Antes de haver qualquer coisa
Havia a Escuridão.
A carruagem cortava a noite com rapidez, sem emitir qualquer barulho. Parecia flutuar o suficiente para que suas rodas não tocassem o chão. Não haviam cavalos ou cocheiros, apenas quatro jovens animados e ansiosos.
—Tenho que admitir, Blake, foi uma ótima ideia pedir para a Ternura encantar a carruagem. — Imperatriz comentou, batendo palmas.
— Meu namorado é mesmo incrível! — Tortura completou, beijando o rosto de Blake.
— Acho que vou vomitar! — Brincou Damon, fazendo careta.
Os dois casais eram inseparáveis, o que era um pesadelo para o temível líder das Hordas Infernais, Diablair. Desde o momento que Tortura e Blake se conheceram, e que a Imperatriz começou a ajudar sua afilhada a encontrar o Hunter, a fúria maligna de Diablair pairava pela mansão. O que não era de muita ajuda, já que suas sobrinhas sempre lhe passavam a perna e fugiam, com a ajuda do namorado vampiro da Imperatriz, para a casa de Blake.
Naquela noite não foi diferente, as meninas fugiram da mansão sem serem percebidas. O diferencial, é que o destino não era a casa do Hunter, mas sim o circo. Os quatro estavam bem vestidos e perfumados. Tortura usava um vestido verde água que ia até os joelhos, com decote em v profundo e alças bem fininhas, escondidas pelos longos cabelos soltos. Imperatriz usava um vestido roxo mais curto, com mangas longas flare. Ela tinha várias trancinhas no cabelo e usava um batom extremamente preto, que fazia uma bela dupla com suas botas de cano alto.
Os meninos, por sua vez, estavam bem parecidos, como se tivessem combinando o visual. Blake usava uma jaqueta de couro em tons terroso, uma camisa verde musgo, jeans preto e botas Oxford marrom escuro. Damon estava com uma jaqueta preta, camisa cinza, jeans escuro e coturnos pretos. Eram o que se chamava de bad boys.
A viagem seguiu tranquilamente, sem maiores dificuldades, até o destino final: Circo do Bosque. Um dia antes daquela noite, a jovem Imperatriz encontrou exatamente quatro convites para o espetáculo. Eles estavam jogados pelo caminho entre a mansão de Diablar e a casa de Blake. Tortura a fez acreditar que aquilo era obra do Destino.
Os quatro saltaram da carruagem quase que ao mesmo tempo, admirando a beleza daquele jardim carmesim cercado por espinhos tão grandes quanto pardais. A luz da lua iluminava um estreito caminho por entre as flores, que levava direto para dentro da tenta escura.
— Estou tão ansiosa!
Imperatriz era, de longe, a mais animada com tudo aquilo. Ela amava coisas macabras e tinha altas expectativas acerca do evento daquela noite. Não que tivesse algo contra a casa do Hunter, mas já estaca cansada de bolar planos de fuga apenas fara ficar assistindo os meninos jogarem xadrez ou qualquer outro jogo mental. Aquela noite seria épica, ela podia sentir!
Os quatro precisaram fazer fila indiana para seguir o caminho das flores. Umas quatro ou cinco pessoas seguiam na frente deles, elas era bem estranhas e pareciam ser bem velhas. Antes de chegarem de fato ao circo, um homem velho, com a barba por fazer, roupas monocromáticas que lembrava muito um bobo da corte e um olho com orbes em espiral, os parou para exigir os convites.
Ele lançou um sorriso tenebroso para os quatro jovens, como se algo extremamente doentio pairasse em sua mente, mas o fato nem sequer foi notado. Ao verificar que eles realmente possuíam convites verdadeiros, o velho liberou a passagem.
— Espero que apreciem o show. Lorde Gaston certamente o fará.
Damon foi o único que ouviu o que o homem falou, pois seus amigos estavam muito empolgados para notar qualquer coisa que não fosse a tenda. O vampiro pensou em questionar, mas, quando se virou, o velho já não estava mais por perto.
A tenda era extremamente simples. O picadeiro era formado por pedras de tamanho médio. Cadeiras de madeira formava uma meia lua em frente ao picadeiro. O chão era de areia e a iluminação vinha de tochas posicionadas estrategicamente, fazendo com que apenas a parte do picadeiro ficasse iluminada.
O quarteto se acomodou nas quatro cadeiras restantes, que ficavam bem de frente para o centro do picadeiro, os fazendo acreditar que aquele não era um simples show, que era um espetáculo criado apenas para convidados. Eles acreditaram que era por esse motivo que haviam apenas pessoas mais velhas lá. O xadrez de sempre começava a fazer falta na mente de Blake e Damon. Os sentidos de Tortura alertava para um possível perigo, mas eles não recuariam.
Assim que estavam devidamente acomodados, com as meninas no meio e os meninos um em cada ponta, um feche de luz iluminou ainda mais o centro do picadeiro e, de lá, surgiu o apresentador, que trajava uma cartola vermelha com detalhes pretos, casaco e calças igualmente vermelhos e botas pretas que chegavam até o joelho. Nas mãos, no lugar de um bastão, o homem segurava três longas cordas, que seguiam até a parte escura da tenda.
— Respeitável público. — Começou ele, fazendo reverencia. — Sejam muito bem vindos ao Circo do Bosque!
Os aplausos eram entusiasmados, fazendo os quatro jovens acreditarem ainda mais que eram os únicos que não sabiam o que realmente estava por vir.
— Nesta noite — continuou o apresentador —, estaremos mostrando o triste destino que alguns deste mundo levam.
A cada palavra, os espectadores, com exceção do quarteto Infernal, aplaudiam e vibravam ainda mais. Blake começou a ficar incomodado e sugeriu para que fossem embora, mas as meninas se recusavam a sair dali antes de descobrirem o que estava acontecendo.
O apresentador então se aproximou de uma senhora de cabelos brancos, robusta, que usava um vestido aprertado além da conta. Ele esticou a mão e pediu para que a mulher escolhesse uma das cordas. Ela o fez, puxando com violência. Um som oco foi ouvido e uma figura pequena pode ser vista no picadeiro. O apresentador logo tratou de agradecer a ajuda e seguir para o lado da figura encapuzada.
— Vocês estão preparados?
— SIM! — A plateia urrou.