Palavras e suas capacidades de distorção do espaço-tempo em nosso âmago. Transparecem tamanha importância, porém nutrem sentimentos temporários de pouca eficácia e alto teor de destruição. Seria o ser humano, uma falha sentimental corrompendo o sistema das emoções? Seríamos produtos rotulados por defeitos?
A peculiar falta de sensibilidade é o estereótipo dos frios. A grosseria são as vestes de um mau humorado. A arrogância é um privilégio dos que possuem amor próprio em demasia. A tristeza é a preguiça do incapaz. A falta de atenção é o escudo do ser maduro e moldado pelas machadadas da vida. A incredulidade é a religião daqueles que não acreditam mais que sentimentos bons podem salvá-los. Nossa lacônica visão só nos permite ver aquilo que convém. O idealismo egoísta enraizado, exclui os que não favorecem nossas concepções de primoroso ser humano.
Até quando os defeitos serão as vestimentas de nossas almas? Não deveríamos vislumbrar a capacidade de alguém amar e odiar?
Palavras aniquiladoras tornaram-se a definição de nossa essência. Nem o sábio imaginaria que simples conjuntos de letras seriam o ponto final para tantas vidas. O pré-julgamento é um cordão umbilical que, quando não é arrancado, pode morrer e apodrecer conosco até o fim dos tempos. Nos auto denominamos deuses de um mundo que não nos pertence: o campo emocional do próximo. Invadimos e destruímos sem restrições, pois o que não nos fere, fortalece nosso ego.
O que nos difere dos ladrões e assassinos? Roubar a esperança de alguém como se não significasse nada e matar com palavras, não deveria ser um crime hediondo?
Derramamos um balde de defeitos em recepientes que transbordam qualidades, porque não é suportável enxergar alguém que pode nos superar. É difícil para nossa alma egocêntrica ser deixada em segundo plano. Nos tornamos aquilo que desprezamos: um bando de hipócritas distribuindo definições como uma puta dando sua alma numa esquina qualquer.
Contudo, sou apenas um ser com o coração quebrado, pois as mesmas palavras que servem-me de enfeite nos poemas, são também as que me destroem todos os dias, um pouco mais.