Natal em Família
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 08/12/17 21:27
Editado: 10/02/23 19:47
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 8min a 10min
Apreciadores: 12
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Palavras: 1314
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Reza a lenda que todas às vezes que eu escrevo um texto e o título dele tem as palavras em família, com certeza, nada de bom e muito menos um final feliz pode ser esperado.

Boa leitura.

Capítulo Único Natal em Família

A delegacia estava calma o suficiente para deixar Charlotte entediada. Assim como os demais escalados, Viola e Benedict, ela estava insatisfeita por ter que trabalhar no Natal. Ela deduziu que a tortura dos dois colegas de trabalho era muito maior que a sua, afinal, além deles amarem a data, eles tinham acabado de sair para fazer uma ronda na cidade que, literalmente, encarnava o Natal até no espírito da pessoa mais desacreditada.

A jovem fechou os olhos e conseguiu visualizar com perfeição a árvore de natal que montara com a ajuda dos filhos. Mesmo que ela tenha durado somente uma foto e alguns segundos, pois Laila, a labradora de sete meses mais infame de todos os tempos, pulou e a derrubou, valeu a pena e seria um momento que levaria para sempre. Nada no mundo era mais bonito do que ver seus filhos com toquinhas de Papai Noel e com a luz dos piscas-piscas iluminando seus sorrisos.

Os pensamentos da jovem foram cortados pelo toque repentino do telefone. Antes de chegar até a mesa, imaginou se seria uma denúncia do senhor William falando sobre um possível roubo de decoração de Natal.

— Delegacia de Canova, boa no... — Charlotte foi interrompida abruptamente pela mulher do outro lado da linha.

— CHARLOTTE, ELE ESTÁ VINDO ME MATAR. VENHA AQUI, MAS PEÇA PARA BENEDICT NÃO VIR, ELE VAI MATÁ-LO TAMBÉM.

— ANNE! - Gritou Charlotte, reconhecendo a voz da amiga. — Onde você está? Quem vai matar vocês?

— O homem com a máscara de cera... — A ligação começou a cortar. — Presépio... Igreja...

Foi a última coisa que Charlote ouviu, antes da ligação ficar muda.

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O policial Benedict fazia sua ronda às duas da manhã. Contudo, naquele dia o jovem estava visivelmente chateado. Não queria trabalhar no Natal, mas uma gripe fez com que ele tivesse que se retirar por cinco dias do trabalho e, quando retornou, era um dia antes das festividades se iniciarem.

As luzes de Natal que enfeitavam as casas e passavam por seu rosto, enquanto andava pelas pacatas ruas de Canova com sua viatura, não ajudavam a esquecer que naquele momento, sua família estaria reunida e se divertindo. Sem ele.

— Ora, Bene, não fique tão triste. — Disse Viola, sua parceira de turno. — Também estou triste por não poder passar o Natal com meus avôs, mas sinta a magia dessa data ao nosso redor.

— Eu gostaria de sentir o gosto da ceia de Natal que minha esposa preparou. — Ele respondeu rispidamente, mas prosseguiu, dizendo: — Meus tios Melquior, Baltazar e Gaspar vieram de longe para passar Natal conosco e conhecer o pequeno Jeferson.

— Os nomes de seus tios são inspirados nos Reis Magos? — Perguntou Viola.

Antes que Benedict pudesse responder que sim, o rádio tocou e Viola rapidamente o atendeu, mas nem teve tempo de responder ao chamado.

— VOCÊS DEVEM IR AGORA PARA A IGREJA DA PRAÇA CENTRAL, AQUELA QUE TEM O PRESÉPIO. — Gritou Charlotte, com barulho de uma sirene ao fundo.

— Você está na outra viatura? — Questionou Benedict, fazendo uma curva que os levaria até a rua da igreja.

— Benedict, onde Anne está? — Charlotte ignorou completamente a pergunta do colega, demonstrando a urgência da situação.

— Em casa. Mas o que isso tem a v...

