SEGUNDA CENA: INT. MANSÃO INFERNAL - MADRUGADA (4H).
Após uma calorosa festa, a família Infernal e todos os empregados decidiram se recolher em seus aposentos em torno das duas da manhã. A nevasca ainda continuava forte e, por conta da baixa temperatura, Sarah e Diablair decidiram que seria prudente que a pequena Ternura dormisse no quarto do casal para que, durante a madrugada, eles pudessem verificar com mais frequência se ela estava aquecida. A casa estava silenciosa e tudo o que se ouvia no imenso quarto do casal Infernal era o crepitar do fogo na lareira, o vento uivando nas vidraças cobertas por cortinas e alguns barulhos de Ternura em seu berço rosa cheio de pelúcias das mais variadas formas animalescas. Diablair desperta para verificar Ternura. Ao se aproximar do berço, o líder Infernal, apesar da sonolência, sorri ao ver a pequena criança dormindo, completamente embrulhada em suas cobertas e com uma touca de ovelha.
TERNURA (se virando no berço e balbuciando): Frango assado, panqueca, salada de feijão…
DIABLAIR (soltando uma risada baixa): Com trinta diabos, o que é uma salada de feijão, caubói infante?
[Ao perceber que sua sobrinha não necessitava de seus cuidados, o líder Infernal retornou para sua cama. Quando ele se cobre, no entanto, percebe que há uma sombra de pé perto do berço de Ternura, encarando-a. Diablair mantém a calma, pois — apesar das chamas da lareira permitirem ver somente a forma e não o rosto da sombra —, ele supõe que seja uma das invocações de sua esposa que, sabiamente, optou por pedir a um de seus guardas espirituais que velasse pelo sono de Ternura, enquanto ela descansava. A sombra encara Ternura, enquanto Diablair encara com um pouco de dificuldade a sombra. De repente, a sombra humanoide começa a caminhar em direção a porta do quarto. Ao sair do cômodo, a sombra se funde com a escuridão do corredor, deixando a porta entreaberta. Diablair se deita novamente, desta vez, virado para o lado direito da cama e se surpreende ao perceber que o colar de sua esposa, que ao estar ativado emitia uma luz lilás, estava completamente negro. O líder Infernal abruptamente se levanta e caminha a passos largos para o berço de Ternura. Para a surpresa de Diablair, a menina ainda dormia tranquila.]
DIABLAIR (suspirando de alívio): Graças a Deusa…
TERNURA (balbuciando enquanto dorme): Peixe frito, pastel… Tem… Alguém… na… Casa...
[Diablair arregala os olhos ao ouvir as últimas palavras de Ternura e sente um frio na espinha. Um barulho de porta se fechando no corredor chama a atenção de Diablair e o mesmo, irritado com a ideia de um desconhecido estar vagando por sua casa no meio da noite sem que ele tivesse percebido, sai de seu quarto. Caminhando pelo corredor, ele levanta a mão direita com o intuito de acender todas as velas, mas o encantamento não funciona.]
DIABLAIR (arqueando as sobrancelhas e sussurrando): Alguém está anulando meus poderes?
[O líder Infernal ouve alguém descendo pela escadaria principal e começa a caminhar silenciosamente em direção ao barulho. Chegando ao topo da escada, Diablair sente alguém puxar a barra da calça de seu pijama. Como se seguisse seus instintos, o líder Infernal, não tendo a possibilidade de usar seus poderes, desferiu um chute na direção em que a mão estava, acertando alguma coisa… viva.]
VOZ DESCONHECIDA (sussurrando): Pelo ódio mortal da Deusa, homem, por que me chutou?
DIABLAIR (sussurrando, incrédulo): Damon?
DAMON (sussurrando): Quem mais poderia ser?
BLAKE (sussurrando e surpreendendo Diablair): Poderia ser eu.
DAMON (sussurrando para Diablair): Você que invade o quarto da Imperatriz no meio da noite como se fosse uma assombração e de repente aparece me chutando?
DIABLAIR (arqueando uma das sobrancelhas e sussurrando): Eu não invadi o quarto dela. Para começo de conversa, por que você estava no quarto dela, sendo que você e Blake tem ótimas acomodações?
BLAKE (sussurrando com ironia): A melhor acomodação desta residência é a cama da Tortura.
[Damon solta uma risada baixa. Diablair desfere um chute na direção da voz de Blake, mas o hunter desvia.]
