Nossa coleção de fracassos (Em Andamento)
Leonardo
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 12/08/20 15:31
Editado: 27/01/21 22:39
Qtd. de Capítulos: 4
Cap. Postado: 12/08/20 15:31
Cap. Editado: 27/01/21 22:39
Avaliação: 9.8
Tempo de Leitura: 74min a 99min
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Nossa coleção de fracassos

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2020, indicada na categoria Romance ou Novela.
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Notas de Cabeçalho

Minha primeira vez postando nesse site. Espero que gostem!

Capítulo 1. Os grilhões de Alice

"Se eu mantiver silêncio sobre meu segredo, ele será meu prisioneiro. Mas se eu deixá-lo sair de minha boca, eu serei seu prisioneiro". Arthur Schopenhauer.

Quando eu li essa frase pela primeira vez (Não em algum dos livros de Schopenhauer, mas sim em alguma postagem, vinda de uma página metida a filosófica, que cruzara meu caminho enquanto procrastinava nas redes sociais), confesso que não entendi muito bem oque aquilo realmente significava. Estou longe de me considerar o tipo cara que busca com ardor decifrar os mistérios de tudo aquilo que vejo por aí, oque é bem contraditório se levarmos em conta aquilo que fazia durante o dia a dia do meu terceiro ano no ensino médio, no entanto, percebo agora que podia ter me dedicado a prestar um pouco mais de atenção no prelúdio que começara a ser escrito naquele momento.

Naquele momento... Nos envolvemos com Alice. Inconscientemente ou não, estou convencido em que tudo isso começara naquele momento e nem um segundo depois.

Alice. Não Liddell, apesar de a garota se atrasar, pelo menos, quatro vezes por semana. Para todos os casos, o sobrenome dela é Sanches. Não a conhecia, nem estava ansioso por conhecê-la, mas até mesmo alguém tão desmemoriado quanto eu pode escutar seu abafado "presente..." durante a chamada.

Alice Sanches era o tipo de garota que, constantemente, era associada com a ideia de isolamento, desse modo, sempre era vista usando fones de ouvido. Muitos pensariam, de forma equivocada mas, não insensata, que ela era vítima de bullying ou coisa parecida. Mas, tendenciosamente, presumo que não é essa a questão sobre dela.

Durante nossa pesquisa, onde minha amiga Eve e eu fizemos questão de perguntar ao máximo de pessoas possíveis sobre a garota, pudemos afastar de vez a imagem de socialmente oprimida que ela parecia ter. Na verdade, as opiniões sobre ela pareciam divergir um pouco, mostrando-nos como poucos de fato a conheciam de verdade. Nomes como: Esnobe, triste, solitária, ríspida e linda eram sempre atribuídos a ela. Também diziam, as poucas pessoas que eram dedicadas o suficiente para tentar puxar assunto com a garota, que uma piada autodepreciativa sempre a acompanhava. Que o clima a sua volta era denso e sua negatividade espalhava-se como um vírus. Um vírus tão apaixonante que as pessoas iam ao seu encontro como moscas vão aos doces.

Era isso que diziam de Alice Sanches e, de certo modo, não deixou de ser verdade. Sua negatividade realmente se espalhara, prendendo os que haviam sido atingidos por ela com grilhões de pessimismo.

Mas todos, definitivamente todos, estavam errados sobre ela ser a culpada disso. Era uma ré confessa, oque tornava as coisas demasiadamente piores, mas isso não anula propriamente o fato de que ela não era a culpada.

Diga-me então, que escolha ela tinha?

Deveria ter guardado seus sentimentos até que sua tristeza a dilacerasse? Auto sacrifício não é tão bonito quanto pregam, principalmente quando você é aquele que o faz.

E no final, foi isso que ela fez. Pelo bem de uma turma que nem a conhecia de verdade. E talvez pelo meu bem, pois não queria ser um fardo para mim. Eve me dissera que não tinha jeito, o problema não poderia ser resolvido de outra forma, mas sempre, sempre mesmo, considerarei esse um dos meus maiores fracassos.

...

Era uma segunda-feira (para os fissurados por detalhes, dia 11 de março) e eu estava cabulando a aula de inglês. Ela nunca fora uma das minhas aulas prediletas, tanto que passei meu segundo ano inteiro usando ela para terminar lição atrasada de outras matérias que julguei banalmente serem mais importantes, mas conseguira a façanha de ficar pior, pois a tediosa professora nova fazia questão de dissipar toda e qualquer motivação que eu poderia vir a ter. Sendo assim, optei por aceitar o pedido de Evelin Carvalho, ou, para todos que lhe dirigiram a palavra pelo menos uma vez na vida, Eve. O avassalador frio que fazia naquela ocasião causava-me a rara sensação de que era afortunado, mas a afastei, pois no fundo curtia muito estar descontente. Minha blusa larga e grossa mantinha-me aquecido, não o bastante, visto que, vez ou outra, tremia quando confrontado por um sopro do outono. Como, milagrosamente, ninguém tinha educação física naquele horário, podíamos vadiar tranquilamente nas mesinhas, na forma de tabuleiros de dama desbotados, atrás da quadra sem ouvir o estrondo que as bolas faziam ao chocar-se com a grade metálica quando alguém errava o gol. Se alguém realmente fazia boas jogadas de dama com tamanho barulho, julgo eu que essa pessoa seria no mínimo um superdotado.

— Na moral, tenho que parar de escutar uma má influência como você. Eu já fui um aluno exemplar, sabia? Na quinta série, notas como 8 ou 9, que hoje em dia são mais que raras, eram frequentes. Estou pouco a pouco afundando numa areia movediça de rebeldia e logo não conseguirei mais subir! Qual é o próximo passo? Vai me fazer fumar maconha, moça?

Ela, em resposta, gargalhou sutilmente, de maneira anasalada, contendo-se para não delatar que não estávamos na aula. As inspetoras não eram animadas o suficiente para fazer uma busca por alunos, mas sermos prevenidos e não fazer barulho garantiria um tempo a mais de tranquilidade.

Eve era uma garota de um metro e sessenta e poucos, de pele cor de creme e cabelos rosados amarrados numa longa trança por algumas fitinhas douradas. Sempre que podia, a mesma pintara o cabelo de alguma cor diferente, sendo verde na primeira vez que nos conhecemos. Diz que manter a cor por muito tempo é "tedioso!" e garotas do ensino médio como ela abominam o tédio como conservadores abominam minorias.

— Oh, coitadinho. — fingindo ser carinhosa, ela afagou-me a cabeça, da maneira que faria com um cachorrinho perdido que fora pego por uma tempestade e ficara tristemente encharcado. Calorosamente, enrolara no dedo indicador um dos poucos cachos que encontrara em minha cabeleira irregular. — Nem vem. Você é bem mais autoconsciente do que quer fazer parecer. Se quisesse, fumaria. Do mesmo jeito que está matando aula porque quer. Mas também não estou recriminando o fumo ou quem partilha dele, só... Hum... Como posso dizer... Não é a minha praia. Acho que é uma boa maneira de colocar.

— Isso sempre me surpreendeu. Achei que você, do jeito que é, fumaria o tempo todo. — falei afastando gentilmente a mão dela do meu cabelo.

— Ah, sabe, isso exaltaria ainda mais meu esteriótipo de revoltada. Gosto de manter uma linha, mesmo que tênue, entre oque vale a pena fazer para irritar os outros e oque só está sendo feito para irritar os outros.

Uma resposta típica, como as que ela sempre me oferecia quando questionada. Eve parece ter uma resposta para todas as questões, por isso seria a última pessoa que você gostaria de entrar num debate contra. Em contrapartida, coisas como "o sentido da vida" são facilmente explicadas por ela.

Ela ajeitou seus óculos de grau, graciosamente e eu nunca acreditei que toda essa graça não era ao menos um pouco intencional. Olhos profundos e desafiadores, negros, tal como ônix e também realçados pelas lentes quadradas de seus óculos. Eve era o tipo de garota que é bonita desde o rosto até suas roupas, mesmo que ela insista na desculpa de que não presta muita atenção nessas coisas. Apesar de nosso colégio exigir uniforme (um conjunto de camisa e calça, ambos pretos, que Eve definira como péssimos), apenas uma pequena parcela realmente o usava. Por sua vez, Eve, como se fosse uma forma de protesto ou sei lá, deliberadamente, não usou o uniforme nenhuma vez esse ano, até mesmo recebendo advertências por conta disso. No lugar, ela usava uma boina de pintor azul bebê para cobrir seus cabelos já rosados (um jogo de cores interessante quando o fundo não é mais que um mar de nuvens cinzentas cobrindo o céu de uma cidade cinzenta) e uma fina blusa preta rendada, de manga longa, com a calça legging da mesma cor. Ela diz que, apesar de ser mais que inapta na maioria das artes que tentara, desde atuação a pintura, curte essa vibe de artista, sofisticada e instigante, mostrando-se misteriosa.

Acho que isso explica eu sempre tê-la seguido, não importando para onde ela me arrastasse ou oque me pedisse. Sua "aura" fazia com que eu quisesse estar ao seu lado. Desde o Incidente do passeio, que inaugurara tanto o ano quanto a nossa parceria, passávamos juntos a maior parte do nosso tempo.

— De todo modo, acho que tenho que te agradecer por me tirar de lá. — revirei minha bolsa, apalpando lá dentro até encontrar a capa dura de um livro. Tiro-o de lá e abro na página que o marcador indicava, apoiando-o no pseudocampo de damas. — A aula é um saco e aquela professora é um porre. Ser "uma pessoa chata" se tornou um pré-requisito no vestibular?

— Não gosto muito dessa teoria. Tem alguns professores novos que são legais. Tipo...

— Tipo?

— O professor de educação física. Desprezo a matéria, mas ele é divertido.

— Só fala isso porque ele é bonito.

— Oh, então você admite que ele é bonito?