— Ela ligou desesperada para a Central, dizendo que tinha alguém que iria matá-la e que você não deveria ir, porque iria morrer também. A última coisa que ela falou antes da ligação cair, foi a palavra presépio e igreja.

Benedict empalideceu e parou a viatura no meio da rua. Descendo do carro e sacando sua arma, ele começou a ir em direção a igreja.

— ESPERE, BENE! — Pediu Viola, ainda no carro. Mas ele não parecia ouvi-la. Nem se o próprio Jesus tentasse pará-lo, ele se sentiria impedido.

— Viola, você precisa ir com ele. Vou verificar a casa e irei ao encontro de vocês.

No momento em que o rádio foi desligado, Viola ouviu dois tiros serem disparados dentro da igreja. Ela correu para o local com a arma em mãos, pronta para dar cobertura ao amigo, mas quando entrou no local não havia ninguém.

Antes que pudesse pensar em algo, a mulher foi golpeada na nuca e tudo o que viu antes de seus olhos se fecharem, foi um homem tirando uma máscara de cera e revelando um rosto que ela conhecia tão bem. Era de Peter, seu noivo.

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Viola acordou atordoada e com uma terrível dor na nuca. Ao longe, ela ouvia os gritos de uma voz familiar. Então ela se lembrou do que aconteceu, mas a imagem que se projetou em seus olhos foi ainda mais devastadora do que a lembrança.

Benedict estava com suas duas mãos presas por cabos de aço e logo abaixo dele, se encontrava uma enorme caldeira que tinha um líquido quente o suficiente para que Viola sentisse o calor, mesmo estando um pouco afastada. Mais ao lado, encontrava-se uma roldana que estava ligada aos cabos que prendiam Benedict. A pessoa ao lado da alavanca que controla o movimento dos cabos era Peter.

— Você acordou, querida. — Disse Peter calmamente e a moça percebeu que estava amarrada. — Podemos começar, então.

— PETER, O QUE ESTÁ FAZENDO? EU VOU ENCHER ESSA SUA MALDITA CARA DE TIROS, SEU PORRA! — Vociferou Benedict.

— Você não vai fazer isso, Bene. — Respondeu Peter, girando rapidamente a alavanca e fazendo o corpo do colega de Viola cair na caldeira fumegante. Ele esperou um momento e então começou a girar a alavanca, fazendo o corpo de Benedict, agora coberto de cera e sem vida, aparecer novamente. E com uma tranquilidade aterrorizante, Peter completou sua frase anterior, dizendo: — Pois os mortos não falam.

— O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO, PETER? — Gritou Viola desesperada, tentando soltar as mãos que estavam amarradas.

— Estou transformando a família de Benedict em um presépio de tamanho real. — Ele respondeu calmamente e começou a se aproximar de sua noiva. — Sua esposa Anne, que realizou a proeza de ligar para vocês, será Maria. Benedict será José e seus tios serão os Três Magos. O padre Nelson e o pastor Luís irão ser os Pastores. E, é claro, o filhinho de Benedict — Peter apontou para uma criança cheia de cera que estava no chão — Será o menino Jesus.

— VOCÊ É LOUCO! POR QUE ESTÁ FAZENDO ISSO? — A jovem percebeu, após ele se agachar ao seu lado, que Peter estava vestindo uma roupa de Papai Noel.

— Porque eles foram malcriados durante todo o ano e como punição vão colaborar com a decoração natalina da igreja, representando um momento importante para a data. É um bom modo de pagar pelas travessuras, não é? — Ele tocou com delicadeza o rosto de sua noiva e, sorrindo, disse: — Agora, vou usar seu sangue para terminar a decoração.

Com um movimento rápido, ele sacou uma arma e deu um tiro no rosto de Viola, antes dela ter a oportunidade de gritar.

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Uma hora mais tarde, após Charlotte ter atravessado a cidade para ir até a casa da família de Benedict e não encontrar nada, ela foi até a igreja para encontrar os colegas de trabalho. Porém, quando chegou não encontrou ninguém, então se dirigiu até o presépio que ficava do outro lado da igreja.

