— Não precisa gritar. Fica quietinha, tá bom? — Disse meigamente a garotinha de vestido rosa.
A vítima, que tinha um saco na cabeça, se contorcia furiosamente enquanto era arrastada por pequenos braços. Ela não sabia o motivo pelo qual estava naquela situação, só se lembrava que estava sonhando enquanto caía e última coisa que viu antes de tudo ficar escuro, foi o rosto da garotinha que a arrastava como se fosse um homem adulto musculoso.
A menina cantarolava baixinho uma terna canção e parou de arrastar a vítima, colocando-a sentada em uma cadeira, na qual foi amarrada. Quando o capuz da jovem foi retirado, seus olhos automaticamente se fecharam de dor por causa da luminosidade absurda do local. Quando pensou em gritar por ajuda, uma mordaça rosa foi colocada em sua boca.
— Eu não gosto de barulho, então vou colocar isso em você. Nada fofo. — Falou a menina, que agora era vista com mais clareza pela vítima.
Tratava-se de uma criança. Ela não tinha nem 1,55m de altura. Seus cabelos eram castanhos e possuíam vários acessórios cor de rosa, assim como seu vestido cheio de babados e laços. Suas bochechas e olhos eram grandes e passavam um aspecto de doçura. Ela parecia uma boneca indefesa.
Com os olhos acostumados a luz, a jovem passou a observar o local que cheirava a canela e açúcar. Parecia uma casinha de bonecas e ela estava sentada à mesa com a dona da casa. Tudo era pequeno, delicado e rosa. Havia amontoados de ursos por todos os lados e todos eles usavam laços. O chão parecia ser feito de flores e o teto de sorvete de morango. O estômago da Moça se revirou. Se a mordaça não fosse retirada, ela acabaria engolindo o próprio vômito, pois tudo era carinhosamente fofo demais para que seu espírito de massacre pudesse engolir.
— Sabe — Começou a dizer gentilmente a menina, que servia chá para as duas. — Você irritou muito as minhas irmãs, a Tortura e a Tristeza, mas como foi algo diretamente comigo, elas me deixaram resolver. Fiquei feliz, eu queria mais uma boneca para a minha coleção.
A garotinha riu e colocou a mão na boca para abafar a risada. A jovem arregalou os olhos. Não pode ser, ela pensou, aquela era… era…
— Por falar nisso — Falou a garotinha, interrompendo os pensamentos da Moça. — Meu nome é Ternura. Espero que possamos ser boas amigas.
A vítima começou a se contorcer inutilmente na cadeira. Enquanto Ternura se levantava para retirar algo do forno, a Moça começava a calcular uma rota de fuga. Assustada, ela percebeu que não havia portas e nem janelas no local. A casa era uma caixa, na qual tudo o que ela despreza se encontrava dentro.
— Eu fiz esses biscoitos. Gosto de comê-los antes de começar a brincar.
A menininha pegou um deles e, naquele instante, a Moça percebeu que se tratavam de olhos… olhos humanos assados. Ela passou a balançar compulsivamente a cabeça, pois tamanho era o seu horror, e Ternura, percebendo a perturbação da vítima, se levantou e disse:
— Que falta de educação a minha! Vou tirar a sua mordaça feia para você comer, afinal são olhos de pessoas muito especiais… para você.
Quando o pano foi retirado, a primeira coisa que ela fez foi vomitar. Depois, ela deu um grito choroso ao ver que aqueles olhos pertenciam a pessoas que ela conhecia bem. Sem pensar, a vítima sussurrou:
— Por que? Por que?
Ternura colocou a cabeça para o lado, procurando em sua mente a resposta. De repente, uma risada cruel escapou de seus lábios, assustando a Moça chorosa que estava sentada.
— Porque eu carinhosamente quero.
Tudo se encaixou na mente da vítima, quando aquelas palavras foram ditas. Tratava-se de vingança, afinal ela havia tentado matar Ternura em outra ocasião, mas não o fizera bem. Das trigêmeas, a menininha parecia ser a mais indefesa, então a Moça achou plausível começar por ela. O que ela não sabia é que não se pode matar o que está morto. Após respirar fundo, a jovem disse rispidamente:
— Pode me matar, mas é bom que o faça direito.
— Quem falou em matar? — Indagou Ternura docemente, mas arremessando para longe com muito ódio a mesa de chá.— Eu vou fazer pior e te manter viva... carinhosamente.
(ᵔᴥᵔ)
Após um tempo sentindo dor, a Moça não achou que seria possível que ficasse pior. Elas continuavam na caixa rosa que, agora, havia se transformado em uma bizarra sala de tortura. Seus braços e pernas haviam sido cortados lentamente. Suas costas estavam mortalmente abertas, como se a menininha estivesse fazendo uma brutal Águia de Sangue incompleta. A pele das costas encontrava-se pendurada e presa por pregadores com formato de nuvem. Ternura conversava com os ursos ao redor para tentar escolher o vestido que ela colocaria em sua nova boneca, a qual já estava devidamente maquiada e com os cabelos enfeitados com os mais variados elementos de fofura.
A menina, que enganara a todos com sorrisos e doces, mostrou-se ser a mais diabólica alma. Ela colecionava bonecas vivas em sua casinha florida, mas, segundo a criadora, ela só fazia isso com os especiais. A Moça, embargada pelas dores no que restava de seu corpo, pensava que morrer seria muito melhor do que ser massacrada aos poucos de forma carinhosa.
— Esse será seu vestido! Eu não tenho nada preto aqui, tudo bem? — Ternura perguntou, encarando a Moça e logo se corrigiu: — Ah, é! Você não pode falar com a boca costurada. Mas não se preocupe, vai parar de doer. Seu enchimento está pronto.
A garotinha se dirigiu a uma enorme máquina de algodão doce e passou a inserir o elemento dentro do corpo da jovem, pela abertura das costas. Lágrimas caíam dos olhos da Moça. A dor era intensa demais e seus olhos começavam a falhar.
Tudo ficou escuro e ela sentiu a paz de poder morrer.
(ᵔᴥᵔ)
A cabeça da Moça latejava e, quando encontrou forças para abrir os olhos, viu seu maior pesadelo tomando chá na sua frente e trajando outro vestido rosa.
— Você acordou! — Exclamou alegremente a menininha, batendo palmas.
A vítima, chocada pelo fato de não ter morrido, tentou inutilmente se debater, mas seu corpo estava frágil demais. Como o de uma boneca, lamentou ela em pensamento. Ternura, para o seu espanto, aproximou-se e, após depositar um beijo em cada uma de suas bochechas cheias de enchimento de algodão doce, disse:
— Não se preocupe. Não vou matar você. Seremos amigas, e(terna)mente.