Casa de Boneca
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 16/08/20 18:09
Editado: 15/01/21 13:05
Avaliação: 9.93
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 8
Comentários: 8
Total de Visualizações: 1048
Usuários que Visualizaram: 14
Palavras: 1069
Não recomendado para menores de dezoito anos

Esta obra participou do Evento Academia de Ouro 2020, ganhando na categoria Terror ou Horror.
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Notas de Cabeçalho

AVISO DE GATILHO: se você fica facilmente perturbado com tortura, corra desse texto antes que se arrependa. Continue lendo e coloque sua conta (e mente) em risco. Me pergunto quando vou poder colocar a faixa etária de +60 anos nos meus textos bizarros... Só mais uma coisinha: recomendo que ouçam a música que encontra-se aqui em baixo enquanto lêem.

Dedicatória: não é preciso nomes. Você vai saber que é para você quando ler, pois foi carinhosamente escrito para você ♥

“I have a killer in me to give me purpose

[...]

Is this what you wanted?

(The In-Between - In This Moment)

Capítulo Único Casa de Boneca

— Não precisa gritar. Fica quietinha, tá bom? — Disse meigamente a garotinha de vestido rosa.

A vítima, que tinha um saco na cabeça, se contorcia furiosamente enquanto era arrastada por pequenos braços. Ela não sabia o motivo pelo qual estava naquela situação, só se lembrava que estava sonhando enquanto caía e última coisa que viu antes de tudo ficar escuro, foi o rosto da garotinha que a arrastava como se fosse um homem adulto musculoso.

A menina cantarolava baixinho uma terna canção e parou de arrastar a vítima, colocando-a sentada em uma cadeira, na qual foi amarrada. Quando o capuz da jovem foi retirado, seus olhos automaticamente se fecharam de dor por causa da luminosidade absurda do local. Quando pensou em gritar por ajuda, uma mordaça rosa foi colocada em sua boca.

— Eu não gosto de barulho, então vou colocar isso em você. Nada fofo. — Falou a menina, que agora era vista com mais clareza pela vítima.

Tratava-se de uma criança. Ela não tinha nem 1,55m de altura. Seus cabelos eram castanhos e possuíam vários acessórios cor de rosa, assim como seu vestido cheio de babados e laços. Suas bochechas e olhos eram grandes e passavam um aspecto de doçura. Ela parecia uma boneca indefesa.

Com os olhos acostumados a luz, a jovem passou a observar o local que cheirava a canela e açúcar. Parecia uma casinha de bonecas e ela estava sentada à mesa com a dona da casa. Tudo era pequeno, delicado e rosa. Havia amontoados de ursos por todos os lados e todos eles usavam laços. O chão parecia ser feito de flores e o teto de sorvete de morango. O estômago da Moça se revirou. Se a mordaça não fosse retirada, ela acabaria engolindo o próprio vômito, pois tudo era carinhosamente fofo demais para que seu espírito de massacre pudesse engolir.

— Sabe — Começou a dizer gentilmente a menina, que servia chá para as duas. — Você irritou muito as minhas irmãs, a Tortura e a Tristeza, mas como foi algo diretamente comigo, elas me deixaram resolver. Fiquei feliz, eu queria mais uma boneca para a minha coleção.

A garotinha riu e colocou a mão na boca para abafar a risada. A jovem arregalou os olhos. Não pode ser, ela pensou, aquela era… era…

— Por falar nisso — Falou a garotinha, interrompendo os pensamentos da Moça. — Meu nome é Ternura. Espero que possamos ser boas amigas.

A vítima começou a se contorcer inutilmente na cadeira. Enquanto Ternura se levantava para retirar algo do forno, a Moça começava a calcular uma rota de fuga. Assustada, ela percebeu que não havia portas e nem janelas no local. A casa era uma caixa, na qual tudo o que ela despreza se encontrava dentro.

— Eu fiz esses biscoitos. Gosto de comê-los antes de começar a brincar.

A menininha pegou um deles e, naquele instante, a Moça percebeu que se tratavam de olhos… olhos humanos assados. Ela passou a balançar compulsivamente a cabeça, pois tamanho era o seu horror, e Ternura, percebendo a perturbação da vítima, se levantou e disse:

— Que falta de educação a minha! Vou tirar a sua mordaça feia para você comer, afinal são olhos de pessoas muito especiais… para você.

Quando o pano foi retirado, a primeira coisa que ela fez foi vomitar. Depois, ela deu um grito choroso ao ver que aqueles olhos pertenciam a pessoas que ela conhecia bem. Sem pensar, a vítima sussurrou:

— Por que? Por que?