DIABLAIR (sussurrando): Se Damon não tivesse invadido meu quarto e meus poderes estivessem funcionando, você seria um hunter morto neste momento, Blake.
DAMON (sussurrando e indignado): Por que diabos eu invadiria seu quarto, sendo que estava confortável nos braços da minha amada?
DIABLAIR (sussurrando): Vou te matar, vampiro carnicento.
BLAKE (sussurrando para Diablair): Como assim seus poderes não estão funcionando?
DIABLAIR (sussurrando): Não sei, mas há uma presença aqui que não consigo identificar e que, aparentemente, está anulando meus poderes. Pensei que era um dos guardas espirituais da Sarah cuidando da Ternura durante a madrugada, mas vocês queiram imaginar meu pavor quando percebi que era algo desconhecido.
BLAKE (sussurrando): Pelo o que vocês relataram, pode ser um poltergeist ou até mesmo uma alma penada. É fácil de banir, mas difícil de caçar. Talvez seja melhor acordar todo mundo e ver se estão todos bem, antes que o pior…
[Antes que Blake pudesse terminar a frase, um barulho de algo se quebrando no andar de baixo chama a atenção do trio, que rapidamente desce as escadas. Os três vão em direção ao enorme sofá para se esconderem.]
DAMON (sussurrando): Blake, você é o hunter aqui, vá caçar essa coisa.
BLAKE (sussurrando com ironia): Você é um vampiro e pode enxergar no escuro, tente ver o que é.
[Damon levanta a cabeça e começa a encarar a escuridão total do hall de entrada. Ao perceber um movimento mínimo da sombra, ele ativa a sua visão vampírica, mas ao colocar seus olhos sobre a sombra humanoide, o jovem sente seus olhos sendo queimados. Damon tomba para trás, gemendo de dor, com as mãos sobre os olhos.]
BLAKE (sussurrando e preocupado): O que houve? O que você viu?
DAMON (sussurrando e com dor): Não sei… Parece ser uma mulher… Está usando um vestido preto bizarro… Consegui ver somente isso, antes dos meus olhos queimarem.
DIABLAIR (sussurrando): Mas com trinta deusas enfurecidas, que diabos é essa coisa?
VOZ DESCONHECIDA (sussurrando ao lado de Diablair): Oh, não, o que nós faremos?
[Diablair, Blake e Damon soltam um grito alto de puro horror. Na ânsia de se afastarem da voz desconhecida, Blake e Diablair acabam tropeçando em Damon que, por não estar enxergando, apenas continuou com o corpo deitado no chão, esperando a morte. O trio encontra-se empilhado no chão. A voz desconhecida ri.]
VOZ DESCONHECIDA: Que diabos vocês estão fazendo?
DIABLAIR (levantando-se e incrédulo ao reconhecer a voz): Pablo, se você estiver brincando de assombração na minha casa, eu juro que te mato.
PABLO: É assim que você recebe as suas visitas? No mais completo escuro?
[Pablo bate palmas e todas as velas do ambiente se acendem. O grito dado por Blake, Damon e Diablair acaba despertando as demais moradoras da casa, que começam a sair desesperadas de seus quartos.]
SARAH (descendo nervosa a escada e tentando amarrar seu robe vermelho): Blake, se você estiver invadindo a casa de novo, eu juro que…
TORTURA (interrompendo Sarah): Como diabos Blake invadiria a casa, sendo que ele já estava aqui, tia?
IMPERATRIZ (surgindo abruptamente atrás de Diablair, com uma faca nas costas do tio): Explique agora mesmo, Diablair, porque o meu namorado está com os olhos queimados. Você jogou alho nos olhos dele?
DIABLAIR (levando as mãos como se estivesse se rendendo): Para a minha tristeza, não fui eu que fiz isso.
PABLO (pigarreando): Que família mais agitada…
[Todos os presentes olham na direção de Pablo.]
SARAH (surpresa): Pablo? Você está invadindo a nossa casa de madrugada? Pensei que só chegariam amanhã.
PABLO: Sim e não. Infelizmente não conseguimos chegar a tempo para o jantar, pois houve uma interferência nos portais para chegarmos aqui.
IMPERATRIZ (caminhando na direção de Pablo com a faca): Tio Pablo, se foi você que cegou meu namorado…
PABLO (levantando as mãos como se estivesse se rendendo): Eu juro solenemente que não encostei no vampiro.