— Sei lá, talvez seja. É oque as garotas dizem a respeito dele, então deve ser verdade em algum nível.

— O Tim tem uma quedinha pelo nosso professor. — ela cantarolou inocentemente. — Não sabia que estávamos num drama adolescente. Pelo menos não um assim.

— Ah, vai à merda, Eve. — e voltei ao meu livro, emburrado. Infelizmente, não conseguia focar na sua história, pois as palavras embaralhavam-se a ponto de não passarem de borrões escurecidos. Peguei-me lendo o mesmo parágrafo uma dezena de vezes e ainda não fazia a menor ideia do que se tratava. Apesar de frustrante, não posso jogar a culpa nela. Meu foco se esvai rapidamente quando há outra pessoa por perto, independente de quem seja, então não sou capaz de ler em locais públicos. Aborrecido, eu fecho o livro (que eu não direi qual é para não divulgar gratuitamente. Sim, sim. Eu sou egoísta nesse nível.) e o guardo novamente na bolsa.

— Cansou-se de ler? — sem olhar para mim, Eve perguntara enquanto digitava alguma mensagem no celular. Provavelmente falava com alguma amiga do quanto o maldito professor novo é bonito. Ao menos ela teve a simpatia de me perguntar.

Como Eve já falara, eu era mesmo bem mais autoconsciente do que aparentava, até exagerando na franqueza para comigo mesmo, oque não é nem de longe algo saudável. Mas não é esse o ponto.

Eu sei o quanto garotos como eu abominam os caras mais bonitos e populares. E eu também sei, com o privilégio retrospectivo, o quanto esse ódio não é nada mais do que estúpido. Eles são do jeito que são e eu sou do meu jeito. Julgo que as garotas têm o livre arbítrio de escolher aquele que lhe agradar mais, como eu também tenho, desse modo, na minha concepção, qualquer reclamação que eu tenha a fazer soaria como birra de um fracassado com um complexo falho de superioridade.

— Dá para dizer que sim. Logo teremos que voltar para sala e eu não gostaria de interromper a leitura.

— Sobre o que está lendo?

— Está mesmo interessada em saber?

— Não realmente, mas seria um ótimo tópico para retomarmos nossa conversa, não acha? Temos alguns minutos para ocupar até que toque o sinal. E não conversamos tanto durante as aulas. Talvez eu esteja apenas soando carente, mas gosto de conversar com você.

— Tem razão. Você está mesmo soando carente. Não lhe imaginava com o arquétipo de garota que quer ser mimada. Foi uma boa surpresa.

— Cala a boca, garoto! Seu bobo. — sua voz era meio grito e meio riso, fazendo-a soar cômica. Quando ria, dava para ver suas covinhas desabrochando. E eu não entendia como ela queria contradizer minha alegação usando uma palavra fofa como bobo para me xingar. — Diz logo sobre oque está lendo.

— Um livro que satiriza a estrutura de jornada do herói. Apesar de, às vezes, ser muito enrolado, o livro é bem divertido.

— Hum... — mostrando-se indiferente de maneira que me deixara magoado, Eve voltou a digitar no seu celular.

— Ei! Se quer mesmo conversar, pelo menos finja um pouco de interesse.

— Não é isso. É que, pessoalmente, não gosto muito de sátiras.

— Sério? Do jeito que você é debochada, achei que respirasse em forma de uma sátira.

— E eu sou debochada com muito orgulho. Mas sabe, acho que existe um glamour meio errado referente as sátiras. Não sou contra, acho até essenciais pelo teor político que geralmente carregam, mas é como se não pudesse mais se escrever com honestidade, entende? Não se pode usufruir de clichês ou mensagens supostamente batidas porque é "ultrapassado". Eu detesto autores que usam de sátiras para se colocarem num pedestal.

— Não sei se concordo muito. Acho que é preciso ter certa honestidade para compreender aquilo está satirizando. Se quer desconstruir algo, primeiro deve haver construção.

— Acho que a palavra certa seria autoconsciência e não honestidade. Mas ser autoconsciente não é necessariamente ser um bom escritor. E também... — antes que ela me lançasse uma saraivada de argumentos que eu não poderia defender, o sinal tocara, salvando-me. Eu nunca venceria uma discussão contra a Eve, ela era uma criatura muito acima dos meus padrões de pensamentos simplistas. — Opa, o sinal. Temos que ir.

Quando ela se levanta, batendo a poeira de sua roupa chamativa, eu a imitei como um espelho. Abaixou-se para pegar sua bolsa do chão e sua bunda, exaltada pela calça legging sexy, atraiu meu olhar de forma magnética. Antes que eu pudesse disfarçar, Eve já me oferecia uma espiadela de reprovação.

— Você está olhando para a minha bunda, Tim? Sério? Achei que já tivéssemos virados amigos a ponto de passar dessa fase.

A resposta dela foi tão franca que eu não tive escolha além de corar e desviar o olhar para o chão.

— Ah... Não! Tipo... Sim! Mas é que sua calça...

— Ah, então é culpa da minha calça agora? Ah, claro que é! Então dê-me um espelho logo para afastar a culpa do seu sexismo, como sempre acontece. Afinal, o problema é minha vaidade e não seu olhar de cobiça, certo? Francamente! — como sempre, Eve estava dando aqueles seus ataques de ira que eu, a essa altura do campeonato, já me acostumei. De fato, eu era o errado, mas ela não estava exagerando? Digo, foi só uma olhada, nada de mais. Mas ela não via dessa forma, tanto que saiu batendo o pé de tão nervosa, nem me esperando para irmos juntos para a sala. Não era a primeira vez que nós discutimos, nem a última, mesmo que, naquela época, só tivéssemos virado amigos há um mês. Só precisava mimá-la até que aceitasse minhas desculpas e, para isso, eu tinha mais quatro aulas tediosas.

...

Depois de esperarmos, sorrateiramente, que a professora saísse da sala, a adentramos de forma casual. Era até engraçado pensar no tamanho do cinismo desses dois adolescentes entrando na sala, tranquilamente, exibindo nossas caras de pau de maneira magnífica. Mas isso não era importante. Para os nossos excelentíssimos colegas de classe, o importante de verdade era o fato de termos matado juntos a aula. De um modo ainda mais específico, o juntos. Vários boatos sobre a gente namorar acabaram se espalhando pelo colégio depois do Incidente do passeio. Eve não se importava o suficiente para negar com afinco, sempre a respondendo a eventual pergunta com um "Não" vago o suficiente para não sanar nenhuma desconfiança.

Ignorando os murmúrios, fui até o meu lugar, quarta carteira da segunda fila da esquerda. Uma carteira, como todas as outras do colégio, tão riscada que a cor original se perdera no meio de tantas anotações obscenas e pichações.

— Na moral, você vai reprovar desse jeito. Não aprendeu nada no ano passado?

Ergo minha cabeça, devagar, e sou recebido por um pacote de salgadinho barato, isopor com sal, como eu carinhosamente o chamo. Supostamente tinha o sabor de presunto, se acreditar nos boatos, mas julgo ser uma lenda urbana, tipo a loira do banheiro.

— Pelo menos eu tenho um bom amigo para me passar a matéria que eu não copiei. — minha mão adentra o pacote, pegando uma quantidade generosa o suficiente para deixar menos do que a metade do salgadinho.

Alex, meu amigo sensato, apenas ofereceu-me aquela risadinha que implicava um "Você não tem jeito". Ele era invejavelmente mais alto do que eu, apesar de quase esquelético de tão magrelo. Pálido, de olhos verdes e uma mancha escura no queixo que talvez um dia venha a ser uma barba. Seus cabelos eram negros e um tanto bagunçados, mas essa suposta falha os tornavam estilosos, radicais. Era bonito, oque o tornaria muito popular com as garotas e muito odiado por mim, mas sua personalidade séria e retraída afastava quase todo mundo. Menos eu. Antes que entenda errado de onde nossa amizade partiu, acho que devo me explicar e principalmente me desculpar. Minha intenção, se aproximando dele, era apenas a de conseguir cola quando eventualmente eu precisasse. Mesmo nossa amizade começando de forma tão deturpada e tóxica, obviamente por minha culpa, acabei me afeiçoando por ele. Agora acho que dá até para dizer que somos bons amigos.

— Não vai conseguir ir bem nas provas se não aprender a matéria. Sei que soa muito como um sermão, mas não deixa de ser verdadeiro. — depois de comer o insignificante resto, Alex amassa o pacote de salgadinho na forma de uma bolinha e a joga na lata de lixo. Certeiro, como sempre.

— Vamos torcer para que eu tome jeito antes que seja tarde, né? — disse, rindo, com indiferença, uma falsa indiferença que escondia minha angústia. Ou, ao menos, tentava fazê-lo. Não importa. A essa altura, já estava consciente que não ia mudar e já me odiava por isso.

— Mudando de assunto, você e a Evelin brigaram?

— Sério, às vezes eu me assusto com o quão perceptivo você é.

Não notando meu sarcasmo, ele explicou-se. — Ficou meio na cara. Ela e suas amigas já olharam para cá uma centena de vezes. — olhei ao lado e comprovei aquilo que Alex me dissera quando vi as várias garotas beirando-a como corvos e me recriminando como se eu fosse o pior dos assassinos com o seu centésimo primeiro olhar.

— Sim, na verdade, ela brigou comigo. Por um motivo estúpido, para variar. Ela se abaixou e eu acabei meio que... Olhando a bunda dela. Mas... Tipo assim... Não tinha como não olhar.

— Bom, ela está usando calça legging. Então eu entendo.

— Né? Porra, é impossível dizer que não queria ser vista quando escolheu vestir isso.

Pensando com o luxo que a visão retrospectiva me permite ter, percebo que no decorrer desses Fracassos haverá uma quantidade generosa de justificativas ao meu comportamento sexista. São todas ruins, então, se você pensa como eu, reveja seus conceitos e tente não dizer coisas tão estúpidas assim. Ou não, faça oque quiser. Realmente não me importa.