Ternura colocou a cabeça para o lado, procurando em sua mente a resposta. De repente, uma risada cruel escapou de seus lábios, assustando a Moça chorosa que estava sentada.

— Porque eu carinhosamente quero.

Tudo se encaixou na mente da vítima, quando aquelas palavras foram ditas. Tratava-se de vingança, afinal ela havia tentado matar Ternura em outra ocasião, mas não o fizera bem. Das trigêmeas, a menininha parecia ser a mais indefesa, então a Moça achou plausível começar por ela. O que ela não sabia é que não se pode matar o que está morto. Após respirar fundo, a jovem disse rispidamente:

— Pode me matar, mas é bom que o faça direito.

— Quem falou em matar? — Indagou Ternura docemente, mas arremessando para longe com muito ódio a mesa de chá.— Eu vou fazer pior e te manter viva... carinhosamente.

(ᵔᴥᵔ)

Após um tempo sentindo dor, a Moça não achou que seria possível que ficasse pior. Elas continuavam na caixa rosa que, agora, havia se transformado em uma bizarra sala de tortura. Seus braços e pernas haviam sido cortados lentamente. Suas costas estavam mortalmente abertas, como se a menininha estivesse fazendo uma brutal Águia de Sangue incompleta. A pele das costas encontrava-se pendurada e presa por pregadores com formato de nuvem. Ternura conversava com os ursos ao redor para tentar escolher o vestido que ela colocaria em sua nova boneca, a qual já estava devidamente maquiada e com os cabelos enfeitados com os mais variados elementos de fofura.

A menina, que enganara a todos com sorrisos e doces, mostrou-se ser a mais diabólica alma. Ela colecionava bonecas vivas em sua casinha florida, mas, segundo a criadora, ela só fazia isso com os especiais. A Moça, embargada pelas dores no que restava de seu corpo, pensava que morrer seria muito melhor do que ser massacrada aos poucos de forma carinhosa.

— Esse será seu vestido! Eu não tenho nada preto aqui, tudo bem? — Ternura perguntou, encarando a Moça e logo se corrigiu: — Ah, é! Você não pode falar com a boca costurada. Mas não se preocupe, vai parar de doer. Seu enchimento está pronto.

A garotinha se dirigiu a uma enorme máquina de algodão doce e passou a inserir o elemento dentro do corpo da jovem, pela abertura das costas. Lágrimas caíam dos olhos da Moça. A dor era intensa demais e seus olhos começavam a falhar.

Tudo ficou escuro e ela sentiu a paz de poder morrer.

(ᵔᴥᵔ)

A cabeça da Moça latejava e, quando encontrou forças para abrir os olhos, viu seu maior pesadelo tomando chá na sua frente e trajando outro vestido rosa.

— Você acordou! — Exclamou alegremente a menininha, batendo palmas.

A vítima, chocada pelo fato de não ter morrido, tentou inutilmente se debater, mas seu corpo estava frágil demais. Como o de uma boneca, lamentou ela em pensamento. Ternura, para o seu espanto, aproximou-se e, após depositar um beijo em cada uma de suas bochechas cheias de enchimento de algodão doce, disse:

— Não se preocupe. Não vou matar você. Seremos amigas, e(terna)mente.

❖❖❖
Notas de Rodapé

A vingança é um algodão doce que a Ternura gosta de comer... às vezes.

Obrigada a quem leu até aqui ♥

Apreciadores (8)
Comentários (8)
Comentário Favorito
Postado 16/08/20 21:28 Editado 17/08/20 20:24

Tá, eu burlei várias notificações para chegar aqui e me deparar com... Isso!

Estou respirando carinhosamente aqui, para poder ver se consigo formular um comentário apropriado e digno de todo sentimento que corre em minhas veias. Paciência, toma teu chá aí e fica suave.

Até a parte da mordaça eu estava achando uma maravilha, mas aí você fez o ser humano chorar por causa dos olhos.... Impossível. Imperdoável! Ou não. Comecei a pensar aqui. Faz sentido. Se eram pessoas amadas, é realmente uma afronta que a Ternura fique com eles. Deveriam ser meus, digo, da vítima. Mané chorar por eles estarem mortos ou coisa do tipo! Tem isso por aqui não, viu?!

Depois disso aí eu até parei de prestar atenção na música. Vou te contar: Eu sempre soube que a Ternura era a pior dos T's. Ela nunca me enganou. Sempre soube que, escondida na casca de boneca, havia um ser digno da Carnificina.