DAMON (segurando o pulso da Imperatriz): Amor, não foi ninguém aqui. Foi aquela maldita mulher que…
[A Imperatriz lança sua faca na direção da cabeça de Damon, que é salvo pelo puxão de Blake. A faca é cravada na parede do outro lado do cômodo.]
IMPERATRIZ (irada): Então quer dizer que você estava de gracinha com outra?
DIABLAIR: Com trinta diabos, Imperatriz, o garoto não fez nada.
[Todos, com exceção de Pablo, encaram Diablair com incredulidade, pois era a primeira vez que ele defendia Damon.]
DAMON: Se eu não estivesse tão assustado, ficaria comovido.
[Damon se vira para Pablo.]
DAMON: Você disse como se estivesse acompanhado… Há mais alguém com você?
PABLO (colocando as mãos para trás): Ah, sim… Minha esposa… Ela está em algum lugar da casa. Acabamos nos perdendo um do outro.
DAMON (cerrando os olhos, desconfiado): Há alguma possibilidade da sua esposa ser a alma penada que me cegou?
DIABLAIR (colocando a mão sobre o ombro de Damon): Eles dois são as últimas pessoas das quais deveríamos desconfiar.
PABLO (com os olhos cerrados para Damon): Se a situação não fosse tão grave, garoto vampiro, eu te arrebentaria por ter chamado a beldade da minha esposa de alma penada.
TORTURA (irritada): Ora, com trinta demônios, o que está acontecendo? E quem é esse homem, tio Diab?
DIABLAIR (suspirando): Gostaria que a situação fosse mais agradável para as apresentações, mas… Família, este é Pablo, meu mestre-irmão. O convidei para passar o Natal conosco.
[Todos começam a se apresentar para Pablo e a pedir desculpa pelos enganos ofensivos. Após isso, Diablair faz um breve resumo do que aconteceu.]
IMPERATRIZ: Ok, isso é muito macabro… Há certas coisas que estou disposta a relevar, mas alma penada me encarando enquanto durmo não é uma delas.
TORTURA (para Pablo): O senhor deve estar preocupado com a sua esposa…
PABLO (despreocupado e rindo): De forma alguma. A minha preocupação é se a alma penada acabar encontrando a Fubuki, porque ela costuma ser bem… implacável.
[Abruptamente, um barulho de vidro se quebrando é ouvido por todos, seguido de um grito de criança. Toda a família Infernal começa a correr para o andar de cima e apenas Pablo olha para as vidraças ao lado da porta de entrada da casa. Com uma destreza inumana, o homem corre para o lado de fora da casa, bem a tempo de segurar o corpo que está despencando da janela. Toda a família Infernal para de correr e se vira para ver Pablo retornando para dentro da casa, com Tristeza chorando em seus braços. Tortura e Blake correram na direção da porta para fechá-la.]
SARAH (correndo na direção de Pablo): Pela Deusa afogada, como você caiu pela janela, Tristeza?
PABLO (com o olhar sombrio): Ela foi arremessada.
[Diablair, vendo que a sobrinha não para de tremer, a toma dos braços de Pablo e a leva para a lareira, que se acende assim que o líder Infernal se ajoelha com a criança.]
DIABLAIR (sussurrando para a sobrinha): Você vai ficar bem…
TRISTEZA (com os lábios roxos): Tio… F-Foi aquela m-m-mulher que me jogou de lá… Eu não…
[Tristeza fica inconsciente. Diablair nota que a criança está sem pulso.]
DIABLAIR (desesperado): ELA ESTÁ MORRENDO!
[Sarah invoca um grosso cobertor felpudo e enrola Diablair e Tristeza. Tortura se aproxima de ambos e coloca as mãos sobre o cobertor. Chamas negras aparecem ao redor de Diablair e Tristeza. Diablair percebe que o pulso de Tristeza está ficando mais forte.]
DIABLAIR (aliviado): Está funcionando.
[A pequena Tristeza abre os olhos com dificuldade e aponta o dedo trêmulo para o topo da escada. Todos olham para o local indicado pela criança e ficam horrorizados ao se depararem com uma mulher no peitoril da escada, completamente vestida de preto e com um véu preto sobre o rosto, tendo a mostra apenas um sorriso macabro nos lábios, enquanto segura a pequena Ternura adormecida nos braços.]
BLAKE (com agressividade): Quem é você?
[A tenebrosa mulher responde em uma linguagem demoníaca que ninguém entende, mas todos ficam paralisados de medo pelo nível de violência no tom da mulher.]