A professora de geografia chegara, apressadamente por conta do atraso e, depois de fazer a chamada, começou imediatamente a passar aquela quantidade absurda de textos que sempre passa. Fiz o máximo, talvez nem tanto assim, para acompanhar antes que ela apagasse o quadro, mas isso tornou minha letra já feia uma coisa horrenda e indecifrável.

Todos os alunos que se importavam, que não eram muitos já que uns sete faltaram, pareciam estar presos num transe, mas ele fora quebrado com a chegada dela. A já citada Alice Sanches que batera na porta meia aberta. Abriu-a devagar e o rangido conseguiu puxar toda a atenção indesejada.

Os cabelos de Alice eram coincidentemente loiros e, nas pontas, havia vários cachos ondulados como caracóis. Sua pele tinha a coloração oliva que exaltava seus pequenos olhos azuis. Os dentes dela eram um tiquinho tortos e isso a tornara tímida com sorrisos, uma falha mais cativante do que esquisita, além do seu nariz ser delicado. Suas roupas, uma calça de moletom e uma larga blusa masculina, faziam-na casual e não machona.

— Chegou cedo para a aula de amanhã, dona Alice. — a professora repreendeu-a, toda sarcástica. Curiosamente, ninguém riu.

— Desculpa. — soando tão baixo quanto um sussurro, escondida por uma muralha, ela respondeu e foi até o seu lugar, atrás de Eve na fileira da janela. Sei que falei o quão cativante ela era quando sorria, mas não passava de especulação, pois, sempre que a vi, ela tinha a mesma expressão vazia. E naquele dia, por algum motivo naquele dia... Me era bem desconfortável de olhar. Nunca prestei atenção nela, mas, dessa vez, era como se eu quisesse deliberadamente ignorá-la.

Essa sensação... Eu já sentira antes, durante o Incidente do passeio. Quando Joe, um moço metido a hippie que se autonomeava O Esquecido, me passara seus olhos estranhos com um beijo. E também quando ajudei Eve a ajudar sua amiga Clara no único problema em que não fracassamos. Era como se, por um instante, eu estivesse sendo banhado por toda tristeza do mundo. Abusando do meu autocontrole e esforçando para não derramar lágrimas, eu olhei para o lado esquerdo, onde Alice estava sentada com a cabeça escondida pelos braços cruzados na mesa.

Segurando para não gritar, eu coço os olhos para ter certeza. A vista fora deixando de ficar turva gradativamente, não demorando muito para que eu tivesse a tão cobiçada certeza.

Desde uma coleira em seu pescoço até algemas em seus braços, Alice Sanches estava presa por grilhões. Correntes enferrujadas rastejavam pelo seu corpo como cobras e já haviam acorrentado os dois alunos atrás dela que ostentavam o mesmo olhar triste e vazio. Aqueles que faltaram, provavelmente, devem ter sido afetados por isso. Logo, será a vez de todos os meus colegas de classe e eventualmente a minha.

...

No dia 13 de fevereiro, tivemos um passeio escolar para, como dizia o diretor, começar o ano com pé direito. No mais, a maioria dos detalhes sobre esse dia são dispensáveis, banais o suficiente para não merecerem os holofotes. Sendo bem franco, existem apenas duas coisas importantes sobre aquele dia.

Primeira: O maldito beijo de Joe, O Esquecido. Depois que aquele moço estranho tocou-me com aqueles lábios frios e tristes, passei a enxergar coisas que não enxergava. Quando surtei por não estar acostumado com tudo aquilo que via, ele explicou-me que o pensamento é mais poderoso do que as pessoas sabem e, quando pensamentos de angústia corrompem a mente, acabam se manifestando em formas de coisas que apenas eu enxergarei. Nesse caso, resumidamente, ele me passara seu fardo. Pelo menos foi oque ficara implícito.

Segunda: Minha relação com Evelin Carvalho. Naquele dia, por pura coincidência, ela presenciou tudo que aconteceu no parágrafo anterior. Foi ela quem cuidou de mim até que eu sarasse totalmente e também é a única que conhece meu segredo, apesar de não entender realmente como funciona. A relação que ela tem para com a minha habilidade é algo como a frase "Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem! ". Depois que eu a ajudei com as asas de sua amiga Clara, nos tornamos mais ou menos como parceiros.

E é por isso que eu a aguardei, no horário do recreio, nas mesmas mesinhas em que ficamos durante a primeira aula. Tive que aguentar uma infinidade de murmúrios maldosos que as suas amigas fizeram enquanto pedia que, por favor, ela me encontrasse durante o recreio.

No horário combinado e nem um minuto a mais, Eve chegara, meio encolhida e tremendo, até mesmo soltando vapor pela boca. Antes de falar, uma bola atinge a grade e ambos pulamos susto.

— Bom, estou aqui, ao seu dispor. Fale logo aquilo que anseio ouvir antes que me arrependa de ter vindo a seu encontro. Está frio demais.

Orgulhoso e mais do que disposto a não ceder, eu...

... Pedi desculpas, com o rabo entre as pernas e muito envergonhado.

— Foi mau por ter olhado a sua bunda. — disse meio a contragosto.

Mesmo que Eve exibisse uma expressão carrancuda e impassível, ela logo se quebrara, dando lugar a um sorriso complacente.

Sem dizer uma palavra, Eve se aproxima e me prende num abraço forte e aconchegante. Ela era muito quente, mesmo que sua blusa seja fina a ponto de parecer que eu estava tocando sua pele de verdade e não um tecido macio. Mas, acredito eu, sua pele era diabolicamente macia. Sua expressão tão meiga quanto desafiadora... Deveria ser um crime ela não a manter! Nas poucas (talvez um pouco mais do que poucas) vezes que me masturbei, a imaginava com essa expressão e a pele corada, suave ao toque. De todo modo, era diferente vê-la assim, menos intimidadora e distante. No momento, fiquei confuso. Mais tarde, essa confusão passaria e eu finalmente perceberia o porquê de não ter gostado do abraço.

— Sabe, Tim, eu não gosto que me vejam apenas como um pedaço de carne ou coisa parecida. Fico magoada. E eu sou insuportável quando estou magoada. — deu uma risada anasalada. — Então... Continue sendo um bom garoto. Mesmo que já saibamos o quão linda é a minha bunda, não olhe para ela!

— Mas isso é difícil!

— Tem que ser. Faz parte da sua jornada de autodescoberta.

Espera, meu arco de personagem é deixar de olhar para a bunda da minha melhor amiga gostosa?

— Mais importante que isso...

— Mais importante que a minha bunda? Honestamente, eu duvido.

— Mais importante do que isso, — repeti, nervoso, elevando minha voz. — você nunca notou nada de estranho na Alice?

— Hum... Alice Sanches? Não, na verdade. — ponderou por um tempo, esfregando o lábio superior com o dedo. — Pensando agora, acho que eu notei que eu nunca a notei.

— Notou que nunca a notou?

— Sim! Não sei até que ponto isso faz sentido, mas ela sempre pareceu-me um tanto distante, sabe? E eu notei isso e não ela em si. Como quando você vai ao cinema com seu grupo de amigos e vê alguém que foi ver o filme sozinho. Querendo ou não, a solidão tem certo destaque. Mas não é como se o destaque fosse atribuído a pessoa, né?

— Então você nota o quão patético é o tal solitário e não ele próprio? Isso me é meio maldoso. — até porque eu já fui várias vezes sozinho no cinema por falta de companhia.

— Não tenho desculpa quanto a esse pensamento maldoso, é meio inevitável, mas acho que, nesse caso em específico, Alice é diferente. Ela é bonita.

Suspirei em resposta, incomodado e confuso. Não achei que Eve fosse o tipo de garota que definiria alguém assim.

— Olha, acho que eu não entendi...

— Certo... — demorou um tempinho até que pudesse pensar na melhor forma de explicar isso para um ser tão simplista quanto eu. — Na minha concepção, Alice é linda por ser triste e distante. A melancolia que ela carrega a torna cativante, parecendo muito que ela escolheu por conta própria ocupar esse papel. Não me recrimine com o olhar, por favor. Só estou dizendo que parece. Enfim, quanto maior o desafio, mais a recompensa agrada, certo? Esse seu... Estilo, vamos definir assim por enquanto, faz com que a maioria se afaste, entretanto, aqueles que ficam tornam-se fascinados pela garota. Conversei com ela algumas vezes e cara... Foi assustador. Sorriu pouco, sentindo-se encantadoramente culpada logo em seguida e isso me viciou em tentar ser aquela que desabrochava seus sorrisos. — por um momento, Eve soara apaixonada, um pouco poética, fazendo jus a roupa que trajava. — Mas por que a pergunta? Também se apaixonou pela tristeza dela?

Também...?

— Não. — eu achava impossível que isso acontecesse. Por que correria atrás de tristeza quando mal consigo afastar a minha? — Só estava curioso. Faltou muita gente hoje e eu acho que eram amigos dela. Tirando tudo isso que você me falou, não notou nada realmente estranho?

A garota vacilou, desviando o olhar para o chão e ajeitando seus óculos. — É mais uma daquelas coisas. — não fora uma pergunta, mas, mesmo assim, eu assenti. — Iguais às asas de Clara. Isso tem a ver com a falta dos 7 alunos? Realmente, já os vi conversando com ela muitas vezes, mas nunca mais do que poucas trocas de palavras.

— Eu já achei estranho que faltassem tantos alunos num só dia e eles serem amigos ou, pelo menos, colegas próximos de Alice me basta como confirmação. Normalmente, eu não me envolveria com os problemas dela. Não sou tão invasivo. Mas aquela sua tristeza se manifestou na forma de correntes enferrujadas e, ao contrário das asas de Clara, estão sendo inconvenientes para outras pessoas. Como eu sou o único que enxerga essa porra, me sinto meio obrigado a fazer algo.

