Apesar de ser dia, o céu acima do Bosque das Flores estava tomado pela mais profunda escuridão, prenunciando a chegada de uma forte chuva. Catharina encontrava-se dentro de sua cabana preparando um chá. De costas para o seu convidado, a mulher preparava a bebida como se estivesse realizando um ritual. Após posicionar a xícara branca sobre o pires, ela retirou um recipiente metálico de dentro do fogão a lenha cuidadosamente e removeu o infusor de dentro do mesmo. Assim, ela despejou o líquido avermelhado dentro da porcelana alva, preenchendo-a. Ela finalizou colocando um torrão de açúcar. Catharina respirou fundo e se virou, levando a bebida quente para o homem de cabelos negros que estava sentado em uma das poltronas da sala.
— Você queira imaginar a minha surpresa quando recebi sua carta me dizendo para vir até aqui. — Declarou a voz masculina cheia de entusiasmo, enquanto esticava os braços para pegar a xícara.
— Ah, Draco! — Exclamou a mulher, que observava com certa satisfação ele virar a porcelana, enquanto ingeria todo o líquido. — Senti sua falta até meu último fio de cabelo.
— Eu sei… — Falou Gutemberg com satisfação, colocando a xícara sobre a pequena mesa de centro. — Ninguém te fudeu como eu, não é mesmo?
O homem soltou uma risada quase primitiva, como se houvesse alcançado o auge de seu júbilo. A jovem de cabelos negros sorriu forçadamente e se sentou na poltrona do outro lado da sala. Apesar do escândalo de euforia vergonhoso do duque e das fortes gotas da chuva que começavam a cair, Catharina conseguia ouvir com clareza a própria respiração levemente ofegante por conta da ansiedade que começava a consumi-la. Contudo, a sua ânsia em executar seu plano não superava a sua concentração em mantê-lo oculto até o último segundo.
— Então — Começou Draco, após se acalmar. — A minha semente gerou uma criança… Mas, você sabe, eu não posso assumir o filho de uma puta. Você deve arrumar uma maneira de interromper a gravidez. Uma surra, talvez…
Por alguns segundos, o coração de Catharina foi preenchido pelo mais puro pavor, porém, ela se lembrou das palavras de encorajamento de Diablair e encarou com nojo a feição de Gutemberg, que enumerava os mais diversificados métodos para acabar com a vida de seu filho. Foi então que ela percebeu que as veias do homem estavam tomando uma coloração arroxeada e sua pele estava mais pálida que o normal. Catharina se levantou abruptamente, soltando uma risada maligna tão embargada de regozijo, que fez o duque se calar.
— O teatro acabou. — Declarou Catarina, histérica. — E a sua vida, também.
Gutemberg começou a sentir sua garganta se fechando, como se alguém o estivesse sufocando por dentro. Desesperado em busca de ar, ele jogou seu corpo para frente, caindo da poltrona. A mulher, que estava dançando como uma ninfa da floresta, parou com a coreografia quando encarou o corpo agonizando no chão. Com um olhar que transbordava desprezo e um tom de voz arrogante, ela disse:
— Patético!
O estado deplorável do homem apenas aumentava. Seu estômago parecia estar sendo usado de cabo de guerra por duas crianças e seu nariz insistia em fazê-lo inalar o cheiro pútrido que parecia sair de seu próprio corpo. De repente, diversas baratas começaram a sair das narinas de Gutemberg, assim como diversas aranhas começavam a adentrar seus ouvidos. No entanto, isso não parecia ser pior do que o grande animal que ele sentia que se movimentava dentro de sua barriga. Ele conseguiu forças para virar o corpo de barriga para baixo com o intuito de findar com a vida do animal e com o seu sofrimento, mas já era tarde demais: a ratazana enorme já se encaminhava até o orifício anal do homem com o objetivo de se livrar de sua prisão. Assim que ela rasgou com violência tanto o ânus quanto a roupa de Gutemberg, Catharina começou uma intensa salva de palmas, o que pareceu incentivar o animal a se vingar do homem. O rosto de Draco estava virado para o lado e colado no chão, quando a ratazana começou a comer seus globos oculares. Ele soltava gemidos de dor, porém não possuía forças para gritar ou se debater. Aquele era o tipo de morte que um canalha como ele merecia: sentir cada centímetro de dor, sem poder fazer nada para impedi-la ou cessá-la.
Catharina se deleitava com a situação e, sabendo que Gutemberg estava impedido de morrer pelas próximas 48h por conta do chá de Pu-erh¹ e que a situação deplorável do homem apenas pioraria, ela olhou pelo vidro da janela e disse com tranquilidade:
— Depois da chuva, Diablair virá expurgar essa bagunça até o sétimo inferno.
Após acariciar sua barriga e deixar tais palavras jogadas no ar, a mulher foi até a cozinha e passou a selecionar algumas ervas para fazer um chá que não estivesse envenenado com tripas de demônios que haviam sido contaminados com hipocrisia angelical.
— A vingança — Concluiu Catharina colocando a água para ferver, enquanto Draco agonizava no fundo. — É um chá que deve ser tomado quente e com açúcar.