Foi realmente a pior tortura que eu já vi em toda a minha vida, não posso negar. Sabe o que foi pior? Quer mesmo saber? Beleza, vou mandar a real. Duas coisas, na verdade.

1 - O rosa. A tortura em si foi o rosa. O resto foi tranquilo além da conta. Dava até para contar como história de dormir infantil, se não fosse por esse maldito e repugnante rosa. MORTE AO ROSA. Amém!!!

2 - Eu tinha te falado que o carinho era só uma coisa suave, né? Eu tinha desistido de continuar. Aquilo era a introdução e eu havia desistido do prato principal por causa do Sfida... Eu tinha. Me aguarde, pois dessa vez vai ter até sobremesa! Mas tudo será feito carinhosamente, é claro.

Ah, eu voltei para ouvir a música depois e ela combina perfeitamente. Foi interessante. Me deu várias ideias até.

Vida longa à Sabrina T.... Que seja eterna e carinhosa enquanto dure.... Amém!

Enfim, deixando as brincadeiras de lado, eu amei muito o que você fez aqui, Brina!! Fiquei feliz além da conta! Muito obrigada.

P.S.: Ainda vamos continuar com isso! u_u

Postado 18/08/20 18:46

Juro, a Ternura é doida, mas faz com amor. Perdoa a loucura e não desiste.

Estou no aguardo da vingança! u.u

Obrigada, Flavinha ♥♥♥♥♥♥

Postado 16/08/20 18:29

EU SÓ QUERIA DIZER QUE PEGUEI TODA A REFERÊNCIA DO TEXTO #BrinaAfrontosa.

Tive que reler o seu texto umas quinhentas vezes para tentar escrever um comentário decente (não vou conseguir, mas tudo bem). Que texto f*da foi esse? É inacreditável o quanto você realmente consegue dar vida às suas personalidades (Pessoa, é você reencarnado?), as obras tornam-se tão diferentes ao mesmo tempo que tão únicas! É realmente satisfatório acompanhar cada texto seu, principalmente fazer parte da sua jornada literária.

Agora, sobre o texto, quem diria que veríamos a face da Ternura dessa maneira; tô chocada e fascinada. Seria a convivência com a Tortura? Ou os resquícios da Tristeza? Ou apenas a transformação que a dor e a sede de vingança causam em uma pessoa?

Um comentário a parte, é que essa obra evidência as consequências inimagináveis que a vingança pode trazer. O modo como um acontecimento fúnebre ou tétrico influencia diretamente a mentalidade daquele que sobreviveu para contar a história. O modo como alguém, possivelmente, pode se tornar um assassino ou psicopata.

Posso usar seu texto no meu artigo de conclusão da faculdade? Hahahaha.

Mas voltando a sua obra, é como se fôssemos um telespectador oculto. A maneira como tudo foi detalhado com precisão e coesão nos deram essa sensação: de observar cada movimento - de ambos os lados -, é de causar calafrios. É absurdamente f*da.

Combina tanto com a música. E a música combina tanto com a Moça.

Você faz maravilhas literárias.

Parabéns é muito pouco Brina, sério. Você arrasa ♡

Que a Carnificina se inicie. Amém.

Postado 16/08/20 19:46

Fico muito feliz que você tenha capturado as referências, Paõzinho u.u Vamos torcer para que a Moça assim o faça.

Sempre fico sem reação com os seus comentários... eles conseguem dizer coisas sobre os meus textos que nem consigo acreditar que realmente estão ali.

Nem todas as palavras do mundo conseguiriam formular um agradecimento a altura das suas doces palavras! Muito obrigada mesmo, Pam ♥♥♥♥

Postado 16/08/20 18:30

EU SINCERAMENTE NEM SEI COMO COMENTAR À ALTURA!!!!

O tempo todo, imaginei o cenário, imaginei como isso poderia ser uma rádio-novela BOA PRA CARAMBA!!!

Você é genial, eu amei tanto esse conto, admito que eu esperava algo BEM MAIS diabólico e sangrento, mas ler isso, foi maravilhoso, me trouxe muita inspiração... Toda a construção dos cenários, dos personagens... Me senti em um vídeo-clipe da Kyary Pamyu-Pamyu.

Enfim, como sempre, você compôs uma obra de arte! Você é genial!!!

Obrigada por compartilhar conosco!

Postado 16/08/20 19:47

Eu queria ter deixado ele mais sangrento, mas a Ternura não curte muito bagunça e gritaria. Ela é mais organizada que a Tristeza e a Tortura, mas é maldosa do jeitinho dela kkkk.