— Eu entendo, mas como faremos? A Clara decidiu pedir minha ajuda da última vez. Não podemos chegar lá do nada e intimidar a garota. Talvez ela nem saiba das correntes.

— Esse é o problema. — suspirei, cansado, apoiando minha cabeça na palma da mão direita para repousá-la. — Não podíamos bancar o policial bom e o policial mau? Tipo um interrogatório.

— Embora seja uma sugestão bem divertida, acho que teremos que descartá-la da nossa já limitada lista de opções. Hum... — a expressão de incomodo que minha parceira fazia tornava as coisas bem mais tensas. Ela sempre tem a resposta, então a dúvida dela ilustrava claramente o quão perdidos estávamos. Para complicar ainda mais a situação, o sinal tocara. Com o exército de amigas fiéis em seu encalço, não haveria como discutir nossos assuntos nada naturais na sala. — Merda!

— Olha, tenta descobrir oque puder da garota, mas sem confrontá-la diretamente. Só converse normalmente, como faria com alguma amiga sua. Eu também farei o possível para descobrir oque puder.

— Certo... Ei, posso ir na sua casa depois da aula, né? Podemos traçar um plano de ação. — levantou-se, batendo um pouco da poeira inevitável que era acompanhada do isolamento que as mesinhas ofereciam.

— Ah, pode sim. — também me levantei em seguida. — Por sinal, por que nunca vamos na sua casa?

— Gosto de manter certas coisas ocultas. Se eu lhe revelar tudo, não terá mais surpresas e talvez você passe a desprezar minha companhia. Não acha que uma pitadinha de mistério deixa tudo mais excitante?

Ao contrário da maioria de suas respostas, essa era bem fraca. Apesar disso, assenti brandamente. Por conta do privilégio retrospectivo, sei que ela tem razão, mesmo que na época nem sequer desconfiasse que viria a desprezar Eve algum dia.

...

As duas últimas aulas passaram voando. Minha contribuição, que lhe prometi durante o recreio, fora praticamente nula e tão desprezível quanto eu. Não descobri nada além daquilo que Eve me contara, sendo um claro fracasso. Não um bom o suficiente para render outro conto, mas um tão frustrante quanto as outras provas da minha inutilidade. Não fazíamos tanta questão de trocar palavras no colégio, então um olhar bastou para combinar aquilo que já estava implícito. Não havia hora certa, mas Eve aparecera um pouco depois do almoço. Bateu palmas, pois, como uma vampira, jamais entraria sem ser convidada. Apesar de que eu nunca ouvi falar de uma vampira tão colorida quanto ela estava naquele dia. Usara uma blusinha salmão, adornada por pedrinhas vermelhas, possivelmente em formato de coração, que formavam a palavra LOVE. Sua calça era um tipo de moletom esverdeado, quase cor de marca texto e as botas de um couro tão rosa quanto seus cabelos, por sua vez soltos e lisos. Não quis usar sua boina, mas confesso que uma pouco mais de cor não faria a miníma diferença.

Não pude deixar de encará-la de cima a baixo.

— Está... Colorida. — balbuciei, envergonhado.

— Está precisando melhorar seu vocabulário de sinônimos, Tim. Linda ou magnífica seriam palavras que se encaixariam melhor. Talvez deslumbrante, mas acho essa uma palavra um tanto pomposa demais. Enfim, abre logo o portão. — a rainha ordenou, por isso eu o fiz, pensando que a palavra assustadora talvez se encaixasse melhor para defini-la.

Eve ainda ficava um pouco tímida entrando na minha casa, dizendo "com licença" ou coisas assim sempre que entrávamos em um novo cômodo, mesmo que meus pais estivessem trabalhando e minha irmãzinha no colégio. Desviamos da sala para adentrar meu quarto nos fundos. Não estava assim tão desarrumado porque eu havia limpado há pouco tempo, talvez alguns livros atirados no chão pudessem causar essa impressão. Não que Eve ligasse para isso, eu acho. Depois de, pela milésima vez, me pedir licença, ela sentara na minha cama de pernas cruzadas, comigo desejando imensamente que ela estivesse com a calça que usara hoje de manhã.

— Descobriu alguma coisa falando com ela? — eu pergunto, também me sentando. Ficamos frente a frente.

— Não. Relativo às conversas, acabou dando na mesma. Na verdade, hoje estava menos falante. Não devia ser um bom dia. Mas tenho um jeito da gente virar a maré.

— Qual? — inocente, e um pouco esperançoso, eu lhe pergunto.

Eve, assustadora, ria de forma ardilosa, soando igual uma vilã que acabara de traçar um plano de dominação global.

— Você terá um encontro com Alice Sanches, meu caro. Seu primeiro encontro, se estou certa como acho que estou. Temos que achar uma roupa bonita.

— Espera, não posso ter um encontro com ela. Tipo... Nem nos conhecemos. Como você chegou a isso?

— Digamos que um lindo passarinho, que por acaso é um dos alunos que faltara por ser atingido pela tristeza de Alice, acabou, também por acaso, me dizendo que ela estava com muita vontade de sair. Mais especificamente, ir ao cinema ver uma daquelas comédias que diminuem consideravelmente sua bagagem intelectual. Mas relaxa, nós vamos em grupo. Se quiser chamar o Alex, pode chamar. Vou chamar a Mia e o Gustavo, meu passarinho já citado.

— Você já teve um lance com ele, se minha memória não falha.

— Não deve falhar, porque é verdade. Vez ou outra, a gente ainda flerta um pouco, mas nunca passa disso. Enfim, isso não importa. Vamos começar em grupo, mas, depois do cinema, vamos todos embora e você ficará sozinho com ela. Nessa hora, você dará o bote!

Falando desse jeito, parecia até que eu ia atacar a garota.

Eve se levantou com um salto felino e abriu todas as gavetas do meu guarda-roupa (por sorte, na era digital, é mais difícil de se achar revistas pornográficas no quarto de um garoto) jogando uma quantidade grande de camisas sob meu colo. — Estão todas amassadas. Quer que eu passe alguma?

— E impor a você uma concepção tão sexista? Não, obrigado. Prefiro abrir mão do encontro, oque claramente me deixará muito triste, para que você continue sendo feminista como é.

— Vai se foder, Tim. — gargalhou levemente, sem me olhar, continuando sua busca por uma camisa que julgasse bonita.

...

A cidade, como sempre, estava atribulada. Mesmo que as 14 horas não sejam a hora do rush (horário de pico, para valorizar minha língua materna), ela parecia estar demasiadamente mais barulhenta que o normal. Claro, essa análise parte do pressuposto de que eu raramente saio e qualquer coisa minimamente mais animada do que meu pacífico e decadente estado de espírito causa-me estranhamento. Parado em frente ao shopping, ao lado da porta vidro automatizada, mesmo que estivéssemos num grupo de quatro pessoas, eu estava absurdamente deslocado. Além do fato de que a camisa social que Eve escolheu para mim era alaranjada e mais chamativa do que meu cinza e preto usual, temos que levar em conta que essas pessoas não me conheciam direito. Não faço ideia do que esse babaca do Gustavo gosta além de manter seu cabelo loiro bem penteado e Mia, mesmo que bonita, era autoritária e ainda me odiava pelo incidente já perdoado da bunda. Alex não quis vir porque estava ocupado estudando (sim, nesse conto, ele é só um esteriótipo), deixando-me sozinho.

Mas, pensando agora, a falta dele não fez nenhuma diferença. Porque nem Alice chegou a vir.

Olhamos para todos os lados da rua e tentamos com afinco encontrá-la, embora não tivéssemos abandonado nosso ponto de encontro. Por um segundo, cogitou-se a ideia de entrar e ver o filme sem ela, mas fora negada imediatamente por Eve que mandara, maravilhosamente, Gustavo se calar e esperar. Passou-se 10 minutos, 20 minutos e depois disso meia hora. Quando chegou aos 45 minutos (do segundo tempo, ah há!), não havia jeito, a batalha estava perdida.

— Não tem jeito, Tim. — Eve deu os ombros, esforçando-se para parecer indiferente, mas seu olhar angustiado revelava que estava mais desapontada do que eu. — Vamos tentar outro dia.

— Mas que merda, Martim. — o maldito loiro agarrou-me o ombro, jogando seu peso como se fossemos melhores amigos. — Não vai poder sair com a mina hoje, mas não desanima, mano! Vai na fé que dá certo.

— Valeu...

Até mesmo Mia chegou a me consolar (sério, o que Eve falou para eles?), mesmo que daquele jeito autoritário de sempre.

— Bom, saiba que a garota não tinha obrigação nenhuma de vir te encontrar. Principalmente por ser você. Mesmo assim... Deve ser meio chato. Sinto muito. — arrumou seus cabelos escuros como carvão e virou de costas para mim.

Sem escolha, nos separamos, já que a casa dos outros era para o lado oposto (eu supunha, porque não fazia a ínfima ideia de onde Eve morava) e eu neguei, educadamente, que eles me acompanhassem até minha casa.

Um passo depois do outro, um semáforo depois do outro e uma apalpada no bolso em que estava o celular, para me certificar inutilmente que ele continua ali, depois da outra. Antes da metade do caminho, acabei por pegar o celular e inconscientemente mandar mensagem para Eve. No fundo, bem no fundo, eu queria resolver aquele problema de uma vez e não iria me dar por vencido tão fácil.

Eu: [Olá, Eve! Vc pode me passar o endereço da Alice?]

Eve: [Comassim??? Vc vai lá? Eu vou juntooo!!]

Eu: [Só me passa logo o endereço. Vou resolver essa questão de uma vez]

Eve: [Tá bom... Mas me conta como foi depois, tá? Em DETALHES, meu caro lorde. Quero saber todo o processo do cortejo da dama]

Eu: [Lhe contarei, minha lady. Lhe contarei sim]

Com o print do endereço e minha determinação revivida (bom, pelo menos grande parte dela) eu corri. Quase tropeçando e parando algumas vezes por falta de fôlego, eu corri com toda minha força, como faria se fosse um clímax de filme romântico e eu precisasse ir atrás da mocinha antes que seu avião a levasse para longe.

