A já não mais tão bela Joice ainda estava sob o efeito da aberrante execução de Daniel quando o homicida de preto (que rapidamente havia trocado de blusa e luva por conta de toda a sujeira marrom e vermelha que imundara as peças anteriores) saiu das sombras com algo em mãos: era uma diminuta banana de dinamite que foi prontamente enfiada no ânus dilacerado do cadáver e teve o anormalmente longo pavio aceso. O sequestrador se refugiou nas trevas em um salto pouco antes da explosão que despedaçou o paulista em um centena de pedaços sanguinolentos que respingaram e grudaram em boa parte do piso, no teto e até na própria Joice, que continuara muda, estarrecida e presa na poltrona.
Ela só emitiu algum som novamente quando a cabeça do defunto foi brutalmente chutada sabe-se lá de que Inferno com a força e precisão de Satã em seu peitoral, comprimindo seus seios dolorosamente antes de quicar em seu colo e rolar feito um brinquedo abandonado meio metro à frente. A expressão de dor e terror do rapaz ainda podia ser notada na face que parecia encarar a carioca tossindo e xingando logo ali.
Quando Joice conseguiu, a duras penas, recobrar-se do ataque, ela viu que o seu algoz gargalhava. Ou parecia fazer aquilo, pois não houve som algum: o corpo dele estava um tanto envergado para trás, uma mão sobre a máscara, outra sobre a barriga; ele tremia como se estivesse tendo uma crise de risos... Mas, sem nenhum barulho. E mesmo assim, era como se a cativa sentisse as risadas insanas e malevolentes no mais profundo de sua alma.
Os calafrios que a acometeram logo em seguida foram indescritíveis.
Do nada, o assassino retomou a compostura e seguiu para o outro amontoado à direita de Joice, esmagando o coração de Daniel que por acaso estava no trajeto como se fosse uma laranja podre. Com certa lentidão, removeu o tecido que envolvia o novo alvo daquele amaldiçoado lugar, revelando uma figura feminina presa tanto no chão quanto no teto por correntes e ganchos nos pulsos e tornozelos. Era uma jovem de fisionomia agradável portando óculos, com um magnífico cabelo cacheado castanho cuja extensão chegava até abaixo da cintura. Uma estranho aparato metálico estava preso em torno de sua testa e pescoço, impedindo-a totalmente de mover a cabeça. As coxas fartas, assim como boa parte do corpo, estavam expostas já que a mesma trajava apenas calcinha e sutiã róseos. Joice também reconheceu de imediato, pois a aparência dela era fácil e gostosa de lembrar.
- Júlia..! - murmurou a carioca ao encarar os olhos aterrorizados da garota outrora sempre sorridente e animada. - É você...? Mas por quê...?
A gaúcha apenas grunhiu algo parecido com "Joy?!" em resposta, pois estava a mordaça com uma argola entre os dentes e lábios a impedia de falar... Ou gritar. O maníaco logo se aproximou dela, rodeando o corpo semi nu como um predador avaliando sua presa. A tensão no ar era quase palpável a cada volta que ele fazia se aproximando mais e mais de Julia que, assim como Joice, temeu um abuso sexual iminente. Especialmente porque o desconhecido parou bem atrás dela, olhando de modo assustador para Joice enquanto a iluminação sobre ambos ficava como quando Daniel fora brutalizado. Suspensa e acorrentada como estava, reagir estava fora de cogitação.
Com movimentos céleres e bruscos, o indivíduo pegou aquela longa cabeleira, torceu e enrodilhou-a no pescoço da garota. Depois, começou a puxar tenazmente para trás enquanto apoiava a coluna dela com um dos seus joelhos. Ele a asfixiava quase ao ponto do desmaio, esperava ela recuperar o fôlego e tornava a tirar-lhe o ar. Fez isso até a pele alva da gaúcha ficar arroxeada. Depois disso começou a puxar seus cabelos até arrancar tufos e mais tufos do mesmo, ferindo bastante o couro cabeludo dela. A seguir quebrou cada um de seus dedos e rasgou o espaço entre eles aos puxões, fazendo-a berrar e chorar. E fez tudo isso olhando e sorrindo para Joice.
O. Tempo. Inteiro.
Uma mistura de pânico e ódio tomava conta da carioca enquanto teimava em não desviar o olhar dos olhos abissais daquele louco. A união desses dois sentimento era a anestesia perfeita para que ela continuasse a se machucar ocultamente por debaixo do pano. Precisava soltar as mãos. Lamentou profundamente pela garota à sua frente, mas não podia ajudá-la sem se ajudar primeiro. O rigor e a urgência da situação não a permitiam questionar o motivo delas e do paulista estarem ali. Só pensava em uma coisa: se soltar.