Ao chegar no local, havia algo de diferente. As peças em tamanho real, haviam sido substituídas por montes de cera, mas com formatos de corpos. Tinha muito sangue espalhado pelo local e, entrando dentro da decoração, no lugar que deveria estar o menino Jesus, havia um amontoado de cera menor que tinha um bilhete apoiado sobre a barriga. Charlotte pegou o pedaço de papel e leu:

A família de Benedict, vulgo os amontoados de cera que são os personagens do presépio;

A policial Viola, que colaborou com seu próprio sangue para completar essa decoração

E Peter, o enforcado,

Deseja a todos um Feliz Natal.

Charlotte deixou um grito de horror escapar dos lábios e, ao mover os olhos para a árvore mais próxima, ela viu um homem enforcado vestido de Papai Noel.

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Postado 09/12/17 21:41

Shahahahahahahahahahahahahahahahahahahahaha! Satanás me me recubra com cera e enxofre! Isso foi bizarro e insano até mesmo para mim! Esse Peter e seu Relato mereciam *demais* figurar no Diário dos Insanos! O protagonista de lá iria ter um orgasmo se obtivesse esse bilhere de despedida/esclarecimento!

Brutalidade, loucura, sadismo, perversão do significado da data e do local, carnificina generalizada: que mix deleitável e inspirador! Li o que eu precisava para entrar de corpo e alma neste Desafio agora! Gratíssimo, Srta Tortura! E meus parabéns, especialmente pela parte do menino Jesus! Shahahhhahahahahahahhaahahahahha! Oh, Satan! Eu ri alto demais com o nível de Doença que a senhorita demonstrou aqui! Shahahahahahahahahhahahah!

Atenciosamente,

Um ser que sentiu uma vontade infernal de visitar uma certa igreja no Natal, Diablair.

Postado 10/12/17 14:49

O Peter aqui pode ser o mesmo de Culto em Família. Agora que lembrei que os dois são doidos e tem o mesmo nome. Mas nenhuma semelhança é mera coincidência.

Foi por isso que eu perguntei esses dias se a Doença era contgiosa. Não tem como eu escrever uma coisa deste tipo sem imaginar que tenho algum tipo de tendência psicopata.

Fico feliz que a obra tenha te inspirado, meu amigo! Obrigada, obrigada!

Postado 09/12/17 15:53

Ora, um belo conto este... Levemente divertido, com um pouquinho de suspense... Lembrou os antigos filmes de Sessão da Tarde...

Anyway, bem escrito e bem direcionado dentro do contexto inicial até o desfecho, não tão clichê quanto esperava. Parabéns!

Postado 10/12/17 14:43

Eu soltei uma risada quando li sobre os antigos filmes da Sessão da Tarde. Automaticamente me veio A Lagoa Azul na cabeça.

Fico feliz que a obra tenha te surpreendido. Obrigada!

Postado 22/12/17 09:38

Olá.

Como é bom ler um texto bem escrito. Bah, uma narrativa bem construída e uma estruturação leve permitem que o leitor viaje pela a história e saboreie o enredo de forma plena. Felizmente, esse texto possui essas características e pude visualizar todas as cenas com precisão em minha mente.

Portanto, eu pude desfrutar desse enredo macabro e sombrio. Eu não deveria, mas me pergunto o porquê de Peter ter sido tão louco? Caramba, presépio com corpos humanos?! O que ele tem na cabeça? O que o motivou tal loucura? Sei lá. Tenho medo de saber (não me responde! Não me responde! Hehehe).

Para finalizar, alerto que sobrevivi a esse ato cruel, duro, macabro, que os personagens foram submetidos (e olha que eles eram policiais). Isso me alegra, pois certamente li algo que muito me agradou.

Parabéns pela obra. Obrigado por compartilhá-la!

Postado 23/12/17 01:08

Que bom que gostou. Muito obrigada!

