Roer
6 de Janeiro
Tipo: Lírico
Postado: 29/09/20 17:59
Editado: 29/09/20 18:01
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 1min
Apreciadores: 5
Comentários: 5
Total de Visualizações: 457
Usuários que Visualizaram: 8
Palavras: 183
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único Roer

Uma lasca de pele seca,

um filete de unha tingida de sangue,

meus dentes já se desgastaram tanto,

nem consigo mais alcançá-las...

costuradas na pele, rentes às cutículas...

Mas faço o possível, não me esqueço

destas minhas amigas,

enchem-me o estômago

sensação pontiaguda,

estão entre os dentes,

inflamando as gengivas,

estão digitando agora,

este poema que lúcidamente escrevo.

Recordo-me da exata primeira vez que as toquei

com os dentes,

era apenas uma criança,

alguém me desferiu um tapa na mão

tire a mão da boca, menina!

Então, nunca mais pude parar.

Ansiedade... Dedos rasgados.

Medo... Dedos em chamas.

Depressão... Sangue escorrendo.

Tédio... Unhas na garganta.

As unhas dos pés, eu arranco, torço,

e ateio fogo, escondo-as em lugares hospitaleiros,

elas pregam peças em nádegas que ousam sentar-se no sofá...

As unhas dos pés, são mais cruelmente atacadas, sem dó,

com tanta força trucidadas, que é quase impossível andar.

Devoro e destruo esta parte específica de meu corpo,

espero que algum germe me liberte desta vida,

devoro estas células e atómos.

devoro em meus dedos,

o que a vida não me leva à boca.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Textos nojentos cheeeeck.

Apreciadores (5)
Comentários (5)
Postado 29/09/20 23:50

Uau, Ana! Que tristeza!

Não imagino como deve ser essa sensação, entendo os medos e a ansiedade mas eles me destroem de formas diferentes. Espero que tudo passe! Tenho uma prima que tem essa coisa com ro e as unhas e infelizmente não vejo muita compreensão, mas o repreendimento contínuo.

Meus parabéns! Fique bem!

:)

Postado 30/09/20 23:04

Deu para sentir a dor e a angústia...

Seu texto foi perfeito na descrição do transtorno.

Espero que você possa se libertar!

Força!

Postado 02/10/20 02:25

Nós costumamos arrancar pedaços de nós mesmos e engoli-los como escapatória para temores internos. Há uma linha muito tênue entre sanidade e surto, que pessoas com alguma doença psíquica simplesmente atravessam por meio de mãos que nunca param de se mexer, unhas que são constantemente roídas... São hábitos que exteriorizam exatamente o que se tem dentro.

De forma implacável, o eu lírico dessa obra nos mostra tudo isso com um lirismo profundo, palpável e que rói a alma do leitor. Os versos são melodiosos, como se estivessem tentando representar o roer ansioso e depressivo das unhas de alguém. Além disso, o transbordamento de tais verdades ditas por trás de um hábito, não roem, mas sim corroem.

Obrigada por compartilhar essa obra intensa conosco!

Meus parabéns, 6 ♥

Postado 02/10/20 22:53

Por alguma razão, lembrei da minha mãe. Tipo, sempre que ela me via com o dedo próximo da boca, ela já corria para me parar - mesmo que eu não tivesse a intensão de fazer algo do tipo (tenho meio que nojo). Não sei bem o motivo de ela fazer isso, mas ela sempre faz.

Estou sem palavras para descrever os sentimentos que roeram o meu ser durante a leitura.

Parabéns, 6! <3

Postado 03/10/20 14:47

Satanás nos cuide após ler esse texto!!

Senhorita 6, a sua incrível capacidade para chocar os leitores é linda e maravilhosa!!

Eu amo o modo como você vai descrevendo cada cena, pretendendo causar nojo no leitor (em mim causou certa dor imaginária nos pés, só de imaginar que poderia ser comigo, mas nojo não huahuahau)

A senhorita tem uma criatividade incrível <3

Parabéns e um grande abraço <3

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