Mesmo que isso infelizmente fosse custar mais sofrimento para a pobre Júlia.
Após destroçar o último dedo da jovem dependurada, o abominável anfitrião recuou de volta ás sombras e deixou uma chorosa e terrivelmente angustiada gaúcha saborear a dor inédita que sentia enquanto pegava dois itens verdadeiramente especiais na escuridão. Quando regressou, ele estava portando uma espécie de liquidificador modificado em uma mão e... Uma gata branca e preta na outra. A bichana se movia de modo letárgico, inofensivo enquanto o homem a segurava pela cauda. O coração de sua dona pareceu parar no peito e ela até esqueceu da dor homérica que a acometia.
Aquela era sua pet! A tinha desde pequena, cresceram juntas! Era sua melhor amiga, sua companheira de todos os dias e momentos! Era... Era...!
Julia arregalou os olhos ao máximo e começou a se debateu como nunca o fizera na vida antes quando o maníaco com máscara de Diabo dispôs o aparelho no chão empoeirado, removeu a coleira da felina e com todo o cuidado, guardou-a no bolso e colocou o animal dentro do copo do estranho liquidificador, rosqueando a tampa do mesmo enquanto encarava a gaúcha com o mais hediondo dos olhares. Joice também estava horrorizada em um novo nível com mais uma prova clara de que não havia limites para a insanidade, a crueldade ou a imaginação doentia de seu sequestrador.
A garota de óculos chorava e berrava; mesmo com a mordaça era possível entender que ela estava suplicando para que aquele louco não fizesse aquilo. Todavia, ele pareceu sorrir ainda mais quando pressionou o botão vermelho das hélices, que rotacionaram de modo barulhento e grotesco conforme trituravam a pobre quadrúpede ao ponto da liquefação de forma gradual. Os urros de dor da pet se misturaram com o prantear frenético de Julia conforme a gata se transformava em uma mistura asquerosa de sangue e pêlos do modo mais doloroso possível.
Quando não existia mais o que ser destruido, o homem vestido de preto desligou o liquidificador sob os xingamentos coléricos e abafados de Júlia, removeu o copo do mesmo e caminhou de modo lento até a garota acorrentada. Foi então que, perante o olhar choroso e cada vez mais em choque de Joice, o algoz delas puxou brutalmente o que restara da cabeleira da gaúcha para trás e foi despejando aos poucos o que um dia foi a gata favorita dela pelo aro da mordaça. O líquido foi descendo goela abaixo e imediatamente Julia vomitou. Sempre rindo, ele terminou por banhá-la com os restos mortais liquifeitos da pet e tacou o copo na face dela, partindo-lhe o nariz e os óculos no processo.
Nunca satisfeito, o mascarado retirou a coleira do falecido bichano de seu bolso e começou a golpear animalescamente Júlia com ele como se fosse uma chibata. Nesta hora a iluminação de todo o cativeiro começou a falhar de modo célere e caótico, como que gerando o mesmo efeito que um aparelho Strover em uma balada. No entanto, o único mix de sons no recinto era o dos silvos de couro com esguichar carmesim no piso imundo, gritos de dor e o ranger dos elos das correntes conforme a gaúcha se debatia a cada lapada que lhe arrancava pele, sangue, lágrimas e urros.
Joice assistia àquela atrocidade surreal com o coração desesperado, ignorando por completo a intensa dor que sentia conforme rasgava cada vez mais o dorso das mãos nas tiras que a prendiam. Estava quase conseguindo se soltar: o sangramento estava ajudando no processo. Faltava pouco. Faltava tão pouco...!
De repente, tudo voltou ao "normal" e a carioca foi brindada com a visão do corpo de Júlia coberto de vergões e talhos escarlates, especialmente nas coxas grossas e nas nádegas. A coleira na mão do maníaco estava completamenta da cor das feridas, chegando a gotejar tanto quanto o corpo lanhado de vítima, que resfolegava aos prantos enquanto sentia o conteúdo do liquidificador escorrendo e penetrando nas lesões. O grau de sadismo ao qual estava sendo acometida era simplesmente inumano demais. O mais genuíno desespero e pesar retalhavam seu âmago tanto ou mais do que a coleira fizera a pouco.