Depois da minha última pausa por falta de fôlego (eu precisava mesmo voltar a me exercitar), acabo chegando na rua indicada. Penso, por um instante, em desistir da missão a qual fui submetido por um estranho que me beijara do nada, mas mantenho a cabeça erguida, tocando de uma vez a campainha. No começo, ninguém respondera, colocando-me na situação onde ou eu a tocava novamente, sendo tão insistente quanto inconveniente, ou apenas ia embora, frustrado. Resolvi tocar novamente, enquanto encarava o jardim bem arrumadinho e com estátuas de pássaros.

Graças a Deus, alguém aparecera, apesar de seu olhar não poder ser definido como hospitaleiro. "De saco cheio" combinaria mais, eu suponho. No mais, a mulher, vestindo um avental florido, era uma cópia veterana de Alice, que decidira trocar a tristeza por uma dose a mais de apatia.

— Boa tarde. — ela falou, desprovida de calor e com um claro olhar de reprovação. O instinto de abaixar minha cabeça, que era bem idiota se levar em conta que eu não havia feito nada errado, era forte demais para conter.

— Boa... Boa tarde! A... Sua... Alice está? — balbuciei essa pergunta, gaguejando aos montes.

— Está sim. Por quê?

Por quê...?

— A gente tinha combinado de sair, mas ela não foi. Daí eu... Eu vim ver como ela está. — com todo o afinco que me é possível, usei todas minhas faculdades mentais para formular uma frase decente. Sim, o resultado de todo esse esforço foi essa coisa simplória.

— Olha, fico feliz que se preocupe. De verdade. Mas saiba que minha filha é do tipo que transforma sua tristeza em um fetiche. Ela continuará assim, lhe causando preocupação e isso nunca vai mudar.

Lembro, precisamente, do quanto senti apatia por essa mulher. Foi nosso primeiro contato, poucas frases sendo trocadas e eu já a odiei, embora, pelas especulações que trocara com Eve, isso pudesse ser mesmo verdade.

— Eu só quero falar com ela.

Depois de um suspiro pesado, ela apertou um botão de seu pequeno controle e o portão automático abriu. Lhe disse um "com licença" claramente com má vontade, passei pelo seu jardim preparado com muito esmero e adentrei a casa. Era um lugar bem comum, com um claro excesso de mobílias que diminuiu consideravelmente o espaço que teria, e suas paredes eram pintadas num bege recatado. A mulher me falara qual dos quartos Alice dormia e virara de costas, assumindo sua indiferença e ostentando-a de forma intimidadora. Bato na porta, devagar, escutando o som rítmico que a madeira fazia ao ser encostada por minha mão.

— Não tô com fome, mãe. — uma voz, possivelmente abafada por cobertores, respondera.

— Não, sou eu. — por sorte, percebi que é bem provável que ela não me reconheceria apenas pela voz e fiz questão de me corrigir. — Martim, da sua sala.

Por um tempo que, a meu ver, parecia demasiadamente longo, nada foi dito. Ela escolheu ficar quieta e eu estava prestes a escolher ir embora, mas ela quebrara o agonizante silêncio.

— Por que está aqui?

Ela perguntou, de modo ainda abafado.

— Vim ver como você está. Fiquei preocupado por você não ter ido. A propósito, como você está?

— Estou normal. — ela simplesmente respondeu e eu tive que especular que esse normal queria dizer triste.

— Eu... Eu posso entrar? Tipo... Se não for nenhum incomodo e tal.

Novamente silêncio...

Preferia muito que ela me dissesse um "Não! Vai embora, seu virgem de merda." de uma vez. Naquele momento, eu pensava que era inútil tentar um diálogo com uma garota assim. Se nosso relacionamento não tem base o suficiente para que ela converse coisas banais comigo, quem dirá para que eu resolva seu problema das correntes.

— Acho que eu venho outra hora. Quando estiver melhor e...

De repente, a porta se abriu, rangendo.

E de dentro do quarto, a figura de Alice Sanches revelava-se, surgindo de um breu e sendo iluminada pela luz que vinha de fora de seu quarto. Quando os holofotes a banharam, destacando-a de modo que eu não imaginaria ser possível, pego-me contemplando, pela primeira vez, ela de verdade.

Seus olhos pareciam vermelhos de tanto chorar e seus cabelos loiros estavam mais arrepiados do que o usual, mas seu sorriso, sútil e acanhado graças aos dentes um pouco tortos, tornava-a graciosa. Usava as roupas de sempre, uma larga blusa que talvez fosse masculina e uma calça de moletom. Nessa blusa, fosca e de cor azul, havia um grotesco fuck escrito como onomatopeia, sendo até estranho por ser uma roupa dela. Mesmo que eu não lhe tivesse dado a devida atenção antes desse incidente, eu nunca remetera a palavra revolta a ela.

— Desculpa por não ter ido no cinema com vocês. Eu ia ir mesmo! Sério. Já tinha até me arrumado e tudo, mas... Não sei. Não me senti muito bem. Desculpa mesmo. — entristecida, a garota abaixou sua cabeça e passou a encarar o assoalho. Por instinto, acabei olhando para baixo também, visando descobrir o alvo de sua atenção. Eram seus pés, ambos abrigados por meias peludas. Aí eu entendi oque Eve falara. De fato, Alice era linda e tive um desejo incontrolável por tentar ampará-la.

— Não tem problema. — sorri, mostrando-me complacente. — Eu só fiquei um pouco preocupado. Mas fico feliz que esteja bem.

— Eu devia ter mandado uma mensagem avisando. Tenho que deixar de se tão descuidada.

— Tem mesmo. Foram 45 minutos de espera! Sabe o quão agonizante é esperar tudo isso?

— Desculpa. — de repente, a garota parecia estar prestes a chorar e eu me via desesperado como nunca. Não é todo mundo que entende sarcasmo, pelo que vejo, apesar de que era exagero ficar tão triste por uma brincadeira.

— Ei, só estou brincando com você. Pode ficar tranquila. — levo meu dedo indicador até embaixo de seu olho para impedir que a pequena lágrima caísse. Demora até que eu percebesse meu ato e ficasse envergonhado por conta do mesmo. Desesperado por uma ação tão íntima, retiro a mão de forma abrupta. — Na verdade... O Gustavo se atrasou também. Então esperaríamos de qualquer jeito. E ele nem tem um motivo como o seu. — uma mentira, obvia, mas não tinha uma má intenção por trás dela.

— Ele parece mesmo o tipo de pessoa que se atrasaria...

— Sim, ele é um babaca, mas isso não importa. — dei meus ombros para que pudéssemos afastar o Gustavo da nossa conversa rapidamente. — Já que está bem, acho que posso ir...

— Ei! — ela gritou, num agradável desespero, enquanto agarrava-me pelo braço com suas duas mãos. Seu rosto corara lindamente. — Você queria entrar... Né? Não é como se eu tivesse muita coisa para fazer também. Se ainda quiser, bom... Eu... Gostaria de companhia. Da sua companhia.

Assenti, seguindo-a para dentro de seu quarto escuro, exercendo um claro esforço para ocultar o sorriso que surgira dessa insignificante vitória.

Quando ela bateu no interruptor, pude enxergar o quarto com mais clareza. Sua cama era de solteiro, tendo uma grossa camada de, pelo menos, quatro cobertores. Contudo, estava bem arrumadinha, como um saco de dormir bem mais grosso. As paredes tinham o mesmo bege do resto da casa e o guarda-roupa que a escondia era branco e rosa, bem menininha, oque eu julguei curioso. Ao lado da porta, uma televisão, bem maior do que a minha família tem na sala de estar, fazia-se presente em cima de uma cômoda. Como eu não sou muito bom em disfarçar minha cara de "caralho que televisão gigante!", ela se viu tendo a obrigação de me explicar.

— Meu pai me deu ela de presente no meu aniversário de 16 anos. Ele trabalha numa loja que vende esse tipo de coisa, então não saiu tão absurdamente caro. Como era o primeiro aniversário em que ele não morava mais com a gente, acho que tentou compensar com um presente grande. — aproximou-se do meu ouvido, tal como faria ao segredar algo. — Mas, só entre a gente, também acho que foi só para provocar minha mãe. Ela detesta esse tipo de coisa.

— Pais são assim mesmo. — eu disse, descompromissadamente, tentando fazer aquilo ser uma situação comum e dando a entender que na minha casa também era assim. Spoiler: Não era. Minha família é perfeita. E até mesmo minha irmãzinha, que não faz nada além de ostentar o quanto é melhor do que eu de forma inconsciente, é uma pessoa legal. Quanto a minha irmã mais velha, reclamar sobre ela deveria ser considerado um crime.

— Desculpa. — Alice falou, sentando-se na sua cama e com seu rosto estampado com uma expressão manhosa.

— Por que está se desculpando? Você não fez nada de errado, garota. — não consegui dosar o tom bravo da minha voz.

— Eu... Não sou uma pessoa divertida, Martim. Vai ficar entediado comigo rapidinho. Mal te conheço e já comecei a te falar da minha família...

Precisava ser paciente com a garota, mas sua atitude me irritava.

Me irritava porque eu, no fundo, me identificava com ela. Eu também sentia-me triste e chegava no ponto de estar prestes a explodir.

Mas eu não falava com ninguém. Optei por afundar meus pensamentos com distrações banais e fugir da verdade.

Alice Sanches era o extremo oposto. Sua atitude me irrita porque, ao contrário de mim, ela é honesta. Honesta com sua tristeza. Ela não sorriria só porque "É o certo a se fazer" e não fingiria estar feliz pela comodidade das outras pessoas. Embora muitos possam julgar isso como frescura, eu digo que é admirável.

— Pois saiba que eu discordo de tudo isso que você falou!