Muito obrigada pelas palavras, presença e dublagem do meu texto, 6 ♥♥♥

Postado 16/08/20 18:59 Editado 16/08/20 19:01

POR TODOS OS DEMÔNIOS DO INFERNO!!!!

QUE DELEITE TEMOS AQUI!!!! ♥

Posso dizer com todas as palavras que essa leitura me deixou com água na boca!! Cada palavrinha mágica desse fofíssimo conto me deixou com vontades exorbitantes de carne humana. E uma sede indescritível, de sangue.

A senhorita é a perfeição em pessoa, essa é a única explicação possível para uma pessoa ser tão talentosa!! Essa mocinha Ternura sendo tão carinhosamente cruel é a coisinha mais fofa da face da Terra!!!

Tudo nesse conto de fadas é maravilhoso, o rosa, os frufrus, os ursinhos, tudo tão meigo, até começar a ser delicioso ao mostrar os olhos humanos! E as cenas de tortura com as costas abertas? Digno de um prêmio Nobel de tortura qualificada!!

Coitadinha da Moça, mas a doce cerejinha do bolo foi o fato de ela ter ficado viva no final, para poder sofrer ainda mais! Ah que lindo!

Obrigada por ter vindo estraçalhar minha sanidade com essa obra de arte, Brina ♥

Um enorme abraço, carinhoso, para a senhorita ♥

Postado 16/08/20 19:49

MEI, EU RI ALTO LENDO SEU COMENTÁRIO! Você sendo maléfica é muito engraçado, pois leio e imagino a sua voz doce e meiga dizendo essas coisas! KKKKKKKK

Muito, mas muito obrigada mesmo pelas palavras. Como sempre, você consegue expressar de maneira sincera todas as suas emoções lendo a obra e isso sempre me alegra demais. Amo saber suas reações!

Obrigada, mil vezes, minha querida ♥

Postado 16/08/20 19:32

SATANÁS ME ENVOLVA EM CHAMAS DE MODO QUE MINHA COMBUSTÃO SEJA ANMAIS SUTIL POSSÍVEL!

Eu não pude deixar de (sor)rir com tudo o que ocorreu e, mais impressionante, como ocorreu! Foi muito gratificante e surpreendente ver a genialidade literária da autora se manisfestar de uma forma tão intensa, devastadora e fofa!

Me senti testemunhando uma Live advinda dos mais profundos, obscuros e insanos confins da Deep Web, como se fosse o nascimento de uma lenda urbana do Inferno! O grau de detalhamento, criatividade e sadismo desta obra é tão belo quanto inspirador!

Longa vida e toda glória à Ternura! E que todos os seres malditos do Inferno glorifiquem a Srta Sabrina por ser tão FODA!

Meus mais sinceros e entusiasmados parabéns por esta obra de arte espetacular, Srta Ternura!

Atenciosamente,

Um ser nada carinhoso, Diablair.

Postado 16/08/20 19:51

Adoro como você age como se não tivesse colocado lenha na fogueira para esse texto nascer kkkkkkkk.

Fico muito feliz que essa obra tenha te agradado e surpreendido. E eu concordo com você: tudo isso aqui saiu da Deep Web, pois é bizarro.

Obrigada pela presença sempre inspiradora e pelo comentário encantador, Manu ♥

Postado 21/08/20 12:32

Oooh! Que obra!

Eu preciso concordar com a vítima todo esse rosa também daria-me enjôo e/ou queimanca no estômago (─.─||)

Cada parte da tortura e as falas da vingadora são magníficas, principalmente a "fofura" das palavras que usa para chatear a vítima, hahah! Poderia até sentir ódio por todo esse "carinhosamente" se eu não tivesse adorado!

Muito obrigado por compartilhar esse show! Sinto meu sangue ferver depois de ler sua obra, obrigado!

Assinado uma pequena vampira, <3

Postado 21/08/20 23:26

Fico feliz que tenha gostado!

Muito obrigada pela presença e comentário, Shizu ♥

Postado 02/10/20 10:29

Isso aqui foi aula de como lidar com todas as personalidades hahaha. Brina, vc é incrível, serio. Uma das melhores autoras desse site <3

Postado 02/10/20 14:08

É um elogio e tanto, principalmente por ter vindo da Fundadora!

Obrigada pelo comentário e presença, Joy ♥

Postado 26/10/21 23:31

Esse texto é lendário! Até hoje me causa arrepios, assim como uma leve satisfação. Essa, com certeza, é uma das obras mais letais e impressionantes do UP. Nem preciso dizer o quanto adorei!!!

Parabéns, meu amor :)

Postado 30/10/21 23:13

Obrigada pela presença e comentário, meu bem ♥