Postado 25/12/17 22:47

Eu ainda não acredito que essa mesma menina escreve poema fofinho de amor de ônibus >.>

Não é possível, tem outra pessoa usando essa conta! >.>

Enfim, vc é incrível menina! Que criatividade diabólica! Manda mais que tá pouco! <3

Postado 28/12/17 20:39

É real oficial quando dizem que eu tenho três pessoas dentro de mim, Queen Joy.

Obrigada, flor. Sempre bom ver tu por aqui ❤

Postado 09/01/18 20:58

Cadê a minha Brina amorzinha e sensual? Meu senhor, não consigo me cansar em te elogiar nas suas obras. Moça, você consegue dominar tão bem a escrita que qualquer gênero que você se aventura se torna uma obra única e intensa. Se não são nos poemas que espalham o amor e a esperança, são nos textos que despertam a sensualidade ou o medo. Em todo caso, resume-se em apenas uma palavra: intensidade.

Quando li a primeira vez, fiquei com uma pulga atrás da orelha em querer saber o motivo do Peter ter feito o que fez. Loucura? Tédio? Diversão? Ou simplesmente ele nunca fez um presépio e resolveu fazê-lo com as próprias mãos, e levou o terno "realismo" muito a sério?

É uma dúvida que vai ficar no ar por muito tempo.

A única certeza que temos é que uma certa policial nunca mais verá o natal como antes... De fato, uma obra muito criativa e bem escrita. Meus parabéns!

Postado 10/01/18 14:59

Peter fez isso por pura loucura. Na cabeça dele, como citado na obra, a família deveria colaborar com a decoração justamente porque não se comportaram bem durante o ano. Na cabeça de um louco, a loucura não precisa ser justificada, rs.

Agradeço pelos elogios. Grata, grata ❤

Postado 16/01/18 11:14

A Brina Ternura até pode ser boa, mas ninguém supera a Brina Tortura!! Que Academia do Carinho que nada! O lance aqui é Academia Carnificina, meus amores. U__U

Brina, meu amor, que texto maravilhoso foi esse? Olha essa riqueza. Eu não me canso de ler. É algo tão mágico e encantador. Acho que meus olhos estão até brilhando de tanta felicidade.

Eu acho que Peter não era louco. Acho que ele só conseguiu elevar a Doença dele para um nível acima de qualquer outra coisa. (Daí alguém aparece e diz que é a mesma coisa... Ok). Foi uma ideia genial a dele. Presépio humano. Ninguém pensaria em algo tão grandioso assim e o dele ficou um presépio ainda mais interessante que os habituais. Magnífico.

Parabéns Brina dos T’s. Espero que o seu lado Tortura apareça muito mais vezes nesse site dominado pela Ternura. *3*

Postado 16/01/18 18:21

Que bom que gostou! Obrigada!

Postado 18/03/18 23:04

Um maravilhoso conto de terror, Sabrina Tortura!

ITS AWAKEN AGAIN.

Conto maravilhosamente escrito, mana, parabéns <3

Postado 28/05/18 16:12

Obrigada, mana maravilha <3

Postado 21/03/18 14:46

É tão bom quando encontramos um texto bem escrito e bem narrado, permite que mergulhemos na história por completo e façamos parte dela

Obrigada por essa obra prima

Postado 28/05/18 16:12

Obrigada <3

Postado 11/10/18 12:31

CARALH****

O QUE É ISTO?

AONDE EU ESTOU?

É O QUE QUE TÁ ACONTECENDO???

Eu tô pasma, eu tô confusa e tô apaixonada por esse FUCKING CONTO, de onde tu tira essas ideias? Melhor nem perguntar...

Só sei que estou sem palavras... Fico inventando teorias para tentar descobrir o que levou o doido a fazer isso...

Enfim... Como sempre, impactando e surpreendendo a todos em suas obras hein? PARABÉNS CACETADA

Postado 05/12/18 09:33

Meu deus. Caramba. Excelente texto, bem descrito e muito criativo, prendendo a atenção do leitor

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