— Como assim? — ela me pergunta, incrédula.

— Eu discordo de tudo. Se você não me parecesse uma pessoa divertida, eu nem me daria o trabalho de vir até aqui te ver. Poxa! Não acha muita maldade o que está fazendo?

— Maldade?

— Sim, maldade. — caminhei até ela, abaixando para ficarmos na mesma altura. Antes que ela fosse para trás pela eventual vergonha, lhe aplico um peteleco na testa. Ela teve que segurar o grito de dor. — Que outro nome você daria? Eu fiquei muito ansioso com a possibilidade de sair com você. Até pedi concelhos para Eve, que me fez usar essa coisa colorida. — lhe mostrei minha camisa alaranjada com a mão. — Porra, eu tive que aturar aquele babaca do Gustavo falando sobre seu cabelo e a Mia me tratando como se eu fosse um projeto de estuprador. Quer mesmo me dizer que eu fiz tudo isso para sair com uma pessoa chata? Não, não. Nem fodendo que eu aceito isso.

Por um instante, pensei que essa seria a gota da água e ela choraria copiosamente. Já imaginei diversos cenários onde a mãe dela vinha correndo até o quarto e me expulsava, gritando coisas como "Nunca mais chegue perto da minha filha, seu virgem". Entretanto, invés disso, Alice gargalhou. Uma risada baixa, por parecer ter receio de irritar alguém se risse muito alto, mas era uma risada gostosa de se escutar.

— É. Realmente foi muita maldade. — ela dizia entre risos. — Me perdoa?

— Pensarei no seu caso, moça.

— Bom, — deitou-se em sua cama, numa tentativa de ficar mais à vontade. Ela é péssima em passar aquela imagem de anfitriã casual. — Já que foi tão complicado vir me encontrar, o que faremos? O mínimo que eu posso fazer é te conceder essa carta-branca.

— Hum... Eu não sei. O que você faz geralmente?

— O que eu faço? Além de chorar, você quer dizer? — mesmo eu tendo admirado o fato dela também conseguir ser sarcástica, não abri mão de um olhar recriminador. — Brincadeira. Hum... Ah! Eu assisto filmes. Muitos filmes, na verdade. Minha mãe até diz que eu tenho que me afastar um pouco dessas porcarias.

— Então não precisamos nem analisar outras opções. Eu também gosto de filmes.

— Certo! Ei... Acho que tem um problema.

— Qual?

— Minha cama é meio pequena para caber duas pessoas.

— Bom, eu não me importo em ficar perto de você. Até porque está frio, né? Calor humano é importante, principalmente num mundo onde as pessoas estão cada vez mais afastadas.- é... Eu sou muito cara de pau. Não acredito que tive coragem de usar isso como argumento.

Nesse momento, pensei que Alice havia trocado de lugar com um pimentão de tão vermelha que ficara.

— Tudo bem... — ela se afastou um pouco, na beira de sua cama, parecendo muito que estava prestes a cair num precipício. Pegando o controle, que já estava em cima de suas muitas cobertas, ela direcionava toda sua atenção para a TV. Ainda assim, Alice tapeou sua cama algumas vezes, deixando implícito que eu devia me sentar. Como um cara obediente (talvez a única qualidade que eu posso de fato me orgulhar) eu o fiz.

Dizer que a situação era estranha não passaria de uma redundância estúpida, afinal, todo mundo já deve ter passado por um estranhamento assim alguma vez na vida. O silêncio inconveniente e embaraçoso, não ter ideia do que dizer para quebrar de uma vez esse silêncio ou, se tiver a tão esperada ideia, julgá-la ruim e não dizê-la para não estragar tudo com a pessoa que gosta.

A pessoa que gosta... Não é esse o caso, certo? Pelo menos não deveria ser. Não deveria...

Parecia ter uma parede entre a gente, que não podíamos sequer atravessar, pois, seria um território perigoso e hostil. Mas eu sei que isso é idiota. Eu sei que, depois dessa parede imaginária, só há uma garota fofa e triste, cheia de piadas autodepreciativas e sorrisos sutis. Uma risada abafada, mas muito gostosa de se ouvir. Linda e estranhamente honesta com seus sentimentos. Se é isso que me espera do outro lado, por que não atravesso essa porra de uma vez?

Lembro precisamente o quão confuso eu estava aquele dia.

— Você tem alguma preferência? Sobre o filme. Sabe... Tem gente que não assiste certas coisas. E não quero que fique entediado por duas horas só porque eu escolhi errado.

— Não tenho, na verdade. Sou do tipo que assiste de tudo. Sendo bom, eu curto.

— Mas isso talvez seja um problema... Né? Não sei o quão parecida é a nossa definição de qualidade. Gostos diferentes e tal... Não nos conhecemos direito... Ainda.

— Bom, vamos testar então. Qual é o seu gênero favorito? O meu é drama. Talvez suspense, se for bem-feito. Algo entre esses dois.

— Eu gosto de comédia. Tipo o filme que a gente ia ver no cinema hoje. Eu amo o ator do protagonista.

— Mas ele nem muda a expressão facial...

Eu confio que você, meu leitor, é sagaz o suficiente para descobrir quem é sem que eu cite o precioso nome.

— Eu nunca pensei nisso... — a garota hesitara, repensando toda mentira que sua vida fora até agora. Parece até quando você diz a uma criança que o papai noel não existe. — Sempre achei ele tão engraçado. Os filmes dele me passam uma vibe legal, sabe? Fico tranquila quando os vejo. Talvez não seja uma obra-prima e muito provavelmente não tem qualidade sequer em seu próprio gênero, mas eu gosto...

— Bom, se você gosta, deve ser bom. — tomei o controle de sua mão, de maneira até um pouco grosseira, e digitei o nome do ator na ferramenta de pesquisa da Netflix. — Qual desses você ainda não viu? — pergunto a ela.

— Eu vi todos, mas não tem problema. Eu gosto de assistir coisas repetidas. Até prefiro elas. Se eu já vi e já gostei, não tem como eu me decepcionar.

Sorri com aquilo, dando play em um dos filmes que eu não tinha visto.

Depois de uma centena (Não é exagero, esse número é bem preciso) de piadas previsíveis e cenas que causam vergonha alheia, eu já estava mais que entediado. Claro, jamais lhe diria isso, porque é bem capaz dela desatar a chorar e colocar todo meu progresso a perder. Enquanto eu caçava com afinco alguma faísca de possibilidade de que alguém de fato tinha se esforçado para escrever o roteiro daquela porcaria, percebo que Alice ficara sonolenta, oque tornava a situação pior. Eu só estava assistindo aquilo porque ela queria ver. É a maior interessada, penso eu, então não acha que dormir é o maior desrespeito possível? Cedendo ao sono, ela quebrara a parede invisível, deixando sua cabeça cair no meu ombro inocentemente. Penso em acordá-la, mas não o faço. Dormindo, ressonando tão baixinho, parecia-me serena como nunca a vi. Eu não queria só ver filmes com ela, fui até lá resolver o problema das correntes, mas pensei, eu pensei... Que poderia lhe falar isso mais tarde. Em outra ocasião.

...

Depois daquele dia, nossa relação evoluirá a ponto de passarmos grande parte dos nossos dias juntos, seja pessoalmente ou por mensagem. De repente, Alice Sanches era um grande componente em minha vida. Até sua mãe começara a me tratar um pouco melhor por eu sempre estar lá.

Alice desabafara tudo que podia comigo, confiando em mim como se nos conhecêssemos há muito tempo. Falou sobre como se sentira solitária, suas notas que caiam e o fato dela ter desistido de aumentá-las, o constante atrito de seus pais e os olhares julgadores. E não demorou muito até que eu fosse preso pelas suas correntes pesadas e enferrujadas. Desde de a coleira em meu pescoço, sufocando-me, até as algemas em minhas mãos. Eu estava preso por grilhões e estranhamente satisfeito com aquilo. Dizia-me o tempo todo, tentando com afinco convencer a mim mesmo, que esses grilhões nem apertavam tanto assim. Que não era tão ruim ser sincero para com a minha tristeza como Alice fazia. Quando Eve me perguntara se eu havia conseguido resolver o problema das correntes, eu apenas lhe ignorei, dizendo que não era tão perigoso quanto eu imaginei. Ela não dissera mais nada, só chegando a me repreender quando eu faltei dois dias seguidos no colégio. "Eu sei que vocês tem um lance, mas não é saudável ficar assim, Tim. É decadente. Não percebe o quanto isso está te fazendo mal?", falou em tom que implicava um sermão e eu apenas lhe respondi que isso não era da sua conta. Depois disso, deixamos de nos falar. Porra, é fácil falar um "Não fique triste!", mas oferecer uma solução para o problema ninguém quis. Eu sou desse jeito e se ela fosse minha amiga de verdade, me aceitaria como Alice aceitou.

Era isso que eu pensava, até o fatídico dia chegar para foder completamente tudo que eu acreditava até então.

Não sei a data com exatidão para expor precisamente os fatos, mas sei que havia passado das 19 horas. A mãe de Alice, que fazia o máximo para afastar a apatia que tinha em relação a mim, quase surtou de felicidade quando lhe disse que ia se exercitar com a sua filha, uma clara antagonista para com a ideia de praticar esportes. Como ela faltava quase todo dia, sua mãe já estava conformada com a reprovação iminente, mas um pouco de disciplina, na forma de esportes ou sei lá, não faria mal algum.

Não estava frio a ponto de incomodar, embora eu ache que isso se dê ao fato que nos mexíamos bastante. A quadra de basquete em que estávamos ficava à distância de duas quadras da minha casa e sempre fora um dos meus lugares favoritos. Já treinei muito naquele lugar, arremessando e tentando inutilmente melhorar minha condição física, mas acabei desistindo da ideia quando percebi o quanto meus colegas levavam aquilo a sério. Milagrosamente, ainda tinha ambos os aros, coisa rara hoje em dia. A tinta das marcações do campo já estava desbotada, sendo só um asfalto cinzento, mas não fazia diferença, pois eu havia memorizado onde ficavam todas as linhas importantes.