O torturador, por outro lado, não demonstrava quaisquer sinais de cansaço quando largou o objeto em suas mãos, assumiu uma posição de luta que lembrava a do Muay Thai e iniciou uma sessão de espancamento lenta e brutal, fazendo de Julia seu saco de pancadas feita de carne e ossos. Foram socos, chutes, joelhadas, cotoveladas e caneladas cujos baques estrondavam no local e a fazia cuspir ora sangue, ora bile estomacal. E graças ao treinamento em artes marciais que ela possuía, seu corpo suportou bem mais do que uma pessoa normal aguentaria. E o maníaco parecia saber de tal fato prévio, pois diferente do açoitamento, seus golpes eram precisos.
Violenta e sadicamente precisos, para ser exato.
Ele parou no exato momento em que Joice grunhiu um senhor palavrão ao finalmente libertar uma das mãos, ao custo de uma bela tira do membro em questão. A carioca tentava ignorar o massacre de Julia enquanto muito, muito sorrateiramente movia a outra correia que prendia seu outro pulso de modo a facilitar o segundo esfolamento que a deixaria com ambas as mãos livres. Já Júlia estava imersa em tanta dor e indignação que sequer cogitava uma fuga ou resgate. Mil lembranças iam e vinham em sua mente atribulada a cada novo golpe que recebia, assim como uma única pergunta: por quê?
Por quê?!
O sádico com máscara de Diabo subitamente parou, fazendo com que Joice o imitasse com o coração gelando no processo. Ele desfez a postura de luta e voltou a caminhar para as trevas, rumo á mesa, balcão ou fosse lá onde estavam suas malditas coisas. A jovem do Rio não desperdiçou a chance e soltou a outra mão, igualmente em carne viva. Ouvia os barulhos vindos da escuridão: era como se o sequestrador revirasse tudo em busca de algo apropriado para satisfazer seus desejos sombrios. Os olhos de ambas as garotas se encontraram novamente, mas os de Júlia estavam perdidos em seu próprio sofrimento e desespero. Ela era tão nova, cheia de vida e desejo de viver... E estava sendo assassinada aos poucos ali, na sujeira e no escuro por um maluco com máscara e sorriso diabólicos.
Silêncio e passos nas sombras. Joice imóvel. Júlia arfando e delirando de dor e ódio. O maníaco voltou... Com uma Glock em uma mão e um pente de munição na outra. A arma foi carregada de modo corriqueiro e apontada para a gaúcha vagarosamente. As luzes falharam um pouco mais. A mira foi feita. O coração da carioca disparou junto com a arma. Vários tiros. Cadência lenta. Pés. Canelas. Joelhos. Coxas. Treze perfurações. Nenhuma fatal. Mais sangue. Mais dor. O mesmo sorriso. Munição conferida. Um tiro sobrando. Cabeça gaúcha na alça de mira. Mudança de planos. Arma descartada. Um balde foi apanhado. Um último banho em Júlia. Gasolina. Ardor das feridas. Um fósforo riscado. O ardor das chamas. O último grito. Toda a dor. Toda...
Todas as luzes do cativeiro se apagaram, fazendo com que o cadáver de Júlia se tornasse a única fonte de iluminação do lugar. O assassino parecia encantado com a cremação, permanecendo parado diante da pira humana enquanto aspirava a fumaça como se o odor de carne queimada fosse o melhor aroma do mundo e esmurrava novamente o corpo da garota. Ouviu algo além do estalar de carne humana no fogo e virou-se devagar, na direção onde Joice deveria estar presa, já antecipando em sua mente doente tudo o que faria com ela. Contudo, a carioca não estava na poltrona e sim correndo como uma maldita maratonista olímpica na direção onde a Glock havia sido jogada minutos antes!
Mesmo tão apavorada, Joice contou os tiros; ela conhecia bastante desse tipo de assunto. Sabia que tinha ou uma ou duas munições ali dentro, pois durante o movimento de conferência feito pelo desgraçado, ela conseguiu vislumbrar o brilho dourado de uma cápsula no carregador. Aproveitou o curto momento em que o desgraçado se distraiu para soltar os tornozelos e correu vertiginosamente. A carioca ouviu o som de cuturnos atrás dela enquanto se jogava no chão, evitando assim ser atingida por um par de adagas que passaram zunindo por suas costas. Caiu bem em cima da pistola, machucando-se um pouco e sem dar a mínima para aquilo. O maníaco já estava praticamente sobre a jovem quando ela se virou empunhando a Glock, berrou "vá pro Inferno seu filho da puta!" e apertou o gatilho com a arma voltada de modo perfeito para o doente mental que a atacara.
O estrondo que ecoou na penumbra do terrível cativeiro assombraria Joice pelo resto de sua vida.