IMPERATRIZ (irritada): SOLTE A CRIANÇA!
[Com um desprezo cruel, a mulher simplesmente solta o corpo de Ternura, que começa a despencar pelo alto mezanino do hall de entrada. Damon, que está voltando a enxergar, usa sua velocidade vampírica para segurar Ternura, impedindo a queda da menina.]
PABLO: AGORA, FUBUKI!
[Atrás da assombrosa mulher, uma outra mulher apareceu. Com uma força absurda, ela desfere um soco no peito da assombração, atravessando-o. Sangue negro se espalha para todos os lados e o corpo da mulher começa a despencar pelo mezanino. Damon se encolhe perto da parede com Ternura nos braços para que o corpo não os atinja. Quando o corpo da mulher atinge o chão, Tortura corre para onde Ternura e Damon estão.]
TORTURA (horrorizada ao ver uma faca atravessada na pequena mão de Ternura): PELA DEUSA, ELA FERIU A TERNURA!
[Diablair entrega Tristeza para Sarah e corre para ver como Ternura está. A criança está com os olhos arregalados e completamente paralisada. Pablo e Blake aproximam-se do cadáver e, ao levantarem o véu que cobria o rosto, ficam horrorizados ao descobrir que se tratava de um homem que, em seu pescoço, possuía um colar de miçangas com o nome Sebastian escrito com a letra de Ternura.]
BLAKE (com as mãos na boca): Pela Deusa, é um dos criados!
[Antes que qualquer um pudesse dizer algo sobre, a Imperatriz arrancou da parede a faca que outrora havia arremessado e se aproximou do cadáver. Com uma crueldade devastadora, a jovem de cabelos verdes começa a esfaquear o corpo do criado já morto. Fubuki desce as escadas e vai até Ternura. Para o horror da mulher, ela descobre que a criança está morta.]
FUBUKI (com pesar): Diab, eu sinto muito, mas ela…
[Damon tira a faca da pequena mão de Ternura e joga o objeto longe. Em seguida, o vampiro entrega delicadamente a menina para Diablair.]
DAMON (com as mãos trêmulas): Ela morreu... por ter sentido muito medo durante a queda. Sei disso, porque no momento em que ela foi jogada, consegui ouvir o coração dela batendo descontroladamente... até que ele parou...
[Tortura coloca o rosto no chão e começa a chorar compulsivamente, enquanto Blake se aproxima de sua amada e a abraça. Sarah chora com Tristeza desacordada em seus braços. A Imperatriz para de esfaquear o cadáver, agora irreconhecível, enquanto um olhar sombrio paira sobre seu rosto.]
DIABLAIR (levantando-se com Ternura nos braços, inconsolável): ELA NÃO MORREU! ELA NÃO PODE MORRER!
[O líder Infernal começa a correr na direção da porta de entrada, mas é impedido por Pablo, que o segura pelo ombro. Ao sentir que está sendo impedido, Diablair simplesmente desaba com a criança nos braços e começa a gritar. Pablo, com um enorme pesar pairando em seu rosto, delicadamente fecha os olhos arregalados de medo de Ternura e segura a pequena mão ferida da menina.]
PABLO (sussurrando para Diablair): Eu… sinto muito.
[Tudo o que Diablair deu em resposta, foi um grito desesperado, enquanto lágrimas caem compulsivamente de seus olhos sobre a face sem vida da pequena criança. Entretanto, Diablair é surpreendido quando a outra mão de Ternura toca seu rosto.]
TERNURA (sussurrando e forçando um sorriso): Não precisa chorar, tio… Eu estou aqui.
VOZ DE FUNDO: A morte de Ternura durou somente alguns segundos antes que ela revivesse, mas, ainda assim, feriu profundamente a todos no recinto, principalmente por ela ter sido causada por alguém que a pequena criança havia direcionado boas intenções. Com essa cruel ocasião, a menina de três anos aprendeu que nem sempre nossos atos de ternura são bem recebidos. Ninguém conseguiu explicar o que motivou Sebastian a cometer tais atos bárbaros, nem mesmo os criados da Mansão Infernal que eram mais próximos dele. Mais tarde naquele dia, Fubuki, Pablo e Diablair estavam conversando no escritório do líder infernal e a senhora Calígula confessou que, no momento em que seu punho atravessou o corpo do criado, ele havia dito uma coisa.