As luzes, numa mistura amarelada das poucas lâmpadas com o azul próprio da noite, respingavam sob Alice, tornando-a fascinante. Seus cabelos longos despenteados esvoaçavam a medida que ela corria de um lado para o outro, batendo a bola de um jeito desleixado e descontrolado. Também arfava, cansada da corrida a qual não era acostumada e frustrada por não ter acertado nenhuma cesta.

— Por que eu não posso só jogar a bola de qualquer jeito? — perguntou-me, derrotada. — O importante não é só fazer a bola cair? Nem chega perto do jeito que eu tô fazendo...

— Mas não é o jeito certo, Al. Vamos, não desista ainda. — essa última frase, por algum motivo, ressoa muito comigo. E sim, eu já a chamava de Al. — É só apoiar a bola com a mão esquerda e empurrar com os dedos da direita. — disse de maneira complacente, como alguém provavelmente me dissera quando aprendi a forma certa de fazer o arremesso. — Que tal a gente se aproximar um pouco?

Obediente, andou alguns passinhos para frente, concentrada. Posicionou a bola de basquete nas mãos, encarando aquela tabela quebrada como se fosse sua maior inimiga. Arremessou a mesma, empurrando-a com os dedos e fazendo-a girar. Bateu no canto esquerdo e depois no direito, por fim entrando na cesta. Alice permanecera silenciosa até a ficha finalmente cair.

— Eu... Eu acertei, Martim! — quando eu assenti, ela correu até mim. Com um salto imprudente, que tinha o objetivo de me abraçar, ela derrubou-me no asfalto duro. Reclamaria, mas o fato de estarmos tão próximos me fizera hesitar um pouco. Alice estava em cima de mim, com seu rosto praticamente colado no meu. Sorria e corava lindamente, respirando de maneira pesada. Percebo meu membro enrijecer pela proximidade momentânea. Tentei com afinco disfarçar, mas julguei que qualquer pessoa sagaz o suficiente para medir o quão corado meu rosto estava perceberia. Por sorte, Alice é bem inocente e graças a Deus ela percebera o quão ousada estava sendo, afastando-se rapidamente, evitando a todo o custo me olhar. — Desculpa. Eu fiquei muito animada. Não achei que ia mesmo conseguir.

Sentei a sua frente de pernas cruzadas. Como se estivesse lhe parabenizando, afago sua cabeça. — Eu disse que ia dar certo. Todo mundo tem dificuldade com a fórmula no começo. Você devia ter me visto. Achei que minha irmã ia surtar comigo de tanto que eu errei.

— Não sabia que a sua irmã também jogava.

— Ela que me ensinou. — hesitei, pensando se devia me aprofundar nisso ou não. — Minha irmãzinha sempre foi inteligente para caralho, desde novinha. Por isso, eu sempre senti uma mistura de ciúme com inveja dela. Ciúme pela atenção já esperada que sempre se dá para irmãos caçula e a inveja por considerarem ela uma criança superdotada. Por grande parte da minha infância, tentei me equiparar a ela e conseguir a aprovação deles, oque obviamente não deu certo. E a minha irmã mais velha, numa declaração de mediocridade, me convenceu a deixar quieto essas coisas e me dedicar ao que eu realmente queria. Depois disso, ela me ensinou a jogar basquete, algo que gente simplista como a gente poderia fazer melhor do que nossa irmãzinha experta.

— Eu sinto muito. — Alice me respondeu. — Sempre que precisar desabafar, pode contar comigo, Martim. De verdade. Você sempre me escuta quando eu preciso, então nada seria mais justo, né? — socou meu ombro tão devagar que parecia ter receio de fazê-lo. Sorrindo, devolvi o soco. Eu fiquei absurdamente feliz em poder ser sincero para com ela.

— Ei, Alice, você nunca sentiu nada de diferente? — cala sua boca, idiota. — Nada de estranho?

— Como assim?

— Tipo... Algo que não pareça ser muito natural.- por favor, cale-se. Fique quieto, maldito. — Que te faz se sentir presa e aperta seu corpo. Algo como...

— Correntes. — friamente, Alice concluiu minha frase. Levanto com um salto, assustado e um pouco desnorteado. Devagar, ela se levanta também. — Você está falando sobre as correntes, não é? Como sabe delas? Você também as vê?

— Porra, sim, mas isso não importa agora. Como viveu todo esse tempo com essas correntes? Elas apertam, Alice! Não devia sofrer calada sem contar para...

— Tá errado, Martim. Tá errado... — e agora, bem mais do que antes, ela parecia prestes a chorar. — Eu... Eu causo as correntes, Martim. Sou eu que escolho quem será preso por elas. Eu os acorrento.

Tudo ficara branco e confuso.

Minha cabeça parecia prestes a explodir com a quantidade de informação que a atingira. Naquele mar de confusões, tudo que eu conseguia pensar com clareza era a frase que Eve me falara.

"Acho que a palavra certa seria autoconsciência e não honestidade. Mas ser autoconsciente não é necessariamente ser um bom escritor (uma boa pessoa)"

...

Desde a infância, a tristeza foi minha companheira mais querida. Estava do meu lado para tudo e nunca me abandonava como os outros faziam. Típica garota, eu era doce como pediam, mesmo que essa tristeza continuasse enraizada.

Era algo normal, eu achava, até que o divórcio dos meus pais chegou. Eles brigavam muito, era difícil ver eles se dando bem. Somei tudo isso junto a uma depressão que obtive e não teve como resultar em algo que não era uma tentativa de suicídio. Tomei muitos remédios aquele dia porque eu não aguentava mais aquela vida, não aguentava mais as brigas constantes deles junto da minha própria mediocridade. Não era minha intenção, mas quase impedi o divórcio deles e até mesmo, por pouco tempo, a gente parecia uma família feliz. Carinhosa. Mas não durou muito. Tudo voltou a ser como era e a minha mãe chegou a ponto de falar que eu só estava querendo chamar a atenção com aquele papo de suicídio. Depois daquilo, num desejo mais egoísta do que devoto, eu rezei com toda força para alguém.

"Por favor, faça com que entendam oque estou sentindo! Por favor, os mostre como não estou sendo fresca. Eles tem que saber que estou mal"

No dia seguinte, os grilhões apareceram, apertando meu corpo e me deixando pior do que estava. Achei que era uma condição, um inconveniente que não podia ser evitado, por isso os aguentei. Elas apenas pesavam meu corpo, inúteis, mas com o tempo percebi que elas acorrentariam todos aqueles que ouviam meus desabafos. A única pessoa com quem não funcionou foi a minha mãe, mas até mesmo meu pai foi acorrentado. Podia compartilhar minha tristeza com todo mundo, fazê-los entender. E eu fiz isso, Martim. Foi isso que eu fiz e eu não me arrependo.

...

— Então você sabia de tudo, garota? Sabia que estava deixando os outros mal e mesmo assim continuou. Por que, Alice? Porra. Você até mesmo usou essas correntes em mim! — eu gritava, mais choroso do que enfurecido.

— Eu não tinha outra escolha, Martim. Eu não aguentava mais. Eu não sou feliz, então por que preciso prezar pela felicidade dos outros? Por que tenho que me adequar? Desde sempre as pessoas insistem na mesma ladainha. "Não fique mais triste, Alice". "Poxa, por que é tão pessimista?". "Não se sinta mal por algo tão estúpido!". Eles não percebem que não é estúpido para mim. Não é egoísmo... Não é mesmo egoísmo!

— Isso... Não é certo, Alice. Está deixando as pessoas mal por algo que é relativo apenas a você.

— Relativo a mim? Não... Não é essa a questão. E meus grilhões só prendem aqueles que também se sentem mal. Como eu te falei, não funcionou com a minha mãe. Se funcionou com você e os outros, quer dizer que são tão tristes quanto eu.

— Eu não sou como você.

— Não mesmo. Eu sou verdadeira para tudo que eu sinto. Eu não guardo meus sentimentos dentro do coração. Se não podia me livrar, ostentaria eles. Foi isso que eu pensei quando rezei. E é por isso que agora tenho esses grilhões, para expor mentirosos como você. — Alice, banhada pelas luzes da quadra, caminhou até mim, me encarando de frente. Já perto, usa seu dedo acusador para tirar uma pequena lágrima que surgia no meu olho. — Martim... Eu gosto de você. De verdade. Não queria te contar, mas agora penso que foi o melhor. Você também enxerga minhas correntes. É único, como eu. — sua mão fora até minha bochecha e seu rosto se aproximou do meu. Sentia sua respiração quente chocando-se contra as lágrimas geladas no meu rosto. — Eu sei que me entende. E sei que, no fundo, concorda comigo. Eu... Amo sua companhia e sei que logo te amarei também. Preciso das poucas alegrias que você me causa. Por favor, vamos expor aqueles mentirosos juntos.

A lua estava azulada por debaixo das nuvens e o vento ficara forte a ponto de eu começar a tremer. A tinta do asfalto era gasta, mas eu já havia decorado todas as linhas importantes. Foi ali que eu arremessei e tentei inutilmente melhorar minha condição física, além dessa ser uma das poucas quadras do bairro em que os aros não foram arrancados.

Mesmo assim, eu rejeitei sua proposta.

...

Passou-se algum tempo, uma semana ou um pouco mais do que isso, não sei, mas parecia que a dor adquirida no caso da Alice não estava nem perto de passar. Alice Sanches mudou de colégio e de bairro, se afastando daquele que descobrira seu segredo e lhe rejeitou. No mais, tudo estava assombrosamente normal. Os alunos afetados voltaram as aulas, não fazendo ideia do que os deixou tão tristes. Talvez a única peça que não se encaixava nesse quadro de normalidade fosse eu, que já havia faltado uns 4 dias. Não aguentava os rumores (talvez um pouco embasados) que diziam que ela se mudou por conta do nosso término. Minha família, que não sabia da história ou do contexto, fez o possível para me apoiar, sendo bem mais do que compreensível.

