥

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