FUBUKI (apreensiva, entrelaçando os dedos): Ele continuou vivo mesmo depois que eu o acertei. A queda deve tê-lo matado.
PABLO (com desprezo): Uma guilhotina devia tê-lo matado… Umas cem vezes, só pra variar.
DIABLAIR (observando da janela Ternura brincando na neve com Blake e Tortura): O que ele disse?
FUBUKI: Ele disse: “Está feito, Rumpelstiltskin”.
DIABLAIR (dando os ombros com indiferença): Não consigo ver significado nenhum nessa frase.
PABLO (encarando o fogo da lareira com atenção): Mas seria bom você não esquecê-la, meu amigo.
FUBUKI (para Diablair): Você gostaria que eu investigasse acerca dessa pessoa citada por Sebastian?
DIABLAIR: Não será preciso. Eu sei de quem se trata, mas não faço ideia de onde ele está.
[Diablair ainda está observando Ternura brincando na neve. A menina percebe que o tio está olhando em sua direção e começa a acenar freneticamente para ele. Diablair acena de volta. Pablo aparece atrás de Diablair e começa a fazer caretas para Ternura, que começa a rir. Blake aparece atrás de Ternura e joga a menina para o alto.]
DIABLAIR (com um olhar sombrio): Você apagou a memória dela, Pablo?
PABLO: Sim. Posso garantir que nem ela e nem os demais, se lembram do que aconteceu ontem.
[A porta do escritório se abre. Os três adultos se viram para ver de quem se trata.]
DIABLAIR (confuso): Tristeza? O que está fazendo aqui? Você está com um resfriado terrível e...
TRISTEZA (interrompendo Diablair, séria): Não precisa mentir para mim. Eu sei o que aconteceu ontem.
PABLO (incrédulo): Como diabos isso é possível?
[Tristeza fecha a porta do escritório e se senta perto da lareira, enrolada em seu cobertor.]
TRISTEZA (para Pablo): Para o desprazer de vocês, é impossível que eu esqueça qualquer coisa. Afinal, sou a face profética da Deusa.
DIABLAIR (suspirando e se sentando em sua poltrona): Você consegue compreender que se eles ficarem cientes do que houve, pode haver diversos conflitos? Sem falar nos traumas que a Ternura vai ter.
TRISTEZA (encarando Diablair com severidade): A minha irmã é uma das faces da Deusa, espero que o senhor não se esqueça disso. E também espero que, a partir de agora, você não tente poupá-la de saber sobre certas coisas. Ela merece saber, mas, não se preocupe, não comentarei nada disso com ela e nem com os demais.
[Diablair engole seco e fica em silêncio. Tristeza se levanta e caminha em direção a porta. Quando a menina coloca a mão na maçaneta, Pablo a chama.]
PABLO (com o semblante sério): O que vocês são?
TRISTEZA (virando-se para Pablo e sorrindo): Somos os resquícios da humanidade de nossa mãe, a Deusa.
PABLO (com o semblante sério): Mesmo sendo humanas, vocês não podem morrer?
TRISTEZA: Até o dia que a Deusa nos chamar de volta, é impossível nos matar.
[Pablo se aproxima de Tristeza e se abaixa para ficar na mesma altura da menina. O homem começa a olhar no fundo dos olhos de Tristeza, que também o encara, como se fosse um desafio.]
PABLO (sério): Quem é Rumpelstiltskin?
[Tristeza nada responde, apenas se vira e sai do escritório. Pablo solta um suspiro após a porta se fechar.]
PABLO (encarando sua esposa, com os olhos arregalados): Pensei que ela fosse me queimar vivo.
FUBUKI (em tom de reprovação): Que diabos foi isso, querido? Peço desculpas, Diab, não sabia que ele a intimidaria dessa forma.
PABLO (olhando para Fubuki): Fiz isso, porque não era a Tristeza falando.
FUBUKI (confusa): Como assim?
[Pablo caminha até a janela e chama a esposa. Ele aponta para um chalé próximo da casa. Fubuki olha para o local e arregala os olhos ao ver Tristeza completamente enrolada e sentada diante de uma das janelas da pequena cabana de madeira.]
PABLO (apontando para Tristeza): Como ela está lá, se estava há alguns segundos aqui?
FUBUKI (olhando para Diablair): Que diabos foi isso?
DIABLAIR (sentado em sua poltrona, com os dedos entrelaçados na frente do rosto): Era a Deusa disfarçada de Tristeza vindo nos dar um recado.
FIM.