Deitado em minha cama, eu ouvia um podcast sobre o livro que eu terminara de ler há pouco tempo. Ele não estava nem de longe ruim, com diversos pontos interessantes que explicavam oque eu não havia entendido, mas estava quase cedendo ao sono. Só não dormi porque as batidas na porta quebraram o devaneio.

Antes que eu grite um "pode entrar", Eve já o fizera, abrindo a porta e adentrando meu quarto. Seus cabelos rosados estavam novamente trançados com nós, mas optou por um boné esportivo no lugar de sua boina. Usava uma blusinha branca rendada e isso estava de bom tamanho, mas sua saia longa, de padrões geométricos roxos e azuis, lhe davam o destaque corriqueiro.

— Minha família implorou para você vir? — eu pergunto, virando as costas e focando minha atenção na parede ao lado da minha cama.

— Não, mas fizeram muita festa. Sua mãe me disse para te convencer a comer alguma coisa, a Laura falou que se eu precisasse tinha camisinhas lá no quarto dela, recebendo muito apoio de seu pai sobre essa questão e a sua irmãzinha perguntou se eu usava roupas coloridas como uma forma de autovalidação. Respondi que não, embora não soubesse oque tinha de errado em se autovalidar numa sociedade tão depreciativa e, sei lá como, nossa discussão chegou em existencialismo. Sério, eu amo sua família.

Mesmo fazendo um claro esforço para me opor, acabei soltando uma risada alta. É, minha família é incrível, isso não posso negar.

— A maior tristeza disso tudo é saber que você não aceitou as camisinhas. — debochei, virando para o lado que ela estava.

— Pior que não aceitei mesmo, mas ganhei a discussão, se isso te alegra. — sentou-se de costas para minha cama. — E como você tá? Uma semana de faltas é muito até para a Alice. Fiquei preocupada.

— Estou indo. — respondi, de modo superficial. — Ainda acho que a culpa foi minha.

— A culpa não é sua, Tim. É um problema que não poderia ser resolvido de outro jeito. Você se livrou das correntes, né?

— Não, elas foram com ela para outro bairro. Só joguei os problemas para longe, como sempre faço.

Pensativa, Eve ficara em silêncio até sua animação estalar na forma de um grito agudo.

— Pois saiba que, na minha opinião, que é a única que importa como você bem sabe, você merece uma recompensa.

— Tá bom, vou lá pedir as camisinhas para a minha irmã.

— Se falar disso de novo, eu vou te abandonar aqui sozinho. Não me provoque, senhor Martim. Já estou sendo indulgente demais para alguém que foi mau comigo. — fez um biquinho com seus lábios avermelhados. Eve tapeou seu colo algumas vezes, esperando que eu entendesse a mensagem oculta de sua ação. — Vamos, deite aqui.

— Por que eu deitaria no seu colo?

— Sei lá, para descansar. Esquecer um pouco dos problemas. Garanto que é relaxante.

Relutante, eu aceitei a suposta recompensa. Levanto da cama e sento ao seu lado, claramente desconfortável. Depois dela me apressar com seu olhar incisivo, acabo deixando que minha cabeça caia em seu colo. Demorei a me ajeitar, mexendo-me bastante até conseguir um ângulo que me agradasse. O tecido de sua saia roçava-me a orelha direita, fazendo cócegas agradáveis e Evelin Carvalho mexia docemente nos meus cabelos, devagar, como se zelasse por minha calma.

— Não precisa fazer isso, Eve. — eu lhe disse, encabulado por estar tão vulnerável diante dela.

— Relaxa. Eu gosto. — enrolara um dos meus poucos cachos com o dedo indicador. — Quando eu ficava triste, minha mãe sempre fazia isso comigo. Então fazer o mesmo me causa uma boa nostalgia.

—Você nunca me falou sobre isso.

— Não mesmo. — vaga como sempre, o tom de voz dela indicava que nunca ia me falar.— Mas que fique claro que eu vou cobrar esse favor, hein? Quando eu estiver triste, terá que me deixar chorar no seu colo.

Senti-me, de repente, com a obrigação de dizer.

— Desculpa, Eve. Eu fui um amigo de merda. Devia ter te escutado.

— Oh, Deus, finalmente! Achei que nunca ia falar. Sim, sim, eu sou incrível e uma amiga maravilhosa, mesmo que não receba o que me é devido. — beijou-me levemente na testa, obrigando-me a fechar os olhos enquanto me tocava devagarinho com os lábios. — Sabe, Tim, mesmo que nesse caso o resultado não tenha sido o melhor, acho que a gente podia fazer isso mais vezes. Seu dom é especial e aquele hippie estranho deve ter te dado por algum motivo. Podemos compensar a falha desse com os acertos dos próximos, não concorda?

Eve declarou erroneamente enquanto eu assentia erroneamente. Depois de um tempo em silêncio, apenas aproveitando o mimo que recebia, eu erroneamente respondi.

— Não vamos fracassar no próximo, parceira. — como já deve imaginar, eu estava errado.

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Apreciadores (2)
Comentários (2)
Postado 12/08/20 20:01

Sr. Leonardo!!

Eu estou completamente encantada e maravilhada com essa história fascinante que você está escrevendo!!!!

No começo fiquei com minhas primeiras impressões de Alice, mas, nossa! O final desse capítulo foi surpreendente, Alice é completamente diferente do que aparentava ser!! É incrível o modo como você foi crianda essa personagem!!

Os outros personagens também são interessantíssimos!! Tim e Eve são incríveis, e eu amei essa dupla de amigos!! (Não posso negar que sou uma shippadora nata, e o que eu mais queria era ver o Tim se envolvendo com alguém, e esse alguém podia ser a Eve!)

E todo esse mundo que você criou onde o Tim é capaz de ver essas coisas, isso foi demais!! Eu adorei a premissa de mistério e suspense!! Tudo está tão bem escrito!! Meus parabéns!!

Irei acompanhar, com muito prazer, essa história magnífica!! <3

Um grande abraço!!

Postado 12/08/20 22:11

Olá, senhorita Meiling Yukari!! (É o nome que aparece, por isso te chamarei assim. E eu quis te imitar nas saudações)

Primeiramente tenho que te agradecer por acompanhar Nossa coleção de fracassos. Fico absurdamente feliz que esteja gostando tanto! Espero que continue gostando no decorrer dos capítulos.

A Alice é um dos meus amorzinhos, minha favorita depois da Eve e do Martim. Escrevê-la foi um desafio, mas valeu muito a pena. E fica de olho, pois ela aparecerá mais para frente, hein? Talvez um tiquinho mais caótica… Mas não contarei mais nada! Ah há!

Olha só! Hehehe. Só não lhe julgo porque eu, deliberadamente, faço questão de fornecer material para esse shipp. Se vai rolar ou não cabe ao tempo dizer (falo como se eu não fosse o autor e não soubesse tudo que vai acontecer…). Mas, enquanto esse shipp não acontece, posso te garantir sim que vai ter romance. No terceiro e quarto capítulo (que eu postarei assim que terminar de revisar) vai ter uma dose generosa de romance.

Muito obrigado por acompanhar minha história! <3<3<3

Um abração! <3

Postado 19/08/20 01:38 Editado 19/08/20 18:34

Olá, jovem Leonardo!

Me custou um tempinho, mas foi um tempo bem gasto! Muito bem gasto lendo sua obra!

Sua história traz um misterio muito interessante que eu quero muito mais! Já não vejo a hora de um próximo capítulo, ahhaa.

Não esperava por tamanha reviravolta no primeiro capítulo, fui enganada! Miserável ... (>0<;) Hahahaha!

Mas vendo a história da Jovem Alice consigo ver um tanto de realidade, onde a pessoa não consegue pedir ajuda e transforma todos a sua volta manipulando-os com seu problema/doença. Não sei se expressei direito me ver, peço desculpas caso tenha ofendido.

Ao término da leitura fico com perguntas como quem é realmente esse cara estranho que "passou" o poder? O que vai acontecer para ele sentir nojo da melhor amiga? Será que essa história com a Alicie acabou mesmo? Qual a próxima aventura? Vai ter suco de laranja?

Sua escrita é muito boa, fluida e refinada! Parabéns! Não vejo textos muito longos por aqui, então o seu destaca de todos haha.

Sem mais a dizer, agradeço por compartilhar sua obra, desejo que a complete e Bem-Vindo a Academia de Contos!

Assinado uma pequena vampira, <3

Postado 19/08/20 17:14

Olá!

Fico alegre que tenha gostado da minha história e queira ler mais:3. Eu tenho terminados somente os que estão postados no site, mas já possuo o roteiro de alguns outros hehe. Só concluir uns outros projetos que passarei a escrevê-los.

Ah há! Te enganei! Hehe. Mas sim, você foi bem precisa. Eu queria fazer da Alice uma personagem meio tóxica, para que causasse questionamentos. Ela sofre e tal, mas ainda sim tem atitudes não tão boas. É o tipo de coisa meio controvérsia que eu curto escrever.

Humm… Não posso dar spoiler! Só posso dizer que vai ter sim suco de laranja. Inclusive, deveria ter sempre e em toda história porque é o melhor sabor de suco que existe.

Poxa, muito obrigado ^^. E é verdade, né? Entrei no site a pouco tempo (e estou adorando, inclusive) e percebi que a maioria dos textos são mais curtos. E eu nem para dividir os capítulos hehehe.

Eu que te agradeço por dispor do seu tempo para ler minha história <3

Postado 19/08/20 18:38

Ficarei anciosa para ler essas demais obras e esperei ver-me meus comentários em teus textos cheios de personagens controversos!

(Bah! Suco de laranja!)

Até o próximo capítulo, <3

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