1 de Outubro, Academia de Contos – ST

Estávamos estudando na biblioteca quando um estrondo vindo de fora quebrou o total silêncio do lugar. Da janela que dava para o jardim pudemos ver uma árvore caída. Tudo me pareceu muito estranho, mas as pessoas ao meu redor não pareciam abaladas. Ouvi uma menina sussurrar que a maldição havia se iniciado, mas até agora não sei do que ela estava falando. Tentei perguntar, mas ninguém me respondeu. Nem mesmo os administradores do campus quiseram me receber. Tudo que obtive foi um: “Não tem nada de errado! Apenas volte para os seus estudos.” Vindo da secretária do Diretor geral. Talvez eu esteja exagerando um pouco. Foi só uma árvore, certo?

10 de Outubro, Academia da Catástrofe – ST

As coisas continuam estranhas. Acho que fechei mais portas do que abri; liguei as luzes mais do que desliguei e desliguei o rádio mais do que liguei. Perdi a conta de quantos pássaros morreram por esbarrarem na minha janela e as coisas só pioraram quando encontramos centenas de corvos mortos no campo de futebol. Foi a visão mais aterrorizante da minha vida. Os animais estavam com os pescoços quebrados, as assas arrancadas e os bicos tortos, isso sem falar em todo aquele sangue e cheiro de enxofre. Se estivéssemos em um filme de terror, essa seria a hora que todos chorariam e correriam para salvar suas vidas, mas como não estamos, todos permaneceram calmos e voltaram para suas rotinas, ignorando completamente o estados assustador do campo. E eu, mais uma vez, acabei seguindo o fluxo.

20 de Outubro, Academia do Caos – ST

Hoje ouvi as paredes sussurrem meu nome. Elas queriam brincar, mas eu não sabia como, então as ignorei e elas ficaram bravas. Agora tudo está silencioso, mas minutos atrás elas gritavam e diziam que estavam com fome. Acho que alguém deve ter arrumado uma forma de alimentá-las. O que será que paredes comem? Cimento? Tijolos? Pessoas? Vindo desse lugar macabro eu não duvido de mais nada. Outro dia mesmo tive a impressão de ter visto o diretor jogar alguns dedos na lareira. Será que eles são melhores do que madeira? Tá aí, acho que vou testar essa teoria algum dia. Eu estou enlouquecendo! Preciso arrumar um jeito de sair desse lugar. Isso não é uma escola, é um hospício e eu estou quase me tornando um dos pacientes!

30 de Outubro, Academia da Carnificina – ST

Um professor de química perdeu a pele na minha frente hoje. Ouvi dizer que uma aluna do último ano foi – literalmente – virada do avesso. Acho até que disseram alguma coisa sobre o time de natação e o seu último mergulho em águas ácidas, mas não sei ao certo se foi isso mesmo. Na verdade, não sei mais o que é verdade e o que é ilusão! Em um dia meu reflexo tentou me enforcar e no outro ele estava sorrindo e me convidando para um chá. Tudo está realmente muito confuso, mas está acabando finalmente! Só mais um dia e tudo vai voltar ao normal. As pessoas vão parar de se mutilar e eu vou parar de me “acidentar”. Tudo vai dar certo! Pensamento positivo!

Ps: Ouça apenas os seus pensamentos e não os daqueles que se infiltraram em você!

31 de Outubro, Academia da Chacina – ST

Estamos todos mortos, mas ninguém realmente morreu. Acho que existe um campo invisível aqui na escola que nos permite viver eternamente ou algo assim. Eu quebrei o pescoço de um cara duas vezes, mas ele continuou vindo em minha direção e só parou quando conseguiu comer uma parte do meu cérebro. É estranho, por que eu não senti dor, pelo contrário, senti um alívio maravilhoso. Creio que ele tenha comido a parte de mim que era mais paranoica; o meu resto lógico. Agora eu finalmente me sinto em casa! As paredes ensanguentadas me parecem tão normais quanto o tapete de carne de corvo e as “abóboras” de cabeça humana.

01 de Novembro, Academia de Contos – ST

Meia-noite. A árvore caída voltou a erguer-se. A decoração macabra voltou a ser monótona e monocromática. Meu reflexo não tentou mais nenhuma graçinha. Não ouvi mais nenhuma voz na minha cabeça além da minha. Nenhum pássaro chegou perto da minha janela ou de qualquer outra. Nada de morto-vivo comedor de cérebros nos corredores. O mês do Halloween passou tão rápido que eu nem senti.